
Cristine Oliveira, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais
Ficha técnica:
Ano: 2022
Diretor: Ryan Coogler
Distribuidora: Walt Disney Pictures
Gênero: Ação. Aventura.
Países de origem: Estados Unidos
O filme “Pantera negra: Wakanda para sempre”, continuação do sucesso “Pantera negra” de 2018, explora o luto após o falecimento do rei T’Chala, enquanto a rainha Ramonda, lida com a disputa pela exploração do metal vibranium, o qual até então, só era encontrado em Wakanda, ao mesmo tempo que enfrenta as ameaças de Namor, rei de Talokan.
A obra começa mostrando o impacto da morte de T’Chala, não só para sua mãe Ramonda e irmã Shuri, como também para todo o povo Wakandano. Após a exposição de Wakanda para o mundo, e todo o seu potencial tecnológico desenvolvido através do vibranium, outras nações começaram a busca por esse metal precioso em outros territórios, visto que Wakanda não o comercializa. Um ano depois de seu filho falecer, a rainha Ramonda, comparece a uma reunião das Nações Unidas e é alvo de desconfiança dos Estados Unidos e da França, segundo as potências, o país não é confiável, por deter um metal com grande potencial de destruição, consequentemente apresentando uma ameaça ao tratado de não proliferação. A rainha rebate as acusações argumentando que não teme o potencial do metal e sim dos países interessados nele, em seguida, ela expõe a invasão de soldados estadunidenses e franceses, a centros de extensão, em Mali, pertencentes a Wakanda, destacando o caráter imperialista dessas nações.
Em seguida, é revelado que cientistas encontraram vibranium no oceano Atlântico, no entanto, todos foram atacados por um povo subaquático que teme a exploração de seu território. Os talokans foram forçados a se adaptarem a viver nas profundezas do oceano, para fugir da violenta colonização dos espanhóis. Kukulkan ou Namor, líder de Talokan, propõe a união entre Wakanda e Talokan para combater os avanços das potências imperialistas, então, ele sugere que Shuri e Ramonda busquem a tecnologia utilizada pelos cientistas estadunidenses, caso essa parte do acordo não seja cumprida, Namor promete atacar Wakanda. Após Shuri cumprir sua parte do acordo, Namor sugere que as nações se unam para se vingar dos colonizadores, contudo, ela não aceita a proposta e ele decide atacar Wakanda, iniciando uma guerra.
Referente as questões apresentadas no filme, pode-se traçar um paralelo com a Teoria Pós-Colonial das Relações Internacionais. Siba N. Grovogui, professor guineano, destaca a importância de narrativas plurais, enquanto frente ao discurso de narrativa única da colonização. Para o autor, a relação entre conhecimento e poder permite a resistência, desafiando discursos homogeneizantes impostos pelo processo colonizatório, a partir da criação de narrativas alternativas (SILVA, 2023). Dessa forma, é possível notar que mesmo que Wakanda não tenha sido afetada pela colonização, ela ainda é alvo de ataques de potências imperialistas, como Estados Unidos e França, por deter um altíssimo nível tecnológico e não permitir a difusão do mesmo, como forma de evitar a perpetuação da dominação desses países. Além disso, a obra cinematográfica demonstra possibilidade de união entre Wakanda e Talokan, como uma forma de resistência e solidariedade, entre nações impactadas pelo imperialismo e colonialismo.
Vale ressaltar também, a inconsistência em “Pantera Negra: Wakanda para sempre”, ao mesmo tempo que apresenta um discurso contra o imperialismo e a colonização, a narrativa se perde do tema apresentado na primeira parte do filme, e passa a ser um embate entre duas nações alvo, repetindo uma controvérsia apresentada no primeiro filme, que é a vilanização de personagens de caráter revolucionário. Dessa maneira, em “Pantera negra” de 2018, Killmonger é tido como o “antagonista”, já na continuação é Nabor, que assume esse papel. Logo, é importante questionar a configuração dessa narrativa, mesmo que a obra traga uma grande representatividade, ainda assim, é uma produção que carrega em si, ideologias e simbolismos de um país dominante, nesse caso, os Estados Unidos.
Com base nas análises apresentadas, conclui-se que “Pantera negra: Wakanda para sempre”, pode ser interpretado a partir da ótica das Relações Internacionais, trazendo debates necessários como colonização, imperialismo e racismo, para um público abrangente.
Referências:
SILVA, Railson. Pensamentos Internacionalistas – Teoria Pós Colonialista: Siba N. Grovogui. Site Internacional da Amazônia. Disponível em: https://internacionaldaamazonia.com/2023/05/11/pensamentos-internacionalistas-teoria-pos-colonialista-siba-n-grovogui/
