
Gabriel Rocha Monteiro
Internacionalista
As disputas por poder no Sistema Internacional, com certeza derivam de frutos da evolução humana. A geopolítica, como ferramenta de estudo e compreensão acerca das disputas territoriais no mundo – tendo como base o cenário internacional e consequentemente o SI – também receberam diversas contribuições ao longo da história, culminando em novas teorias e pensamentos.
Sobre isso, tomarei um conceito amplo para a introdução: “A geopolítica pode ser entendida como o estudo e a prática do poder internacional definida no espaço geográfico. É um campo do pensamento e da análise estratégica” (KHANA, 2016 Apud BARACHUY, 2021).
A partir disso, podemos afirmar que o espaço geográfico e a conquista de outros, está inteiramente ligado com a visão estratégica e de poder de um país. É nesse ponto que um dos grandes pensadores da filosofia geopolítica, Halford Mackinder, elabora sua teoria do “Pivot Area” (Área de Pivô ou Pivô Geográfico), onde defendia que a potência terrestre que controlasse o “pivô geográfico”, facilitado pelos avanços industriais e tecnológicos das ferrovias e locomotivas, contaria com a mobilização das bases materiais para dominar o mundo, sobretudo, se fosse capaz de converter seu domínio continental em poder naval. (MACKINDER, 1904 Apud BARACHUY, 2021).
A missão chinesa para a lua, denominada de “Chang’e 5”, retornou para o planeta com um mineral lunar, contendo um composto que pode revolucionar a tecnologia e o combustível do planeta. Isto é, o Hélio-3 ou como descrito pelos chineses que descobriram o mineral, “Changesite-(y)”, é um mineral de enorme interesse para cientistas e geologistas lunares e terrestres, pois possui um grande potencial.
A primeira vertente desse potencial abrange a questão do combustível, o Hélio-3 é considerado um mineral bastante ecológico, e a utilização desse mineral na produção de combustíveis na terra, mudaria drasticamente os polos econômicos de poder, já que possuímos minerais fosseis como carvão e petróleo como fonte majoritária de energia e combustível, e essas fontes estão geridas por grandes corporações, em Estados poderosos e consolidados.
Outro ponto, esse mais atrativo para alguns Estados, que abordam uma política exterior mais agressiva – como o caso de Estados Unidos e Rússia – refere-se ao fato de que, na utilização de bombas atômicas, uma eventual fusão nuclear não geraria nêutrons radioativos, isto é, não seria tão nocivo para o meio ambiente, como as fusões nucleares que temos atualmente (THE HILL, 2022).
Os Estados Unidos intensificaram a corrida para lua, juntamente a China, que desde 2020, com a missão à lua e o descobrimento do Hélio-3 em abundância, planeja retornar e coletar mais amostras, a fim de iniciar estudos voltados para esse mineral. Dessa forma, os Estados Unidos, juntamente a NASA, programaram expedições à Lua em sua última missão anunciada, a “NASA ARTEMIS”, programada para acontecer em 2024, segundo o site oficial da NASA. (NASA, 2023).
As Relações Internacionais carregam uma “limitação” desde seu surgimento. Essa limitação, pode ser entendida, como o fato de que, com o avanço da tecnologia e a expansão geográfica terrestre, os Estados irão precisar de inovações em suas políticas, sendo uma delas a geopolítica espacial, visto que minerais novos e promissores, como o Hélio-3, se encontra em abundância na lua, tornando-se um pivô geográfico para as grandes potências.
Sobre isso, é pertinente explicitar, que muitos minerais encontrados em outros corpos celestes, também podem ser achados na terra, mas o que torna tão importante a questão da lua é sua abundância, visto que como mencionado, a expansão geográfica mundial está atingindo seu limite.
Outrossim, é importante ter em mente, que teorias das relações internacionais são voltadas para o comportamento dos Estados dentro do globo, ou seja, trabalhada dentro de normas internacionais criadas pelo próprio sistema internacional. Em outras palavras, leis positivistas e sistemáticas, sendo a principal: Soberania, isto é, todo Estado tem direitos sobre seu território, limitando a exploração.
Dessa forma, como Mackinder e outros teóricos da geopolítica defendem, a conquista territorial pelos pivôs geográficos, que são conquistados por potências em busca de obtenção de poder, pertencem a um país de jure (pela lei). E a atitude Estatal, em conquistar a região, muitas vezes resultou, na história das RI, em momentos de guerra – como vimos durante a Segunda Guerra Mundial e como estamos vendo agora na Guerra da Ucrânia.
O pensamento que permeia na questão da geopolítica lunar é que não há separação de normas internacionais, já que a normativa sistemática do sistema abrange somente o planeta terra. Em outras palavras, qualquer Estado que tenha condições de investir em tecnologia espacial – como China, EUA e Índia – irão avançar sem se preocupar com a questão das normas.
O embate entre Estados Unidos e China, ao que tange essa questão, irá afunilar ainda mais a disputa por hegemonia do SI, visto que esse embate vai muito além do que qualquer outro evento que as Relações Internacionais já presenciaram. Sobre isso, como apregoa (BARACHUY, 2021) “O equilíbrio sempre se transforma, o mapa geopolítico jamais é permanente”.
É muito cedo para declarar que iremos colonizar outro planeta ou corpo celeste, porém, as disputas internas e a pesquisa científica para decidir quem irá atingir esse feito primeiro, certamente discriminará a força do Estado que o conseguir e o colocará em um patamar acima dos demais.
REFERÊNCIAS:
BARACHUY, Braz. Os Fundamentos da Geopolítica Clássica: Mahan, Mackinder, Spykman. Brasília, DF: FUNAG, 2021.
JORNAL DA USP. “Combustível do futuro”, hélio-3 é dez vezes mais comum na Terra do que se imaginava. [INTERNET] DISPONÍVEL EM: https://jornal.usp.br/atualidades/combustivel-do-futuro-helio-3-e-dez-vezes-mais-comum-na-terra-do-que-se-imaginava/ ACESSO EM: 25 DE JULHO DE 2023
NASA. NASA ARTEMIS UPCOMING MISSION EVENTS. [INTERNET] DISPONÍVEL EM: https://www.nasa.gov/launchschedule/ ACESSO EM: 22 DE JULHO DE 2023
REUTERS. China plans to send two rockets for crewed moon landing. [INTERNET] DISPONÍVEL EM: https://www.reuters.com/technology/space/china-plans-send-two-rockets-crewed-moon-landing-2023-07-12/ ACESSO EM: 24 DE JULHO DE 2023
THE HILL. China has returned helium-3 from the moon, opening door to future technology. [INTERNET] DISPONÍVEL EM: https://thehill.com/opinion/technology/3647216-china-has-returned-helium-3-from-the-moon-opening-door-to-future-technology/ ACESSO EM: 24 DE JULHO DE 2023
