Tiago Callejon Santos – acadêmico do 8° semestre de Relações Internacionais da Unama.

No dia 20 de julho de 2023, foi lançado, no cinema mundial, a obra cinematográfica intitulada “Oppenheimer”. A obra, dirigida por Christopher Nolan, faz referência a vida bibliográfica de Robert Oppenheimer, um físico americano responsável pela criação da bomba atômica, durante o período da 2° Guerra Mundial, o qual foi responsável pela elaboração e uso das bombas em Hiroshima e Nagasaki, executando, assim, o fim da Segunda Grande Guerra.

A obra, nos primeiros momentos, apresentou um grande saldo positivo em termos de bilheteria mundial, arrecadando, até o presente momento, a faixa dos 578 milhões de dólares (Maleh, 2023), tornando a obra Oppenheimer a 10ª maior bilheteria mundial de filmes com classificação +18 da história.

Um dos fatores mais interessantes do filme se deve ao fato que ele se divide em dois períodos de tempo distintos, aonde um é caracterizado em cores e a outra em preto e branco, demonstrado, no próprio universo da obra, sentidos diferentes para essas colocações. Segundo o próprio diretor, Cristopher Nolan, os momentos coloridos designam as experiências subjetivas de Oppenheimer, e os momentos em preto e branco demonstram uma realidade mais objetiva da obra (Martins, 2023), sob uma perspectiva de personagem distinta, com o propósito de aferir as interpretações de Nolan mediante à obra bibliográfica do cientista.

Ademais, também destaca-se que o ambiente central da produção cinematográfica se refere a Los Alamos, um local no Novo México que foi caracterizado como sendo uma cidade formada justamente para servir de base aos experimentos científicos da criação das bombas atômicas e, na realidade, foi revelado que grande parte da experiência sensitiva do filme dá-se ao fato de que os cientistas responsáveis pelo local, hoje, tiveram participações especiais no filme (Spadoni, 2023), por isso a área foi tão bem ambientada e utilizada para uma modelagem mais fidedigna da realidade.

Nos termos centrais abordados pela obra, já foi evidenciado que o filme Oppenheimer se inspira na criação da bomba atômica o qual foram inseridas em um cenário de caos militar durante a 2ª Grande Guerra, no entanto, é válido ressaltar algumas questões que são postas na obra e que, para alguns, pode não ter sido devidamente visto ou compreendido em sua totalidade.

Por exemplo, por se tratar de um filme sob a perspectiva e a cosmovisão norte-americana da coisa, é extremamente colocado e observado o fato de a ideologia capitalista ser um arcabouço político, econômico e teórico que neutralizaria as ideologias nazistas e, posteriormente, socialistas-comunistas no contexto da obra, adequando estas últimas a um mal que somente seria derrotada pela “verdadeira ideologia”.

Outrossim, outro fator que deve ser destacado e que é profundamente demonstrado, na obra, seria referente ao poder destrutivo que os avanços tecnológicos e científicos poderão trazer para a vida em sociedade, sejam elas civis ou estatais. Cristopher Nolan, a fim de afirmar essa realidade, relutou em dizer que deseja que seu filme se torne um objeto de inspiração e de reflexão aos cientistas e profissionais do Vale do Silício, principalmente ao que se refere à criação de algoritmos e inteligências artificiais, ressaltando a importância do conceito de responsabilidade que estes profissionais devem adotar (Spadoni, 2023).

Essas realidades militares que permearam o contexto de guerra da obra podem ser fundadas sob os aspectos de vários arcabouços teóricos para a sua explicação, já que se trata de eventos e fenomenologias humanas que tiveram vários contextos, causas e finalidades para os seus atos e efeitos.

No entanto, pode-se compreender, em um grau mínimo, por meio dos ensinamentos de Buzan, autor central da Escola de Copenhague, acerca das finalidades da securitização e do objeto securitizador. O objeto securitizado, em Buzan (VIANA; PEREIRA, 2019), refere-se ao objeto de escolha de um Estado o qual ele prioriza a sua segurança, pois a asseguração deste objeto traz benefícios ao Estado ou ao ente que garantir a sua segurança, principalmente nos campos de estruturação organizacional e o abafamento do caos social.

Logo, sob esta perspectiva, dá-se a compreender que, devido ao fato do Japão e dos países Aliados estarem em guerra naquele período, ameaçando os seus territórios, a sua segurança e as suas populações, o governo norte-americano, por meio das criações de Robert, foram capazes de criar uma arma para ter como efeito o fim da guerra e, posteriormente, garantir a vitória dos Aliados e a segurança dos EUA. Com efeito, de fato isto compreende o conceito da Securitização, em Buzan, respeitando suas dinâmicas e suas conceituações do objeto securitizado que necessita de proteção, isto é, na realidade da obra, a própria América.

Por fim, ressalta-se, desta forma que, mesmo sendo uma criação cinematográfica que tenha por efeito a diversão aos seus telespectadores, o filme contém vários traços e mensagens que são passadas de forma implícita ou explícita por Nolan a fim de demonstrar ao seu público a vida controversa e bipolar de Robert Oppenheimer, além de que, de forma sublime, o próprio Nolan constrói, ao longo dessa narrativa, várias críticas à progressão desenfreada das ciências e das ideologias políticas, repassando uma mensagem que a progressão humana, seja ela científica ou tecnológica, é necessária para a própria evolução e desenvolvimento do homem, no entanto, que seja feito de forma serena e gradativa, para que não traga novos horrores, caos ou sofrimento como Oppenheimer trouxe aos japoneses, durante o período da Guerra.

 Posteriormente, vários pensamentos de culpa e desprezo encheram a mente de Robert, pois a sua criação foi responsável por eliminar tantos homens e mulheres, a sua criação afetou as suas convenções e normativas das leis morais e éticas, o que aparentou lhe trazer um certo arrependimento. Esta é a grande mensagem da história que Nolan quis passar, o qual foi feita de maneira exemplar, didática e bem comovente.

Referências:

MALEH, Bruna. Oppenheimer supera “50 Tons de Cinza” e entra para as 10 maiores bilheterias 18+. Rolling Stone, Brasil, 2023. Disponível em https://rollingstone.uol.com.br/cinema/oppenheimer-supera-50-tons-de-cinza-e-entra-para-as-10-maiores-bilheterias-18/

MARTINS, Matheus. Oppenheimer: o filme é todo em preto e branco?; Pixel Nerd, Brasil, 2023. Disponível em https://pixelnerd.com.br/oppenheimer-o-filme-e-todo-em-preto-e-branco/#:~:text=As%20cenas%20em%20preto%20e,perspectiva%20de%20um%20personagem%20diferente.

MILLS-PLATTS, Bem. Quem foi o verdadeiro Robert Oppenheimer, criador da bomba atômica. BBC News Portuguese, Portugal, 2023. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51dxvv1jgzo

SPADONI, Pedro Borges. Christopher Nolan quer que “Oppenheimer” sirva de alerta para Vale do Silício; Olhar Digital, Brasil, 2023. Disponível em https://olhardigital.com.br/2023/07/17/cinema-e-streaming/christopher-nolan-quer-que-oppenheimer-sirva-de-alerta-para-vale-do-silicio/

VIANA, Caroline Cordeiro; PEREIRA, Alexsandro Eugenio. A Teoria da Securitização e a sua aplicação em artigos publicados em periódicos científicos; Revista de Sociologia e Política, Scielo, Brasil. Disponível em https://www.scielo.br/j/rsocp/a/ygPZ8HJLnHCLWj4W5ZjxZKB/?format=pdf