Thais Carvalho, acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais

Ficha técnica:

Ano: 2022

Diretor: Renato Barbieri

Distribuidora: Downtown / Paris

Gênero: Drama. Biografia.

Países de origem: Brasil

Livremente inspirado em uma história real, “Pureza”, o longa-metragem nacional, protagonizado por Dira Paes, é ambientado na década de 90 e acompanha a vida de Pureza Lopes Loyola, na busca pelo seu filho Abel (Matheus Abreu) que saiu de casa com o intuito de trabalhar em um garimpo no estado do Pará e misteriosamente desaparece.

Ao longo da trama, o espectador acompanha a coragem e determinação de Pureza, ao sair de sua cidade natal, determinada a descobrir o paradeiro de seu filho. Após viajar diversas horas para o Pará, a protagonista descobre a possibilidade de seu filho ter sido aliciado a trabalhar em uma grande fazenda, para derrubar a mata nativa, com o intuito de criar pastos para os gados, porém, os donos destas fazendas eram muito conhecidos por aliciar trabalhadores, oferecendo um grande salário e a garantia de uma boa vida.

Assim, Dona Pureza – como será chamada ao longo do filme – consegue se empregar como cozinheira, em uma dessas fazendas, com a intenção de procurar Abel. Porém, a protagonista irá se deparar com as péssimas condições de vida e a superexploração da mão-de-obra, em que os trabalhadores eram submetidos. Presenciando o uso de trabalho análogo a escravidão na fazenda, Pureza é submetida a presenciar os maus tratos, as constantes ameaças e a extrema exploração dos trabalhadores nessas terras, o que a torna mais determinada a encontrar o seu filho e ajudar os outros individuos que foram tristemente enganados por tais fazendeiros e jagunços.

Explorando a temática que, infelizmente, ainda é contemporânea, o longa-metragem apresenta cenas extremamente marcantes e tristes, que exemplificam perfeitamente as condições às quais estes trabalhadores são forçados a conviver, e é a partir de tal ponto, que Dona Pureza, com a ajuda de uma servidora do Ministério do Trabalho, viaja a Brasília, com a intenção de relatar tudo o que presenciou no interior do Pará. Porém, a protagonista é duramente desacreditada entre os intelectuais do país, o que a torna ainda mais determinada a conseguir provas suficientes que ajudem a criar um grupo especial de fiscalização em grandes terras ao redor do território brasileiro.

Como dito anteriormente, a trama é inspirada na história real de Pureza Loyola, por isto, faz-se válido elucidar a importância do trabalho e dedicação de tal mãe brasileira, uma vez que sua luta foi decisiva para criação do Grupo Especial Móvel de Fiscalização, em 1995, que passaram a observar o cumprimento das leis e os direitos trabalhistas ao redor de todo o território nacional. A atuação ativa de Pureza, na luta contra a escravidão contemporânea, foi reconhecida pela Anti-Slavery International, a organização mais antiga de combate ao trabalho escravo ao redor do globo, pela qual, ganhou o prêmio Anti-Escravidão, em 1997, na cidade de Londres, Inglaterra (CUT, 2022).

Analisando a obra cinematográfica sob a ótica das Relações Internacionais, a discussão acerca de trabalho análogo à escravidão na contemporaneidade, no âmbito nacional e internacional, torna-se ainda mais relevante, haja vista que apesar de estar garantido no Artigo IV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que nenhum individuo será mantido em servidão ou escravatura, tal direito ainda não alcança a todos os cidadãos do mundo.

Nesse sentido, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu, em 1999, como seu objetivo central, o conceito de Trabalho Decente, cuja intenção é promover à todos os indivíduos oportunidades de alcançar um trabalho adequadamente remunerado, equitativo e seguro, que garanta a todos os sujeitos uma vida digna. Como representação da atuação e colaboração dos Estados, em prol da melhoria de condições de trabalho e a diminuição das desigualdades sociais, o Brasil lançou, em 2006, a Agenda Nacional de Trabalho Decente (ANTD) cujo principal propósito é a erradicação do trabalho análogo à escravidão, maior geração de empregos dignos e igualdade de oportunidades aos individuos (OIT, 2023).

Por fim, pode-se afirmar que a obra cinematográfica “Pureza”, carrega consigo a beleza e a luta de uma brasileira que trabalhou duramente para garantir o combate e a maior fiscalização de trabalhos análogos a escravidão, no território brasileiro e que suas ações reverberaram mundialmente, influenciando positivamente o cenário nacional e as relações internacionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL, Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.Artigo 4°: “Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos”. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2018/novembro/artigo-4deg-201cninguem-sera-mantido-em-escravatura-ou-em-servidao-a-escravatura-e-o-trato-dos-escravos-sob-todas-as-formas-sao-proibidos201d . Acesso em: 18 set. 2023.

FILME Pureza: a história real de uma mãe contra o trabalho escravo. CUT – Central Única dos Trabalhadores. Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/filme-pureza-a-historia-real-de-uma-mae-contra-o-trabalho-escravo-20f2 . Acesso em: 18 set. 2023.

OIT. Promoção do Trabalho Decente no Brasil. Brasília; Genebra: Escritório da Organização Internacional do Trabalho, 2023.