
Beatriz Gaby de Oliveira – Acadêmica do 2° semestre de Relações Internacionais da Unama.
A Cúpula do BRICS é um evento anual que reúne os líderes dos países membros da organização e convidados para discutir, em aspectos econômicos, políticos, regionais e comerciais, a cooperação dessas governanças e as soluções que devem ser tomadas para fortalecer a expansão dos membros no globo. A reunião desse ano de 2023, 15ª edição, está datada para acontecer nos dias 22, 23 e 24 de agosto na África do sul com a temática: “BRICS e África: Parceria para crescimento mutuamente acelerado, desenvolvimento sustentável e multilateralismo inclusivo”, e mais de 67 países foram convidados para esse importante evento global. O tema desse ano reflete a visão sul-africana de que o BRICS oferece liderança global na abordagem das necessidades e dos desafios da maioria dos países do mundo, promovendo crescimento econômico favorável, desenvolvimento sustentável e a inclusão global das nações do Sul. (PANDOR, 2023)
Entretanto, para compreender o papel do BRICS no cenário atual e a importância da Cúpula, é necessário entender primeiramente a criação e motivação dessa associação de países. O grupo foi inicialmente denominado por “BRIC” pelo economista britânico Jim O’Neill na Goldman Sachs, em 2001, e anos depois houve a inserção da África do Sul na associação. A sigla BRICS é um acrônimo para o grupo de 5 países compostos por Brasil, Rússia, Índia, China e África do sul, os quais possuem relevância na sociedade global por desenvolverem a cooperação entre os países do sul, fortalecendo a força do poder político e a governança global de países emergentes. O BRICS não é só o resultado de atividades geopolíticas, como também faz parte da economia mundial, com forte incentivo aos aspectos da globalização. Esses países têm uma política para redução do desequilíbrio regional e para melhorar o status global (STUENKEL, 2014).
Em “Choque de Civilizações”, o teórico realista Samuel Huntington, já em 1993, mencionava que no futuro haveria o surgimento e expansão de ideais não-ocidentais em um mundo cada vez mais globalizado e conectado, transformando as Relações Internacionais, que haviam sido desenvolvidas e enraizadas pelo ocidente, em um novo paradigma que incluía também outras partes do globo. Para ele:
Na política das civilizações, os povos e governos das civilizações não-ocidentais já não são os objetos da história enquanto alvos da colonização ocidental, mas juntam-se ao Ocidente como agentes e sujeitos da história (Huntington, 1993).
Nessa perspectiva, interligando ao contexto atual do BRICS, nota-se uma tentativa de expansão dos países não-ocidentais que eram marginalizados dentro da sociedade internacional, buscando cada vez mais a fortificação da integração sul-sul e o crescimento do poder político, cultural e econômico no mundo. Os países do BRICS não se opõem diretamente aos países ocidentais, mas querem enfatizar a não discriminação, a igualdade de acesso e a distribuição de recursos para uma ‘arquitetura global mais equilibrada’ (Arapova, 2019).
Ao longo dos anos, significativas reformas na governança global puderam ser vistas a partir das realizações dos BRICS, os quais vem buscando gradativamente aprimorar seu poder e influência no globo. A exemplo disso, em âmbito econômico, pudemos ver a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que é uma alternativa dos países emergentes às instituições financeiras tradicionais e expressa a insatisfação deles com a demora das organizações internacionais para se ajustar às demandas do século XXI e para conceder uma influência adequada às nações em desenvolvimento. (BATISTA, 2016)
Nesse contexto, o Banco do BRICS vem ganhando notório destaque pela ascensão da economia e do protagonismo chinês no Sistema Internacional, e tornou-se pauta de importantes discussões pelo provável crescimento da moeda chinesa em detrimento do dólar, visto a talvez possibilidade no NBD de transações econômicas sem a necessidade de passar pelo sistema SWIFT, como acontece no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Essa alternativa às organizações internacionais ocidentalizadas demonstra um forte poder de influência do BRICS no cenário econômico e político atual, e a possibilidade futura de perda da hegemonia estadunidense e de desdolarização da economia mundial.
Além disso, o grande reconhecimento do papel do BRICS como defensor do sul global a partir de suas realizações ao longo da história mundial, massificou o interesse de mais de 20 países em ingressar nessa cooperação nos últimos anos, e essa expansão do grupo virou uma pauta de importante destaque tanto nas notícias internacionais, como na Cúpula. É relevante pontuar que essa tentativa de reformulação do BRICS e inclusão de novos membros está em forte debate no grupo, como notórias contradições entre os países participantes sobre os malefícios e benefícios da expansão. (BUENO, 2023)
Em suma, tornou-se explicito as intenções e urgências desses países emergentes em um contexto global, com a massificação das cooperações entre países do sul e as tentativas de melhorias e de expansão global dos membros em aspectos econômicos, sustentáveis e multilaterais. A Cúpula do BRICS de 2023 se estabelece em um importante momento com pautas que além de envolverem a reforma da governança global, a efetuação e importância do NBD e a expansão do grupo com interesses de outros países emergentes, também ecoa as intenções sul-africanas de obter com planos concretos, práticos e implementáveis o fortalecimento da ligação do BRICS com o continente africano. (PANDOR, 2023)
REFERÊNCIAS
ARAPOVA, E. O “BRICS Plus” como a primeira plataforma internacional conectando acordos comerciais regionais. Revisão de Ciências Sociais da Ásia-Pacífico. 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Ekaterina-Arapova/publication/343418118. Acesso em: 16/08/2023
BATISTA, Paulo Nogueira. Brics – Novo Banco de Desenvolvimento. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.30880013
BRICS atrai ofertas de membros de 19 nações antes da cúpula. Bloomberg. Disponível em: BRICS Desenha Solicitações de Adesão de 19 Nações Antes da Cúpula – Bloomberg
BUENO, Elen. A Expansão dos BRICS: Critérios de Adesão e Novas Formas de Institucionalização. GEBRICS, São Paulo, 21 de julho de 2023. Disponível em: https://sites.usp.br/gebrics/a-expansao-dos-brics-criterios-de-adesao-e-novas-formas-de-institucionalizacao/. Acesso em: 15/08/2023.
HUNTINGTON, Samuel P. If not civilizations, what? In: Foreign Affairs, vol 72, no. 5, nov/dez, 1993. Acesso em: 15/08/2023.
Naledi Pandor informa a mídia sobre o estado de preparação para a Cúpula do BRICS. TV BRICS. Disponível em: Naledi Pandor informa a mídia sobre o estado de preparação para a Cúpula do BRICS | TV BRICS, 08.08.23 . Acesso em: 16/08/2023
STUENKEL, Oliver. Poderes e status emergentes: O caso da primeira cúpula dos BRICs. Perspectiva Asiática. vol. 38 no. 1, 2014. Disponível em: doi:10.1353/apr.2014.0003.
