
Kamilly Mácola – acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da Unama
O futebol feminino tem ganhado muito espaço no mundo inteiro pelo uso do Soft Power, termo desenvolvido por Joseph Nye na década de 1980, é uma ferramenta que permite que os países, por meio da influência cultural e política, disseminem suas ideologias sem exercer o uso da violência. Com o avanço da popularidade, a igualdade de gênero, infraestrutura e a importância das mulheres em diversas sociedades vem ganhando protagonismo, mesmo com o seu início tardio.
O futebol feminino teve várias barreiras a começar em 1941, onde, com a criação do Conselho Nacional de Desportos (CND), a demanda do futebol passou a ser controlada pela mesma, e, por conta de debates da época, foi introduzido o decreto-lei 3.199, art. 54, que proibia as mulheres de praticar o esporte.
“As mulheres não deveriam praticar esportes que
não fossem adequados à sua natureza. Apesar de não ser
citado nominalmente, o futebol se enquadrava.” (CND,1941).
Durante 38 anos, esse decreto-lei sofreu algumas alterações, principalmente, em 1965, durante a ditadura militar, onde foi descrito qual a modalidade que era proibida pelas mulheres, no caso, o futebol. Porém, em 1979, essa lei foi revogada e 4 anos mais tarde, a modalidade foi regulamentada, ou seja, foi criada uma estrutura semelhante, ao do futebol masculino, com um calendário próprio de jogos em campos oficiais (GOELLNER, 2005). Com isso, a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), vendo o aumento da popularidade do futebol feminino, realizou a primeira copa do mundo feminina de futebol em 1991, na China, contando com apenas 12 seleções, e com isso, a FIFA ainda decidiu incluir o futebol feminino nos jogos olímpicos em Atlanta no ano de 1996.
Após 30 anos desde o início das mulheres na categoria, a Federação definiu atrás do artigo 23 do estatuto que
“Os estatutos das confederações devem observar
os princípios de governança e, em particular, devem conter,
no mínimo, certas disposições relativas aos seguintes
assuntos: […] órgãos legislativos de acordo com os princípios da
representação democrática, tendo presente a importância
da igualdade de género no futebol.” (FIFA, 2016)
Devido a este artigo algumas mudanças no futebol de diferentes regiões foi acontecendo gradativamente, como a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), a qual “obrigou” que os times brasileiros de futebol tivessem times femininos para participar das principais competições da América, como Libertadores e Sul-Americana (ALMEIDA, 2019). Isso, por sua vez, ajudou na revelação de muitas jogadoras, principalmente, do Brasil, já que a principal ideia de Emily Lima era de fazer uma filtragem de jogadoras que jogavam apenas no Brasil (PADIN, 2017).
Além disso, a copa do mundo é uma verdadeira ferramenta de Soft Power, pois além dos países se reúnem em um único país, é, também, um instrumento utilizado pelo governo para promover ou propagar uma boa imagem do país sede, das políticas do país ou até mesmo ter uma visibilidade maior dentre todos os outros países (NYE, 2004). Outro ponto da copa do mundo são os investimentos de empresas ou corporações e o turismo para ver estes jogos, o qual estimula a economia do país em questão, assim podendo ser investido em uma infraestrutura melhor tanto para a cidade quanto para o esporte.
Um exemplo que pode ser colocado, é o estudo da Federação Francesa de Futebol (FFF), a capital sede da Copa do Mundo de Futebol Feminino, a França, gerou, forma direta, indireta e induzida, cerca de €284 milhões de euros, o equivalente a R$1,7 bilhões, para o PIB da França. Também é possível ver que a contribuição média por torcedor foi de € 142 euros (R$852), o que teve uma contribuição entre € 2 a € 20 para o PIB francês.
De outro modo, as estratégias de Soft Power, como o marketing através de comerciais, foram utilizados para convidar a população de seu país a torcer pela sua seleção, as quais impulsionaram a visibilidade da copa do mundo feminina de 2023 visto que um dos canais de streaming do youtube, Cazé TV, bateu vários recordes, mas o mais significativo foi o jogo entre Brasil e Jamaica, o que atingiu uma transmissão de 1,5 milhões de espectadores simultâneos na plataforma de vídeos.
Em suma, os debates de um jogo não são apenas entre as quatro linhas do campo, ele promove a igualdade de gênero, impulsionando a diplomacia e a economia da sede da copa do mundo. Dito isso, o futebol feminino está se consolidando como um poderoso veículo de soft power, pois utiliza-se propaganda em televisões e canais de streaming para promover seu discurso e ter o seu lugar de direito conquistando sem precisar de quaisquer uso de violência, apenas com falas.
REFERÊNCIA
ALMEIDA, C. S. de. O, Estatuto da FIFA e a igualdade de gênero no futebol: histórias e contextos do futebol feminino no Brasil. FuLiA/UFMG [revista sobre Futebol, Linguagem, Artes e outros Esportes], [S. l.], v. 4, n. 1, p. 72–87, 2019. DOI: 10.17851/2526-4494.4.1.72-87. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/fulia/article/view/14658. Acesso em: 7 ago. 2023.
BRUM, G. B. Copa do Mundo no Catar: o futebol como um instrumento de soft power. 2022. Monografia — [s. n., s. l.], 2022.
LANCE! Copa do Mundo Feminina: Cazé TV bate novo recorde de audiência em jogo do Brasil e Jamaica. 2 ago. 2023. Disponível em: https://www.lance.com.br/fora-de-campo/copa-do-mundo-feminina-caze-tv-bate-novo-recorde-de-audiencia-em-jogo-do-brasil-e-jamaica.html. Acesso em: 7 ago. 2023.
FRAGA, João. Relatório mostra Copa de 2019 rentável e sucesso de público. 7 jul. 2020. Disponível em: https://www.olimpiadatododia.com.br/futebol/249687-copa-do-mundo-2019-na-franca-foi-rentavel-e-sucesso-de-publico/. Acesso em: 10 ago. 2023.
GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo, v. 19, n. 2, p. 143-151, 2005.
OLIVEIRA, M. G. DE et al. Análise midiática sobre o futebol feminino no Brasil: elementos didáticos para a Educação Física no ensino médio. Motrivivência, v. 32, n. 63, 2020.
PADIN, GUILHERME. Emily Lima concentra primeira convocação de 2017 em jogadoras do Sul e Sudeste. 27 jan. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/27/deportes/1485546861_209142.html. Acesso em: 7 ago. 2023.
