
Alice Cardoso, acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Ficha técnica:
Ano de publicação: 2020
Autor (a): Suzanne Collins
Gênero: Ficção distópica
País de origem: Estados Unidos
O livro “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, é um prelúdio que se passa cerca de 60 anos antes dos acontecimentos da saga de livros “Jogos Vorazes”. O foco da obra é abordar a juventude de Coriolanus Snow, antes que o mesmo se tornasse presidente de Panem.
Na trama, a guerra entre a Capital e os distritos, também conhecida como Dias Escuros, encerrou há 10 anos. Os pais de Coriolanus morreram durante os Dias Escuros, sua mãe sofreu uma hemorragia, ao tentar dar à luz a sua irmã e seu pai, um oficial de alta patente, foi morto em batalha por um rebelde. Além disso, a fortuna da família Snow, que investia em armas no Distrito 13, foi perdida após o bombardeio da capital ao 13º distrito. Apesar da situação, os Snow se esforçaram para manter a imagem externa de que eles estavam bem, mantendo a cobertura onde moravam.
Coriolanus frequentava a Academia e era um dos alunos mais inteligentes, planejando inclusive entrar na universidade, devido a isso, e ao nome dos Snow ainda possuir certo prestígio, ele conseguiu uma vaga como mentor da 10º edição dos Jogos Vorazes, na qual, pela primeira vez os tributos teriam mentores, e os 22 alunos de maior prestígio da academia estavam responsáveis por isso. Coriolanus acaba por ser designado mentor do tributo feminino do Distrito 12, e é a partir da relação entre eles e as ações que Snow tem para manter seu status e conseguir ingressar na Universidade, é que se desenrola o restante da história.
Durante o enredo, Snow é questionado diversas vezes pela Dra Gaul, idealizadora chefe dos Jogos Vorazes, a respeito do significado dos Jogos e dos “três Cs” – Caos, Controle e Contrato. Após refletir sobre tais perguntas, Snow chega à conclusão de que os Jogos Vorazes são um lembrete da natureza caótica do homem, e é necessário que a Capital intervenha para manter o controle, evitar o caos e garantir a sobrevivência.
Assim, podemos analisar a obra a partir da Teoria Realista das Relações Internacionais. Análogo à conclusão de Snow, a respeito do significado dos Jogos Vorazes e das reflexões sobre Caos, Controle e Contrato, está o pensamento do contratualista e um dos pensadores mais relevantes do paradigma realista,Thomas Hobbes, acerca do estado de natureza e o contrato social.
Segundo Hobbes, o homem em seu estado de natureza pré-contrato social vivia em estado constante de caos, medo e guerra, já que não havia um poder maior e comum que mantivesse a paz e a harmonia entre eles. A solução então, para sair deste estado de conflito natural seria, para Hobbes, o “Pacto Social”, o qual o homem abdica de sua liberdade em prol da garantia de segurança e proteção. Em seu livro “O Leviatã”, Hobbes se utiliza da figura mitológica do Leviatã, um monstro gigantesco, para sinalizar como o Estado deveria ser para garantir o cumprimento do Pacto Social, e para tal, o Estado precisa ser como a figura do Leviatã: forte e impor a obediência através do medo.
Sendo assim, o que se pode concluir acerca da análise da obra através da Teoria Realista das Relações Internacionais, sob a perspectiva Hobbesiana, é que os Jogos Vorazes representam o homem em seu estado de natureza caótico pré-contrato social, e a Capital, se utilizando de sua força e poder para impor controle sobre os cidadãos de Panem, especialmente os dos Distritos, utilizando o espetáculo anual de Jogos Vorazes para impor medo, agindo como o Leviatã sugerido por Thomas Hobbes.
Referências bibliográficas:
SILVA, Marcos. O LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES COMO BASE PARA O ENTENDIMENTO DO PARADIGMA REALISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Revista Iluminart, v. 1, n. 6, 2011. Disponível em:http://revistailuminart.ti.srt.ifsp.edu.br/revistailuminart/index.php/iluminart/article/view/112/116 . Acesso em: 4 set. 2023.
