Cristine Oliveira, acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais 

Ficha técnica:  

Ano: 1990

Diretor: Jennie Livingston

Distribuidora: Miramax Films

Gênero: Documentário

Países de origem: Estados Unidos

O documentário “Paris is burning”, dirigido por Jennie Livingston, apresenta a cultura dos bailes chamados “Ballrooms”, na década de 80, em Nova York. A película, além de mostrar os famosos bailes, também traz a vivência de pessoas da comunidade LGBTQIA+, em meio à sociedade estadunidense dos anos 80 e como esse espaço era um dos poucos ambientes seguros para a comunidade, permitindo com que as pessoas pudessem se expressar e sonhar com um futuro em que ser LGBTQIA+ não as impedissem de viver livremente.

O filme é uma imersão na vida noturna e agitada do bairro de Harlem, subúrbio de Nova York, segundo o ponto de vista  dos “Ballrooms” ­­- festas que unem arte, música, desfiles e competições, os quais são frequentados predominantemente por afro-americanos, latinos, bissexuais, lésbicas, homossexuais e pessoas trans. Os bailes são organizados pelas principais “houses”, que são como famílias, em que pessoas da comunidade LGBTQIA+ constroem um parentesco, por se acolherem, após serem excluídas de suas famílias biológicas. As casas presentes no documentário são a Xtravaganza, Ninja, Pendavis, La Beija e Saint Laurent. Parte do documentário é narrado por Pepper LaBeija, drag queen mãe da casa La Beija, considerada uma das mais lendárias por possuir diversos prêmios, ela apresenta a linguagem utilizada nos bailes, as categorias e critérios utilizados nas competições, e o famoso “Voguing”, uma espécie de batalha de dança, a qual os passos se assemelham a poses feitas por modelos da revista Vogue.

O glamour e a beleza, os quais são características dessa subcultura, maquiam a realidade dolorosa das pessoas que frequentam esses bailes, no Estados Unidos dos anos 80. Nessa época, as pessoas que faziam parte da comunidade LGBTQIA+, eram vistas ou como uma aberração, ou como doentes e esses estereótipos preconceituosos perpetuam uma sociedade hostil, que marginaliza as pessoas da comunidade, as quais veem na cena ballroom uma forma de se expressar, encontrar apoio e afeto, assim como, vestir seus sonhos e fantasias.

O documentário “Paris is burning” possui extrema importância para a construção e resistência do movimento LGBTQIA+, sendo assim, é possível estabelecer uma conexão da obra com a Teoria Queer das Relações Internacionais, a qual busca questionar a construção da sociedade em torno de padrões heteronormativos e cisnormativos. Para Judith Butler (2018), o gênero, assim como a sexualidade, é fruto de uma construção social, e não está ligado a um determinismo biológico. Dessa forma, para a autora, o gênero é uma identidade performaticamente construída, e os mecanismos de poder determinam quais identidades de gênero são consideradas válidas e quais são marginalizadas.

Diante a discussão apresentada, conclui-se que a obra “Paris is burning”, além de ser um marco na história da comunidade Queer, é extremamente relevante para estabelecer diálogos sobre identidade de gênero, raça, classe, representatividade, sexualidade e direitos da comunidade LGBTQIA+, no campo das Relações Internacionais.

Referências: 

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2018.