Victtor Calderaro – Acadêmico do 4º Semestre de Relações Internacionais.

A gênese do Exército Brasileiro remonta à expulsão holandesa do Nordeste, em fevereiro de 1649, durante a insurreição pernambucana, no evento que ficou conhecido como a Batalha de Guararapes. O sangrento combate, que culminou na derrota Holandesa, foi o marco histórico da união de etnias, o momento em que Negros, Brancos e Indígenas, mesclando as tácticas de combate militar portuguesas, a velocidade das emboscadas indígenas e a mobilidade trazida pelas influências africanas, para formar um estilo de guerra nunca visto, fundamentado nas ações de guerrilha, que posteriormente seria chamado de Guerra Brasílica.

Após três horas de guerra, os holandeses se dissolveram. Nesse segundo confronto, ocorreram cerca de 1.500 baixas (mortos, feridos ou aprisionados) na tropa holandesa e 300 luso-brasileiros (ROLIM, 2020).

A partir daí, inicia-se a vultosa participação militar do Exército na história brasileira, seja na atuação política, por meio da tomada de decisões, seja pela imposição da força, durante a pacificação das revoltas que buscavam alterar o arranjo territorial brasileiro. O movimento de independência, por exemplo, se iniciou muito antes do “Grito do Ipiranga”, por meio das articulações de movimentos pró-independência no meio militar, como parte de um aspecto social amplo, que incentivava a derrubada da dominação portuguesa. Segundo a análise do historiador Nelson Werneck Sodré:

Em todos os movimentos de rebeldia, os militares apareceram com destaque e refletiram, em seu próprio meio, a aversão aos lusos, com a particularidade, no caso da força armada, de que, nela, o problema era hierárquico, pois os comandos eram lusos, havendo choque entres estes e os subordinados (SODRÉ, 1968, p. 95).

Prova disso, é que a inconfidência mineira, “movimento da elite da capitania de Minas Gerais, contou com a participação de muitos militares, com destaque para o Ten Cel dos Dragões Francisco de Paula Freire de Andrade e o Alferes de Cavalaria, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que assume a total culpa, sendo o único enforcado” (MOURA, 2020). Na visão de Santiago (2020), as disputas entre os liberais e conservadores, favorecidas pela crise econômica e intensificadas após a independência, semearam o surgimento de diversas revoltas espalhadas pelo país, como: na Bahia, no Pará, no Pernambuco e ao sul do império a guerra da cisplatina. 

Inegavelmente, a participação militar nos processos de libertação e independência do país, se mostraram valiosos, pelo êxito das campanhas de pacificação e manutenção territorial, principalmente, através da figura de Luís Alves de Lima e Silva, o “Pacificador” e futuro patrono do exército, para a manutenção da estabilidade política e a governança do trono. Estabilidade essa que, posteriormente, se encerraria com a Proclamação da República, também por intervenções militares, em 1889.

Para Brasil (1972), o envolvimento de militares nessas ações, de modo geral, demonstra:

A constância da participação de militares de terra nos movimentos precursores da nossa Independência, se, de um lado, decorre da própria natureza da força terrestre no período colonial – de outro, nos mostra que seu seguimento regular ou profissional, o exército de então, já não era uma classe ou casta, perseguindo objetivos estranhos aos interesses supremos da Nacionalidade nascente (BRASIL, 1972, p. 322).

Portanto, compreender a magnitude das ações e os impactos objetivos dos personagens que moldaram a sociedade em que vivemos é imprescindível, não somente para olharmos o passado de forma crítica, mas acima de tudo, para que não se repitam os mesmos erros. Por fim, as relações entre a atuação do Exército Brasileiro e a política interna do país, das origens à contemporaneidade, denotam uma necessidade de zelar pelo apreço a democracia, afinal, uma instituição de caráter permanente, não deve, de forma alguma, se desviar de seu compromisso originário, de defesa da pátria e suas instituições.

Referências Bibliográficas:

BRASIL. Estado-Maior do Exército. História do Exército Brasileiro. Brasília: Estado Maior do Exército, 1972. 

MOURA, Diego de Souza. Bicentenário da independência do Brasil: o papel do exército no processo de independência. 2020.

ROLIM, Hiago Brasil Barros. Batalha de Guararapes e a formação do Exército Brasileiro. 2020.

SANTIAGO, Daniel. Bicentenário da independência do Brasil: o papel do Exército Brasileiro na manutenção da unidade nacional e integridade territorial. 2020.

SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: editora Civilização Brasileira S.A, 1968.