
Cristine Oliveira, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais
Ficha técnica:
Ano: 2022
Diretor: Ali Abbasi
Distribuidora: C2 PLAY/ MUBI
Gênero: Suspense
Países de origem: Alemanha/ Dinamarca/ França/ Suécia
Vencedor da categoria “Melhor atriz”, no Festival de Cannes de 2022, “Holy spider” apresenta a trajetória de Rahimi, uma jornalista que investiga o caso do assassino em série conhecido como “Spider killer”, o qual acredita ter a missão de limpar o pecado da cidade de Mashad, no Irã, matando usuárias de drogas e prostitutas. O filme é baseado em eventos reais ocorridos em Mashad, entre os anos 2000 e 2001, e demonstra como o machismo e a misoginia estão presente em diferentes áreas, e de modos distintos na sociedade.
A narrativa inicia com o assassinato de uma mulher, e logo, o espectador é apresentado ao modus operandi do assassino e quais são suas vítimas. Com a finalidade de investigar a fundo esses assassinatos, a jornalista Rahimi se muda para Mashad, no entanto, ela encontra barreiras ao longo da investigação, justamente por ser mulher, e constantemente duvidarem da sua capacidade e intenções. Posteriormente, Saeed, o assassino, é apresentado, um homem religioso, que possui uma esposa, três filhos e trabalha como pedreiro, o típico “cidadão de bem”, agindo sem levantar nenhuma suspeita.
Ao longo da obra, é aterrorizante perceber, o crescimento do apoio popular que o assassino recebe, e o papel exercido pela mídia, ao difundir a justificativa que Saeed apresenta, para tirar a vida de suas vítimas. Para ele, isso é limpar as ruas do pecado, e livrar a cidade sagrada da decadência moral. Devido ao desenvolvimento das movimentações ocorridas na cidade, o caso deixa de ser meramente policial e se torna político, a decisão de condenar ou não o assasino, vai definir a posição do Estado e seus governantes, em relação a vida dessas mulheres, que estão à margem da sociedade.
A partir da abordagem feita na obra cinematográfica, é possível analisá-la a partir da Teoria Feminista das Relações Internacionais. A teórica Cynthia Enloe, em seu livro “Bananas, Beaches and Bases”, questiona onde estão as mulheres no cenário internacional, quais papéis elas desempenham, e como, a invizibilização das mesmas, enquanto agentes internacionais, contribui para a perpetuação do exercício de poder sobre esses corpos. Sendo assim, as diferentes camadas de violência contra mulher, presentes no filme, comprovam as questões discutidas por Enloe.
Dessa forma, conclui-se que, “Holy spider”, levanta questionamentos importantes sobre a atuação do Estado e da sociedade patriarcal, na vida das mulheres, assim como, a invizibilização dessas questões enquanto pautas das Relações Internacionais.
Referências:
ENLOE, Cynthia. Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Politics. 1989.
