
Stefany Campolungo – acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da Unama.
No dia 19 de setembro, o Presidente Lula fez seu discurso de posicionamento na Assembleia Geral da ONU. Como de costume, o Brasil sempre abre a Assembleia sendo o primeiro a discursar desde 1955. Neste ano, o Presidente Lula, diferente de seu antecessor, aproveitou os minutos dados para reafirmar sua liderança global, utilizando a famosa frase “O Brasil está de volta”, sendo aplaudido por tal. Seu discurso foi recheado de críticas por vezes esquecidas pelo antecessor, que tocavam diretamente na ferida dos países considerados nortes globais, tendo até mesmo críticas ao próprio Conselho de Segurança, pedindo eficácia e maior representatividade deste.
Os teóricos Robert Keohane e Joseph Nye, argumentam que instituições internacionais desempenham um papel crucial na promoção da cooperação e da estabilidade nas relações entre os Estados, com uma “interdependência complexa”, onde, além da interdependência econômica, há múltiplas áreas de cooperação entre os Estados, incluindo questões de Direitos Humanos e Meio Ambiente, coisas que o Presidente Lula preza bastante em seu discurso político, levado também à Assembleia Geral, onde o foco principal foi a desigualdade no mundo e também a cobrança de apoio financeiro de países ricos para adotar medidas de proteção ao meio ambiente. (G1, 2023)
Keohane também argumenta que as instituições internacionais estabelecem normas que podem moldar o comportamento do Estado, como tratados, acordos e convenções que enfatizam a cooperação e o multilateralismo. (NYE;KEOHANE, 1977) Em seu discurso na Assembleia Geral, Lula também critica os organismos internacionais, afirmando que tais instituições reproduzem desigualdades, se tornando parte do problema, utilizando o exemplo do Fundo Monetário Internacional, que disponibilizou US$ 160 bilhões a países europeus e somente US$ 34 bilhões a países africanos. O Presidente também mencionou o Brics como uma solução justa para países considerados sul global.
Os conflitos armados também foram um dos pontos principais do discurso do Presidente, que escancarou a incapacidade dos países-membros da ONU de alcançarem a paz mundial e aproveitou para criticar as sanções impostas a Rússia, exemplificando a dificuldade de alcançar objetivos de paz enquanto causam grande prejuízo a população, que é a mais afetada.
No mais, o Presidente Lula utilizou os 21 minutos de sua fala e sua posição de principal líder do sul global para repreender as instituições internacionais e países que abraçam a causa da luta solidária e justa, mas que não tem coragem para lutar contra as injustiças que por vezes elas mesmas causam. É inegável que o Presidente preza pelo multilateralismo e pela cooperação para reafirmar o Brasil com sua política externa, diferente de seu antecessor, que preferia utilizar um discurso voltado para a soberania nacional. Assim como em seus mandatos em 2003 e 2009, o Presidente não mudou suas pautas, mostrando uma luta por reformas no Conselho de Segurança e também no combate à desigualdade.
REFERÊNCIAS:
Carazza, B. (2023). Diferenças entre Lula e Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU. Valor. Disponível em: <https://valor.globo.com/opiniao/bruno-carazza/coluna/diferencas-entre-lula-e-bolsonaro-na-assembleia-geral-da-onu.ghtml>. Acesso em 01 de Out. 2023
Mazui. G. (2023). Lula: Discurso na Abertura dos Debates da Assembleia Geral da ONU. G1. Disponível em <https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/09/19/lula-discurso-abertura-dos-debates-da-assembleia-geral-da-onu.ghtml>. Acesso em 01 de Out. 2023
Britannica, Inc. Robert O. Keohane. Enciclopédia Britannica Online. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Robert-O-Keohane#ref1290005>. Acesso em 01 de Out. 2023
NYE, Joseph S. KEOHANE, Robert O. Power and Interdependence,1977).
