
Keity Oliveira e Lara Lima (acadêmicas do 6º semestre de RI da UNAMA)
No contexto mundial atual, o Brasil se situa como “celeiro mundial” por sua produção liderada pelo agronegócio, possuindo 22% das terras agricultáveis do mundo. A elevada tecnologia utilizada no campo e os dados referentes a elevação dos indicadores econômicos no país, fazem do agronegócio um setor moderno e competitivo no cenário internacional. Entretanto, ele contribuiu sobremaneira para a degradação ambiental, na medida em que o uso dos recursos naturais ultrapassou até mesmo os limites que a natureza pode suportar. Nessa perspectiva, cabe-se analisar as oportunidades e ameaças quanto ao crescimento de uma das mais antigas atividades econômicas vigentes no país.
No século XVI, a ocupação iniciada e apoiada na doação de terras por intermédio de sesmarias, monocultura da cana-de-açúcar e no regime escravocrata foi responsável pela expansão latifundiária. Antes da expansão deste sistema, já havia sido instalado no país como primeira atividade econômica a extração do pau-brasil, que posteriormente, foi alternada para a plantação da lavoura canavieira e para a pecuária extensiva, em áreas do sertão, onde as condições ambientais eram desfavoráveis à expansão canavieira.
No século XX, o predomínio do café e da cana-de-açúcar, voltados para o mercado externo, contribuíram para a expansão de pequenas e médias propriedades dedicadas ao cultivo de produtos alimentícios básicos. O processo de urbanização do Brasil, em conjunto com o desenvolvimento industrial da década de 40, contribuíram para o surgimento de áreas agrícolas destinadas à produção de matérias-primas industriais, de produtos hortifruti e de uma pecuária leiteira desenvolvida em planaltos.
Posteriormente, nos anos 70, a agricultura sofreu um boom de desenvolvimento com a produção da soja, que se tornou a principal commodity brasileira de exportação. A partir disso, a modernização do campo e a evolução tecnológica possibilitaram a expansão da agricultura para áreas antes consideradas inóspitas, como o cerrado brasileiro, sendo um grande avanço para o aumento da oferta de produtos a serem cultivados e comercializados no mercado externo, levando o Brasil a ser considerado como “aquele que dominou a agricultura tropical”.
Segundo os dados do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em colaboração com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 1970, a participação do agronegócio brasileiro no PIB era de 7,5%. O agro conseguiu alcançar, em 2020, uma participação de 26,6% na produção de bens e serviços do país, sendo que em 2019, participava somente com 20,5% (Filho e Silva, 2021). Atualmente, é uma cadeia produtiva de fundamental importância que se utiliza direta e indiretamente de produtos do campo, sendo estes agricultura, pecuária, dentre outros que tornaram o Brasil uma agroindústria global.
O agronegócio, entre 2020 e 2021, chegou a bater sucessivos recordes no PIB brasileiro, mas, em contrapartida, segundo dados do Relatório Anual do Desmatamento, desempenhado pelo MapBiomas, entre os mesmos anos, houve recordes nas taxas de desmatamento nos biomas, no qual a perda de vegetação chegou a atingir 20% de sua cobertura. O estudo apontou que a agropecuária provocou 97% da perda de vegetação nativa e se concentrou em regiões transformadas em pasto, commodities agrícolas e especulação fundiária (Pajolla, 2022).
A expansão do agronegócio trouxe consigo grandes oportunidades de crescimento econômico para o país, dentre essas oportunidades, geração de empregos, alavancamento do PIB e etc, porém essa expansão também trouxe grandes ameaças e preocupações, principalmente no que diz respeito a Amazônia, devido às mudanças causadas no ecossistema, aquecimento global, segurança alimentar e um ritmo acelerado do desflorestamento provocada nas áreas de mata virgem, em territórios indígenas ou nas áreas de conservação.
Uma das principais consequências do modelo dominante agrícola na Amazônia é o uso desenfreado de agrotóxicos, sob a justificativa de controle de doenças provocadas por vetores e para a regulação e crescimento da vegetação. O Brasil é um dos principais países com maior consumo de agrotóxicos no mundo, no qual há a importação de diversos produtos altamente perigosos e proibidos em determinados países e que são usados diariamente no país.
Segundo a Agência Ambiental do Brasil (IBAMA), algumas árvores não resistem a esses produtos, devido a sua capacidade de desfolhar, o que acaba facilitando o desmatamento (Gonzales, 2022). Na Amazônia, o uso dessas substâncias é comum para o desmatamento da floresta para a criação de novas áreas agrícolas, prática permitida pela fiscalização falha da comercialização e utilização das substâncias químicas.
Outrossim, na última década, foi comprovado que a Amazônia emitiu mais CO² do que absorveu, isto se dá pela destruição da floresta, principalmente por meio da expansão do agronegócio, que acarreta no aumento das emissões fazendo com que ocorra o fenômeno de evapotranspiração, que nada mais é do que a transferência da água do seu estado gasoso para a atmosfera.
Na Amazônia, ela ocorre como a transpiração vegetal que é responsável por resfriar o ar. Segundo o doutor em ecologia, Paulo Moutinho, a única solução para a restauração da capacidade da floresta de captar CO² é perfazendo o desmatamento, seja ele legal ou ilegal, e adotar medidas urgentes para reflorestar o que foi degradado (Müzell, 2021).
Além disso, muitos estudiosos afirmam que a maior parte dos solos utilizados para o desmatamento possui fertilidade baixa e após a queima dele, o nitrogênio que se localiza na estrutura das árvores é absorvido no solo e isso leva a uma boa produtividade inicial, porém, com o decorrer do tempo, o solo vai se tornando ácido e logo o ciclo do desmatamento ocorre novamente com expansão de novas áreas, visto que o investimento em adubação e correção do solo sairia muito mais caro.
Portanto, o modelo agrícola dominante, provocou a dinamização do mundo, de uma forma hegemônica e predatória e apesar de ter aumentado a capacidade de produtividade alimentícia, desencadeou uma série de problemáticas no âmbito ambiental.
Diante disso, surge a necessidade de se buscar um novo paradigma de desenvolvimento que conciliasse o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, buscando também desenvolver “uma relação harmônica das limitações ecológicas do planeta com as gerações futuras para que estas tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades” (Santos e Cândido, 2013, p. 5). Este novo paradigma é o modelo da agroecologia, baseado no trabalho de tipo familiar camponês, sendo um importante processo de construção social aplicado ao desenvolvimento sustentável no meio rural.
Nesse sentido, a agroecologia é mais que um sistema produtivo, é uma ferramenta social para a transformação das realidades rurais através da ação coletiva em prol da construção da soberania alimentar, evidenciando a garantia do direito fundamental da alimentação, sem a necessidade de degradação e uso predatório da fauna e flora da Amazônia.
Diante a temática exposta, recomendamos dois documentários sobre o tema. O primeiro se chama “Beyond Fordlândia” (2017), do diretor Marcos Colón, o filme ambientado na década de 1920, aborda os impactos negativos do agronegócio na Amazônia. Ele também retrata o fracasso do ciclo da borracha para a grande produção de soja para a exportação, as ameaças e violência contra os povos originários e os impactos causados na floresta amazônica. O filme está disponível para ser assistido na plataforma de streaming Binged, através do link a seguir:
<https://www.binged.com/streaming-premiere-dates/beyond-fordlandia-movie-streaming-online-watch/>
O segundo se chama “Guardiões da Terra – Agroecologia em Evolução” (2021), dirigido por Antonio Bento Mancio e Fabricio Menicucci. O longa traça um histórico da evolução do movimento agroecológico no Brasil, ilustrando os principais momentos da agroecologia no país através de entrevistas com acadêmicos, produtores rurais, militares e estudiosos. Está disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:
< https://www.youtube.com/watch?v=AiwhkflF_og&ab_channel=Articula%C3%A7%C3%A3oNacionaldeAgroecologia >
Também destacamos o trabalho realizado pelo projeto #COLABORA, que é um jornal sustentável que se assegura em um panorama de sustentabilidade e procura ir além do meio ambiente, buscando promover reflexões, discussões e conscientização sobre os problemas ambientais e suas mazelas. Abordam também outros temas como desigualdade, saneamento, agronegócio, meio ambiente e etc. O projeto passou a ser guiado pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU. Para mais informações, acesse:
Site: < https://projetocolabora.com.br/quem-somos/ >
Instagram: < https://instagram.com/colabora >
Facebook: < https://www.facebook.com/colaborajornalismo >
Twitter: < https://twitter.com/colaboraprojeto >
Por fim, cabe destacar o trabalho do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica da Universidade Brasília (NEA-UNB) que por meio do ensino, pesquisa e extensão, estimula a construção de espaços de conhecimento agroecológico e que mobilizam interações entre a agricultura de base ecológica e a sociobiodiversidade nos territórios. Para mais informações, acesse:
Site: < http://www.nea.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=592 >
Instagram: < https://www.instagram.com/neaunb/ >
Facebook: < https://www.facebook.com/AgroecologiaUnB/ >
REFERÊNCIAS
FILHO E SILVA, José Barbosa e Cássio Angelo Souza. Agronegócio na Amazônia, ameaças e oportunidades. Portal Amazônia. Publicado em: 27 de setembro de 2021. Disponha em: > https://portalamazonia.com/amazonia-ameaca-ou-oportunidade/agronegocio-na-amazonia-ameacas-e-oportunidades > Acesso em: 17 de agosto de 2023.
GONZALES, Jenny. Pesticidas lançados na Amazônia brasileira para degradar a floresta tropical e facilitar o desmatamento. Terras Indígenas no Brasil. Publicado em: 19 de janeiro de 2022. Disponível em: < https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/215506 > Acesso em: 17 de agosto de 2023.
MÜZELL, Lúcia. Com Amazônia emitindo mais CP2 do que observando, mundo pode perder o seu ‘ar condicionado‘. G1 Globo. Publicado em: 06 de maio de 2021. Disponível em: < https://g1.globo.com/google/amp/natureza/amazonia/noticia/2021/05/06/com-amazonia-emitindo-mais-co2-do-que-absorvendo-mundo-pode-perder-o-seu-ar-condicionado.ghtml > Acesso em: 17 de agosto de 2023.
PAJOLLA, Murilo. Agronegócio foi responsável por 97% dos desmatamento no Brasil em 2021. Brasil de Fato. Publicado em: 19 de julho de 2022. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2022/07/19/agronegocio-foi-responsavel-por-97-do-desmatamento-no-brasil-em-2021 > Acesso em: 17 de agosto de 2023.
SANTOS, Jacqueline Guimarães; CÂNDIDO, Genisaldo Ataíde. Sustentabilidade e agricultura familiar: um estudo de caso em uma associação de agricultores rurais. Revista de Gestão Social e Ambiental, v. 7, n. 1, p. 70-86, 2013. Acesso em: 20 de agosto de 2023.
