Stefany Louise Campolungo Rodrigues – acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da Unama

No dia de 18 de junho, comemora-se os 115 anos da imigração japonesa no Brasil. Atualmente, a população nipo-brasileira tem em média 1 milhão de pessoas, tornando o Brasil um dos principais países que abriga japoneses e seus descendentes, conhecidos como nikkei. A grande maioria ainda mora em São Paulo, entretanto, Tomé-Açu, no Pará, possui a terceira maior colônia japonesa no Brasil, fazendo com que a cidade tivesse grande influência na produção de pimenta-do-reino. Mas afinal, como essa imigração ocorreu?

     O navio japonês Kasato Maru atracou em Santos, em 1908, trazendo consigo os 781 primeiros japoneses que viriam a ficar no Brasil. Ambos os países, Japão e Brasil, tinham seus próprios interesses: o Brasil necessitava de mão-de-obra nas fazendas de café e Japão precisava aliviar o alto índice demográfico no país. Em 1894, o deputado japonês Tadashi Nemoto, que veio ao Brasil para uma visita, enviou um relatório ao governo dizendo que o Brasil era apto a acolher imigrantes orientais e assim, o processo começou. A grande maioria das pessoas vinham do norte e sul do Japão, de áreas onde a agricultura era abundante.

     No período da Segunda Guerra Mundial, os japoneses tiveram problemas, já que o Brasil apoiava os Aliados e o Japão o Eixo. Por conta disso, a entrada dos japoneses ficou proibida por um período de tempo, e os que ainda moravam no Brasil, sofriam repressões, onde seu idioma e manifestações culturais foram consideradas crimes por Getúlio Vargas. Ainda assim, entre o período de 1918 a 1940, cerca de 160 mil japoneses chegaram ao Brasil para trabalhar.

     A imigração japonesa no Brasil trouxe uma variedade de costumes, só São Paulo conta com a maior comunidade japonesa do país, com o bairro da Liberdade tendo diversas lojas e restaurantes típicos japoneses, que atraem turistas de diversos lugares do mundo, mantendo assim viva a tradição do povo nipo-brasileiro, que contribuiu bastante para o enriquecimento cultural e econômico de ambos países, como por exemplo, a grande variedade de animes, os desenhos animados japoneses, que começaram a ser inseridos nas televisões brasileiras na década de 1960 e se tornaram popular nos anos 2000, fazendo alguns até mesmo fazerem parte da cultura popular brasileira de hoje em dia. Não longe disso, a própria religião budista também foi introduzida pelos japoneses durante os anos de imigração, assim como o uso do bambu em artesanatos e até mesmo o caqui doce começou a ser utilizado na culinária após o período da imigração.

     Para Andrew Linklater (1998), um relato abrangente sobre política mundial requer análises de múltiplas formas de exclusão, seja de classe, raça ou até mesmo fronteiras nacionais. A ideia de comunidade política para o autor vem de onde todos os envolvidos para participar de qualquer posição moral, sendo esta propensa ao questionamento, isso seria uma comunidade dialógica, onde para ele, essa seria uma das melhores soluções para evitar a exclusão e manter os direitos humanos universais. Além disso, os Estados necessitam ser mais tolerantes com a diversificação cultural para a inclusão de ainda mais indivíduos em sua nação. Neste caso, os imigrantes japoneses, além de terem sido excluídos de discussões sociais, tiveram sua cultura criminalizada por aqueles que deveriam protegê-los.

     Por isso, muitos japoneses tentavam regressar ao país de origem por conta do preconceito sofrido, entretanto, muitos eram impedidos pelos fazendeiros por conta de contratos de trabalhos, que eram desfavoráveis aos japoneses, obrigando sua estadia em um contrato quase que abusivo. Alguns, que planejavam ficar temporariamente, decidiram se estabelecer definitivamente no Brasil, assim superando os empecilhos que permeavam por muito tempo.

     É inegável que a imigração japonesa no Brasil trouxe novos elementos para nossa cultura e economia. Mesmo com diversas dificuldades sofridas, o povo nipo-brasileiro soube superá-las e hoje se mantém com uma das culturas mais influentes do Brasil e do mundo, utilizando sempre do Soft Power, com jogos, animes e mangás como método principal para sua influência.

REFERÊNCIAS

SILVA. Railson. Pensamentos Internacionalistas – Teoria Crítica: Cox e Linklater. Disponível em: <https://internacionaldaamazonia.com/2022/11/10/pensamentos-internacionalistas-teoria-critica-cox-e-linklater/&gt;. Acesso em: 12 jun. 2023.

OLIVEIRA. Nayara. 114 anos de Japão no Brasil. Disponível em: <https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/114-anos-de-japao-no-brasil&gt;. Acesso em: 12 jun. 2023.

‌História da imigração japonesa no Brasil. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/noticia/?10/01/2008/historia-da-imigracao-japonesa-no-brasil>. Acesso em: 12 jun. 2023

SILVA, M. A. DE M. Teoria crítica em relações internacionais. Contexto Internacional, v. 27, n. 2, p. 249–282, dez. 2005.

CAROLINA. Maria. A Teoria Cosmopolita de Andrew Linklater. Disponível em: <https://internacionaldaamazonia.com/2019/07/18/a-teoria-cosmopolita-de-andrew-linklater/>. Acesso em: 12 jun. 2023

Tomé-Açu: A terceira maior colônia japonesa no Brasil. Disponível em: <https://redeglobo.globo.com/google/amp/pa/tvliberal/edopara/noticia/tome-acu-a-terceira-maior-colonia-japonesa-no-brasil.ghtml&gt;. Acesso em: 16 jun. 2023.