Mateus Roger Cruz Dudek – Acadêmico do 2º semestre de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia – UNAMA

Durante a madrugada do dia 26 de julho de 2023, se dá o início do que em pouco tempo logo se torna mais um aborrecimento para as superpotências do mundo ociental, o golpe de estado no Níger. Localizado no continente africano, o país que possui com cerca de 24,4 milhões de pessoas e é um dos maiores exportadores do radioativo urânio do globo, muito usado para a produção de energia (ISSOUFOU; OCHIENG, 2023), foi palco de um golpe político liderado por militares – dentre eles, destaca-se o general Abdourahmane Tchiani, que se autoproclamou o novo presidente do Níger -, os quais capturaram o agora ex-presidente Mohamed Bazoum, um valioso aliado do ocidente, e assumiram o controle do país, promovendo de imediato a dissolução da constituição do país e o fechamento de suas fronteiras.

Apesar de que ao se deparar com a situação sem uma análise aprofundada, se pense que o golpe se assemelha com outros incontáveis momentos de tirania vividos pela humanidade, a realidade é que a rebelião ocorrida no final de julho conta com grande apoio do povo nigerino, em decorrência do fato de que dessa forma o Níger estaria finalmente se libertando da relação abusiva que ainda possui com sua antiga metrópole, a França, tendo em vista que o pacto colonial acabou somente em meados de 1960, mas até o dado momento que antecedeu o golpe, o país governado por Emmanuel Macron explorava os recursos da nação africana enquanto 42% da população vivem abaixo da linha da miséria (PRASHAD; MUSAVULI, 2023). Nesse sentido, é possível entender o porquê do sentimento “antifrancês” (BUSARI, 2023) que é interpretado como repulsa e ódio dos nigerinos em relação a França vem crescendo, muitos deles culpam a pátria francesa por toda a questão socioeconômica desoladora vivenciada por eles, sabendo que a nação europeia por suas práticas neocoloniais, é diretamente responsável por este cenário.

Além disso, a população do Níger demonstra grande interesse em se alinhar e aproximar da Rússia, país este que vem estreitando laços com outras nações africanas que buscavam fugir da influência e amarras das potências ocidentais, como Burkina Faso e Mali (AKINPELU, 2023). Com efeito, no dia 30 de julho de 2023, domingo, na cidade de Niamey, capital do Níger, houveram protestos em frente à embaixada francesa, onde pode ser visto incontáveis bandeiras russas sendo erguidas e gritos saudando tanto Vladimir Putin, quanto a própria Rússia (SALEY, 2023). Dessa forma, nota-se que uma disputa pela influência se caracteriza,visto que por se tratar de uma região estratégica, os Estados Unidos e a França possuem o interesse de manter o domínio e o poder que exerciam antes, logo, ambos os países foram a público condenar o golpe.

Não obstante, percebe-se que as práticas neocoloniais praticadas no Níger pelas superpotências ocidentais foram amplamente analisadas, mesmo que em outra época, pelo líder político e ex-presidente de Gana, Kwame Nkrumah em sua obra “Neocolonialismo: O Último Estágio do Imperialismo”, onde ele afirma que as maneiras de que os neocolonialistas exercem seu controle podem variar e se estender pelos âmbitos econômico, religioso, político, cultural e ideológico (NKRUMAH, 1965). Nessa perspectiva, entende-se que os métodos usados com o Níger atingiram o âmbito político, já que havia por parte do presidente deposto, Mohamed Bazoum, um certo alinhamento ideológico e tentativa de beneficiar o ocidente em decorrência da manipulação ocidental, e também o âmbito econômico, sabendo que 50% das reservas econômicas do Níger são obrigatoriamente mantidas no Tesouro francês, em virtude do fato de o país ainda utilizar a moeda “Franco”, permitindo assim que a França controle a economia desse país e a de todos os outros que utilizam a moeda (BUSARI, 2023).

Portanto, conclui-se por fim que o Golpe no Níger não se trata de uma questão única e exclusivamente voltada para o controle da nação, mas sim de uma nova tentativa de se libertar das amarras do neocolonialismo e da influência ocidental.

REFERÊNCIAS

AKINPELU, Yusuf. Como golpe no Níger torna ainda mais frágil região conturbada. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c04xm52jrymo – Acesso em: 9 de agosto de 2023.

BUSARI, Stephanie, Análise: Golpe do Níger é dor de cabeça do Ocidente e oportunidade da Rússia.  CNN Brasil,2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-golpe-no-niger-e-dor-de-cabeca-do-ocide nte-e-oportunidade-da-russia/ – Acesso em 7 de agosto de 2023.

ISSOUFOU, Tchima Illa; OCHIENG, Beverly, O país africano que virou campo de disputa entre Rússia e Ocidente. BBC Brasil, 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw0wkp593p6o – Acesso em 4 de agosto de 2023.

MILHARES DE PESSOAS PROTESTAM EM FRENTE À EMBAIXADA FRANCESA NA         CAPITAL DO NÍGER. G1, 2023. Disponível em:https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/07/30/milhares-de-pessoas-protestam-em-frente-a-e mbaixada-francesa-na-capital-do-niger.ghtml – Acesso em 5 de agosto de 2023.

MILITARES DO NÍGER ANUNCIAM GOLPE DE ESTADO NA TV. BBC NEWS Brasil,2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ckkxqg1q37po – Acesso em 05 de agosto de 2023.

NKRUMAH, Kwame. Neocolonialismo: O Último Estágio do Imperialismo. Civilização Brasileira, 1965.

PRASHAD, Vijay; MUSAVULI, Kambale, O que há por trás dos levantes na África Ocidental. Outras Palavras, 2023. Disponível em:https://outraspalavras.net/outrasmidias/o-que-ha-por-tras-dos-levantes-na-africa-ocidental/ – Acesso em: 4 de agosto de 2023.

SALEY, Omar Hama, Manifestante atacam embaixada da França no Níger após golpe de estado. CNN Brasil, 2023. Disponível em:https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/manifestantes-atacam-embaixada-da-franca-no-ni ger-apos-golpe-de-estado/ – Acesso em 6 de agosto de 2023.