Josyane Mendes – acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama

A criação do termo BRIC se atribui à Jim O’neill, economista chefe da Goldman Sachs, que elaborou “o conceito” no relatório intitulado “Building Better Global Economic”, no qual apontou as economias dos quatro integrantes iniciais como emergentes no contexto internacional, classificando-os como excelentes mercados para investimentos. Segundo Branco, (2015, pág.12), “em 2001, quando a economia global passava por uma suave recessão, foi lançada a sigla BRIC para designar um grupo de países de grande população-cerca de 42% da população mundial-e supostamente alto potencial de crescimento econômico no longo prazo, sendo: Brasil, Rússia, Índia e China”.

O BRICS não é um bloco econômico ou político, sua característica é de grupo que busca “acordos para cooperação”, com o objetivo de crescimento econômico dos países ditos emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Dessa forma, não possui um tratado, sede própria, moeda comum, nem a livre circulação de mercadorias é permitida, o que lhe daria característica de bloco econômico. Alguns estudiosos consideram esse tipo de cooperação, como uma forma de contornar a hegemonia de potências econômicas ocidentais, como EUA e Reino Unido. (BRANCO, 2015)

Dotados de consideráveis heterogeneidades entre seus componentes , a integração das economias dos BRICS se iniciou com a dicotomia no canal comercial tendo o Brasil, África do Sul e Rússia como exportadores de commodities e, China e Índia como importadores dessas matérias-primas. Atualmente, os produtos comercializados entre os países membros são diversificados : o Brasil exporta para a China produtos alimentícios e animais vivos, em contrapartida, a China vende para o Brasil equipamentos de telecomunicações, adubos, fertilizantes, herbicidas e semelhantes, por exemplo.

A institucionalização desse grupo ocorreu em 2009, que passou a ter reuniões anuais de cúpula com a presença de líderes dos quatro integrantes iniciais. A expansão da sigla para BRICS aconteceu em 2010 com a inclusão formal da África do Sul, apesar de sua economia ser inferior a dos outros participantes. Durante seu processo de evolução, a reunião de cúpula de 2014 no Brasil, concretizou-se a institucionalização nas relações financeiras com a consecução de dois instrumentos: Acordo de Reserva de Contingência (com cifras de US$100 bilhões de dólares) e o Banco do BRICS (New Developement Banking) com capital inicial de US$ 50 bilhões.

Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro recebeu a cúpula do BRICS numa versão reduzida, rompendo com uma tradição iniciada em 2013, de convidar outras nações para as reuniões do grupo. Segundo o Itamaraty, o presidente brasileiro viu na exclusão de outros países, uma forma de fortalecer a cooperação do grupo. Em realidade, o comportamento do líder brasileiro foi uma clara atitude da prática de seu pragmatismo político e de alinhamento aos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump. O que afastou o projeto de cooperação inicialmente proposto pelo grupo, como consequência da visão ocidentalizada da economia mundial, por parte dos países da América do Sul.

Diante da postura de Jair Bolsonaro, o economista Jim O’neill disse que se orgulha do BRICS enquanto grupo de cooperação econômica, mas defendeu que os integrantes busquem soluções  para problemas  em comum, saindo do âmbito dosimbolismo. “Apesar da decepção com o Brasil e Rússia, (que foi considerável),se você olhar para o agregado, o desenvolvimento dos BRIC aconteceu com a China, o que eu imaginava. A Índia também está perto do que eu imaginava, mas Brasil e Rússia, particularmente na última década, decepcionaram” (BBC NEWS, 2019).

O atual presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, no entanto, está agindo para mudar esse cenário de estagnação econômica do BRICS . Nesse sentido, o presidente brasileiro nomeou Dilma Rousseff para a presidência do Banco do BRICS,num mandato que se estenderá até 2025. A nova presidenta aprovou a divisão do capital subscrito do banco, cabendo US$ 10 bilhões para cada membro, como estratégia para evitar a dependência do capital estrangeiro. Dessa forma, a aprovação de Dilma Rousseff para o comando do banco, revela a confiança dos outros líderes do grupo nas intenções do presidente brasileiro de retomar o crescimento econômico da América do Sul, o que tem despertado o desejo de outros países de integrar o BRICS, dada a grande expectativa de se obter um mercado comum, partilhado e progresso igualitário.

REFERÊNCIAS

BRANCO, Roberto Castello. Os BRICS: oportunidades e desafios: FGV crescimento, Janeiro,2015. FGV, 2015.Disponível em:<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/14087/Os_Brics_Op ortunidades_e_Desafios.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 04 junho,2023;

SILVA, Rodrigo Cássio Marinho da. Os BRICS: considerações sobre os novos atores globais no século XXI.RARI Artigos, edição n. 3, vol. 1, pág. 22-36; Disponível<em:https://rari.paginas.ufsc.br/files/2013/07/RARI-Artigo-21.pdf&gt;. Acesso em: 04 junho,2023;

BANCO do BRICS : entenda o que é a instituição que passa a ser comandada por Dilma Rousseff, GLOBO,2023. Disponível em:<https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/04/13/banco-do-brics-o-que-e-a- instituicao-que-sera-comandada-por-dilma-rousseff.ghtml>.Acesso em: 04 junho,2023;

BRICS,18 anos: o sobe e desce econômico em três momentos-chave,BBC,2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50405542&gt;.Acesso em: 04 junho,2023;

BRICS são motor de crescimento econômico mundial, diz carregado de negócios da China, BRASIL DEFATO, 2022.Disponível em:< https://www.brasildefato.com.br/2022/06/28/brics-sao-motor-do-crescimento- economico-mundial-diz-encarregado-de-negocios-da-china>. Acesso em: 04 junho,2023;

Países dos BRICS movimentam-se como alternativa ao G7, DW, 2023. Disponível em:<https://www.dw.com/pt-br/pa%C3%ADses-do-brics-movimentam-se-como-alternativa- ao-g7/a-65227865>. Acesso em: 04 junho, 2023;

O discurso de Lula na posse de Dilma Rousseff, no Banco do BRICS,CARTA CAPITAL,2023.Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/o-discurso-de- lula-na-posse-de-dilma-rousseff-no-banco-dos-brics/.Acesso em: 04 junho,2023;

SOB liderança de Bolsonaro, Brasil recebe cúpula do BRICS reduzida e ofuscada por instabilidade no continente, BBC, 2019. Disponível em : https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50387354. Acesso em: 04 junho,2023;