Railson Silva (acadêmico do 5º semestre de RI da UNAMA)

Após o fim da Guerra Fria, no âmbito de discussão das Relações Internacionais, várias teorias tentaram explicar as reverberações da conflitualidade global, enfatizando o aumento de conflitos em vez da diminuição delas (SARFATI, 2005). Dentre essas teorias, uma das mais conhecidas é a do Clash of Civilizations (1996), enunciada por Samuel Huntington. Essa teoria analisa a génese e o desenvolvimento das ideias de Huntington e argumenta pela existência de uma vertente de ideia antiocidental voltada para Europa e América do Norte.

Nas relações internacionais, o cientista político Samuel Huntington buscou apresentar o motivo que levava para o agravamento de conflitos entre as sociedades. Huntington (1997) fala que a confrontação é causada por diferenças, principalmente ligadas a fatores religiosos em proporções fundamentalistas. Assim, “a hipótese fundamental de Huntington é a de que as fontes dos conflitos no mundo pós-Guerra Fria não serão econômicas ou ideológicas, mas, sim, culturais” (SARFATI,2005).

Nesse contexto, Samuel Huntington (1993), argumenta, o choque de civilizações deve ocorrer em dois níveis, no micronível e no macronível. A primeira se refere à disputas travadas por questões territoriais que tendem a envolver guerras entre clãs, tribos, grupos étnicos e comunidades religiosas. E a segunda abrange questões políticas e ideológicas mais amplas, como disputas de estados-nações por poder militar e econômico com a finalidade de prover seus valores no sistema internacional (SARFATI,2005).

Ademais, o autor toma o cuidado de afirmar que os Estados continuarão a ser importantes atores da política mundial, mas frisa que os conflitos internacionais ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. Logo, Huntington (1997) enfatiza que o choque de civilizações deve dominar a política mundial do século XXI, afirmando que os conflitos mais significativos do futuro tendem, segundo o autor, a ocorrer ao longo das linhas de cisão cultural que separam cada uma das civilizações.

Sob essa ótica, segundo o autor, um dos fatores que levariam ao conflito civilizacional seria a globalização. Huntington (1997) argumenta que o fluxo de mercadorias, pessoas e informações foram propícios para a fortificação da integração, porém é um fator que proporciona o surgimento de um choque entre essas civilizações distintas, devido a isso, seria buscado por meio do fundamentalismo uma reafirmação de identidade (SOUZA, 2014).

Em suma, o teórico realista chama a nossa atenção indicando que, os conflitos principalmente interestatais estão relacionados a questões que vão muito além dos Estados como atores racionais e de que as diferenças entre as civilizações são reais e cada vez mais importantes. Assim, com o aumento das interações entre povos de civilizações diferentes há uma intensificação da consciência das civilizações, gerando assim conflitos que vão além da natureza ideológica e outras como forma dominante no âmbito global.

Referenciais:

ALBUQUERQUE, E. S. et al. O choque das civilizações e a recomposição da nova ordem mundial. Rio de janeiro: objetiva, 1997. Revista de História Regional[S. l.], v. 5, n. 1, 2007. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rhr/article/view/2102. Acesso em: 19 jul. 2023.

HUNTINGTON, S. The Clash of Civilizations? Foreign affairs .1993 72 (3), pp 22-49

SARFATI, Gilberto. Teorias de Relações Internacionais. Saraiva, 2005.

SOUZA, André de Mello et al. Do 11 de setembro de 2001 à guerra ao terror: reflexões sobre o terrorismo no século XXI. 2014.