
Mayara Renata Mendes Batalha – Acadêmica do 4º Semestre de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia.
A emergência climática tem dominado os debates globais como uma das questões mais urgentes e complexas enfrentadas pela sociedade no século XXI. Desde o processo de desenvolvimento da humanidade, e junto a isso, as interferências no meio ambiente causadas pelo ser humano com o desmatamento, queima de combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito estufa, essas mudanças súbitas nunca foram tão acentuadas como agora. Esse padrão evidencia que os sinais para o colapso climático transcendem as fronteiras, transformando os impactos ambientais-climáticos como um dos principais desafios às estruturas das Relações Internacionais.
O recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) em 2023, apresenta a urgência de medidas visto a crise pendente. Segundo ele, houve o aumento da temperatura média da terra em 1,1 ºC acima dos níveis pré-industriais. Esse dado apresenta-se como uma clara advertência na medida em que se analisa as pautas do célebre Acordo de Paris, durante a COP 21, realizada em 2015, onde os países signatários comprometeram-se a reduzir o aumento da temperatura global significativamente abaixo dos 2 °C, com esforços para limitar o aumento da temperatura a pelo menos 1,5 ºC, pois, de acordo com cientistas, ao ultrapassar este marco todos os anos durante uma ou duas décadas, resultaria em claros e extremos impactos do aquecimento, como ondas de calor mais duradouras, tempestades mais intensas e incêndios florestais. (BBC Brasil, 2023)
A teoria da Cultura Industrial, desenvolvida por Theodor Adorno e Max Horkheimer (1947), proporciona uma perspectiva para entender como a cultura e a indústria se influenciam mutuamente em um ciclo contínuo atrelado às questões climáticas-ambientais. Nesse contexto, analisa-se como a cultura é utilizada para moldar e influenciar a sociedade de acordo com interesses das grandes indústrias, resultando assim, em um ciclo de consumo exacerbado, muitas vezes sustentado por padrões de vida luxuosos, que contribuem para os desafios climáticos atuais. Um exemplo dessa dinâmica é a frase “a indústria se adapta aos desejos por ela evocados” (ADORNO e HORKHEIMER, 2002. P 10) a qual evidencia que as entidades industriais além de responderem aos desejos existentes, também os perpetuam, gerando um ciclo de consumo e influência cultural.
Nesse ínterim, vale a ressalva de que essa dinâmica está relacionada à utilização preponderante de fontes de energia não renováveis, como petróleo, carvão e gás natural, para alimentar as operações industriais. E apesar de fundamentais, são vetores primários das emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, o ciclo de produção e consumo, constantemente induzido por narrativas culturais, contribui para que “processos disruptivos e impactantes nos modelos de percepção e de análise do mundo contemporâneo” (TEIXEIRA e TONI, 2022. P. 73) ocorra ao mesmo passo em que os impactos ambientais-climáticos se tornam mais intensos.
Além das questões abordadas, é fundamental enfatizar que a degradação de ecossistemas naturais, especialmente aqueles mais delicados e frágeis, como manguezais, florestas tropicais e recifes de coral, não apenas resulta na perda direta da biodiversidade que eles abrigam, mas compromete serviços ecossistêmicos de extrema importância para a vida humana e a saúde do planeta. A quebra desse equilíbrio ecológico significa que as populações ficam mais expostas aos riscos dos desastres naturais.
No Brasil, por exemplo, comunidades locais e indígenas cujas subsistências dependem dos recursos naturais oferecidos por esses ecossistemas, enfrentam privações, podendo, inclusive, levar a perda de tradições culturais fortemente enraizadas. (ALEM, Larissa. 2021).
É evidente que ocorre uma distribuição desigual dos impactos ambientais-climáticos, com as populações mais vulneráveis suportando os efeitos mais severos das mudanças climáticas. A apreensão concentra-se particularmente nos refugiados ambientais e nos empecilhos por eles enfrentados quando se analisa que muitos sistemas jurídicos não consideram o deslocamento ambiental como uma razão válida para a concessão de refúgio. E, de acordo com o Banco Mundial, até 2050, mais de 216 milhões de pessoas podem se tornar migrantes climáticos, se as ações climáticas combinadas não forem tomadas. (OIM Brasil, 2023)
Diante dos desafios apresentados, que reverberam em uma rede de crises interconectadas, a comunidade internacional se encontra pressionada a tomar medidas que possam atenuar os efeitos da emergência climática. Portanto, espera-se que as agendas internacionais, efetivamente, se dediquem a diálogos que explorem as interações complexas entre as estruturas das relações internacionais. Como destacaram Teixeira e Toni (2022), a transição a uma economia mais sustentável não se limita apenas ao aspecto tecnológico, mas envolve uma transformação política profunda. A emergência climática já se configura como uma certeza que moldará significativamente as dinâmicas futuras, por isso, “é a urgência do presente”. (TEIXEIRA e TONI, 2022. p. 80).
REFERÊNCIAS
Acordo de Paris completa cinco anos com lições aprendidas. WFF Brasil, 2020. Disponível em: < https://www.wwf.org.br/?77471/Acordo-de-Paris-completa-cinco-anos-com-licoes-aprendidas > Acesso em: 19 de agosto de 2023.
Ações urgentes contra mudança climática são necessárias para garantir um futuro habitável, alerta IPCC. Nações Unidas Brasil, 2023. Disponível em: < https://brasil.un.org/pt-br/224004-a%C3%A7%C3%B5es-urgentes-contra-mudan%C3%A7a-clim%C3%A1tica-s%C3%A3o-necess%C3%A1rias-para-garantir-um-futuro habit%C3%A1vel#:~:text=O%20Painel%20Intergovernamental%20sobre%20Mudan%C3%A7as,pela%20mudan%C3%A7a%20global%20do%20clima > Acesso em: 19 de agosto de 2023.
ALEM, Larissa. Cultura e Clima – parte I: Como as mudanças climáticas afetam as culturas? IDEA, 2021. Disponível em: < http://institutodea.com/artigo/cultura-e-clima-parte-i-como-as-mudancas-climaticas-afetam-cultura/ > Acesso em: 20 de agosto de 2023.
Aquecimento da Terra pode superar limite de 1,5º até 2027, advertem cientistas. BBC News Brasil, 2023. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gn60zqklgo#:~:text=A%20barreira%20de%201%2C5,acordo%20de%20Paris%20de%202015 > Acesso em: 17 de agosto de 2023.
HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 364p.
Relatório do IDMC: Número recorde de 60,2 milhões de deslocados internos em 2022. OIM Brasil, 2023. Disponível em: < https://brazil.iom.int/pt-br/news/relatorio-do-idmc-numero-recorde-de-609-milhoes-de-deslocados-internos-em-2022 > Acesso em: 21 de agosto de 2023.
Teixeira, I., & Toni, A. (2022). A crise ambiental-climática e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua política ambiental. CEBRI-Revista: Brazilian Journal of International Affairs, (1), 71–93. Recuperado de < https://cebri-revista.emnuvens.com.br/revista/article/view/7 >
Un Climate Talks. Council On Foreign Relations. Disponível em: < https://www.cfr.org/timeline/un-climate-talks > Acesso em: 02 de agosto de 2023.

Parabens princesa se todos nos fissemos mossa parte o clima nao estava ai pedindo socorro
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