Caira Queiroz – Acadêmica do 5° semestre de R.I. da UNAMA

Uma das figuras afro-americanas mais influentes do século XX, Maya Angelou foi uma escritora, poeta e ativista norte-americana que se destacou por sua trajetória de luta pelos direitos civis e das mulheres e pela forma única como usou sua arte para dar voz às minorias, deixando um legado de luta contra o racismo. Com sua escrita enriquecedora e discursos inspiradores, tornou-se um ícone da literatura e da resistência negra nos Estados Unidos e no mundo.

Marguerite Annie Johnson, conhecida como Maya Angelou, nasceu em St. Louis, Missouri, em 1928. Criada no sul dos Estados Unidos, viveu uma infância marcada por desafios e traumas que moldaram sua visão de mundo e sua escrita. Ainda jovem, enfrentou o racismo estrutural da sociedade americana, onde a segregação era muito forte, e passou por experiências dolorosas (abusos e contextos violentos) que a levaram a um período de 5 anos de silêncio (PORTUGUES, S.D.).

No entanto, foi por meio da literatura e da poesia que encontrou sua voz. Nesse longo período de silêncio, Maya se dedicou ao amor pela literatura, e durante esse tempo, a senhora Flowers, amiga da família, foi essencial para que a garota voltasse a falar e lhe apresentasse grandes autores literários que seriam importantes no desenvolvimento de sua escrita, até torná-la em uma referência incontestável na luta por justiça e igualdade através da literatura (AIDAR, 2024). 

Maya teve uma vida multifacetada. Estudou na George Washington High School, em São Francisco, dança e teatro na California Labor School. Ainda adolescente, deu à luz seu único filho, o também escritor Guy Johnson. Para sustentá-lo, trabalhou como dançarina, cantora e atriz antes de se consolidar como escritora (SOUSA, S.D.). Depois de ser uma literata bem-sucedida, Maya também se destacou com sua carreira como atriz, como em 1973, ano em que foi indicada ao Tony, o Oscar do teatro, por seu papel na peça Look Away.  (GALILEU, 2018).

Nos anos 1960, envolveu-se em diversos projetos artísticos, em especial a peça “Porgy and Bess”, que percorreu mais de vinte países na Europa, e envolveu-se ativamente também no movimento dos direitos civis, trabalhando ao lado de Martin Luther King Jr. e Malcolm X, onde conheceu pessoas outras importantíssimas do movimento negro, como James Baldwin, Nelson Mandela e o sul-africano Vusumzi Make (AIDAR, 2024). 

Ainda na década de 60, seu ativismo internacional também a levou a viver em Gana, onde fez parte da separação africana que buscava a reconexão com suas raízes e a construção de um novo pensamento político e cultural para os afrodescendentes. Lá exerceu a profissão de jornalista e professora na Escola de Música e Arte Dramática da Universidade de Gana (PORTUGUÊS, S.D.).

Sua ascensão literária se deu pela publicação de I Know Why the Caged Bird Sings (1969), sua autobiografia que se tornou um marco da literatura americana. A obra trouxe um relato profundo sobre racismo, abuso e superação, abrindo caminho para uma nova forma de narrativa, que combinava memória pessoal e crítica social. Essa obra lhe rendeu a indicação em um importante prêmio literário em 1974, e a partir de então publicou mais seis autobiografias (AIDAR, 2024).

Versátil e multitalentosa, seu legado continuou com a publicação de diversos outros livros, poemas e discursos que influenciaram gerações, sendo convidada a participar de comissões de cultura e trabalhos na televisão e cinema. Na década de 70 foi indicada ao Emmy, continuou envolvida em causas políticas e foi professora de Estudos Americanos na Wake Forest University (SOUSA, S.D.).

Em 1993, Maya Angelou fez história ao recitar o poema On the Pulse of Morning na posse do presidente Bill Clinton, tornando-se a primeira mulher negra a receber tal honra. Sua voz inconfundível, sua poesia carregada de significado e sua presença imponente a transformaram em um símbolo da resiliência e da dignidade. Até sua morte, em 2014, Maya seguiu inspirando o mundo com sua sabedoria e sua capacidade de transformar a dor em arte (LÓPEZ. 2018).

A trajetória de Maya Angelou pode ser analisada à luz da Teoria do Pós-Colonialismo, especialmente na perspectiva de Edward Said e Frantz Fanon. O Pós-Colonialismo estuda os impactos do colonialismo e do racismo estrutural nas identidades culturais e políticas das nações e dos indivíduos marginalizados (SABINO, 2023). Maya Angelou, ao relatar suas experiências como mulher negra nos Estados Unidos, contribuiu para a desconstrução das narrativas eurocêntricas e para a valorização das vozes historicamente silenciadas.

Edward Said, em Orientalismo, argumenta que o Ocidente construiu imagens estereotipadas e reducionistas sobre o “outro” colonizado (THE EDITORS OF ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2025). Da mesma forma, Maya Angelou combateu essas representações ao narrar sua própria história com autenticidade e empoderamento. Já Frantz Fanon, em Pele Negra, Máscaras Brancas, explora os efeitos psicológicos do racismo e a luta dos povos oprimidos por reconhecimento (MAESTROVIRTUALE.COM S.D.). Maya exemplifica essa resistência ao ressignificar sua identidade e transformar sua dor em um manifesto de liberdade.

Sua obra e sua vida são testemunhos do poder da palavra na luta contra as opressões. Como defensora da justiça social, Maya Angelou se tornou um símbolo do empoderamento negro e da reescrita da história a partir da perspectiva dos marginalizados. Sua influência permanece viva, ecoando na literatura, no ativismo e na construção de um mundo mais igualitário.

REFERÊNCIAS

AIDAR, Laura. Maya Angelou. eBiografia, [data de publicação não disponível]. Disponível em: https://www.ebiografia.com/maya_angelou/. Acesso em: 17 mar. 2025.

ALBERTO LÓPEZ. Maya Angelou, uma vida completa. El País Brasil, 4 abr. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/04/cultura/1522818455_771877.html. Acesso em: 18 mar. 2025.

GALILEU. 7 fatos sobre Maya Angelou, ativista do movimento negro norte-americano. Revista Galileu, 4 abr. 2018. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/04/7-fatos-sobre-maya-angelou-ativista-do-movimento-negro-norte-americano.html. Acesso em: 17 mar. 2025.


MAESTROVIRTUALE.COM. Frantz Fanon: Biografia e Contribuições. Maestrovirtuale.com, [data de publicação não disponível]. Disponível em: https://maestrovirtuale.com/frantz-fanon-biografia-e-contribuicoes/. Acesso em: 16 mar. 2025.

PORTO EDITORA – Edward W. Said na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-18 04:39:36]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$edward-w.-said

PORTUGUÊS.COM.BR. Maya Angelou: biografia, obras, importância, frases. Português.com.br, [data de publicação não disponível]. Disponível em: https://www.portugues.com.br/literatura/maya-angelou.html. Acesso em: 16 mar. 2025.

SABINO, Luíza Wehbe. As teorias pós-coloniais, as teorias decoloniais, suas diferenças e a construção de uma nova forma de pensamento. Desconstrução Diária, 20 mar. 2023. Disponível em: https://desconstrucaodiaria.com/2023/03/20/as-teorias-pos-coloniais-as-teorias-decoloniais-suas-diferencas-e-a-construcao-de-uma-nova-forma-de-pensamento/. Acesso em: 18 mar. 2025

SOUZA, Warley. Maya Angelou; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/maya-angelou.htm. Acesso em 15 de março de 2025.


THE EDITORS OF ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Edward Said. Encyclopaedia Britannica, 1 fev. 2025. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Edward-Said. Acesso em: 16 mar. 2025