
Railson Silva (acadêmico do 6º semestre de RI da UNAMA)
Por muito tempo, a teoria realista das Relações Internacionais teve seus diálogos em volta das ideias sobre a segurança internacional, dominantes tanto na prática quanto nos debates em RI. E durante o período da Guerra Fria conceitos sobre a segurança foram aperfeiçoados por vários pensadores, em especial, John H. Herz, que, em 1950, traz a ideia do dilema de segurança, que por sua vez, tentava representar a relação das superpotências no contexto de guerra (SARFATI, 2006)
O autor teuto-estadunidense abordou o termo para se referir à corrida armamentista durante a Guerra Fria entre as superpotências, Estados Unidos e União Soviética (HERZ, 1950). Nesse viés, o debate sobre segurança internacional à época era dominado pela Guerra Fria e levantava questões de como lidar com o poder nuclear. Para Herz, a bomba atómica é apenas a manifestação extrema de um dilema com o qual as sociedades humanas tiveram de lidar desde o início da história. Assim, segundo o autor, o dilema da segurança é a causa sumarizada do histórico de fracassos dos grandes movimentos sociais e políticos modernos de caráter idealista e transformador (Herz, 1950, pp. 159-180).
O acadêmico germano-americano John Herz retrata o mundo bipolar pós-guerra fria e idealiza a teoria so dilema de segurança (HERZ, 2020). Naturalmente, o pensador não criou o termo em si, porém o conceitualizou, visto que, desde Tucídides (460-400 a.C) o termo é utilizado para retratar o receio de um estado soberano perante crescimento de poder político e bélico de uma entidade rival. Assim, para o autor o dilema da segurança é eminentemente estrutural e nada tem a ver com uma suposta natureza humana: “se o homem é naturalmente pacífico e cooperativo, ou dominador e agressivo, não é a questão” (Herz, 1950, p. 157).
No artigo em que o autor cunhou o termo, “Idealist Internationalism and the Security Dilemma”, foram analisadas diversas questões fundamentais, como a natureza humana e a inevitável prontidão para o conflito entre unidades políticas. Hertz entendeu que existem duas maneiras de resolver problemas essenciais em questões internacionais, uma é através do realismo político, e a outra é o pelo idealismo político. O primeiro considera questões de segurança e competição de poder, enquanto o segundo acredita que o poder pode ser esvaziado à medida que o bem comum, os direitos e a ética são difundidos (HERZ, 1950).
Ademais, o autor aborda uma questão fundamental de sua abordagem: a ilusória igualdade soberana das nações. Hertz chama a isto “nacionalismo idealista”, que seria equilibrado por “nacionalismo integrado”, um termo que o autor invoca para expressar a realidade competitiva, agressiva e expansiva do sistema internacional. Dado que ninguém poderá sentir-se inteiramente seguro num mundo de unidades concorrentes, surge a competição de poder e inicia-se o círculo vicioso de segurança e acumulação de poder (HERZ, 1950).
Diante do exposto, é imprescindível a compreensão de que os Estados que buscam garantir seu lugar no SI capitalista com autonomia agem de maneira a equilibrar os elementos sistêmicos de riqueza e poder. Nessa perspectiva, John Herz é um importante teórico para Relações Internacionais, tendo em vista que, suas abordagens abrem espaço para discussões voltadas aos fundamentos do sistema internacional de poder, bem como jogar luz sobre a discussão acerca das instabilidades sistêmicas que afetam as relações entre os Estados nacionais.
Referências:
BARCELLOS, J. M. V. B. Dilema de segurança e equilíbrio de poder: as instabilidades do sistema interestatal capitalista e seu funcionamento. Diálogos Internacionais, vol. 8, n.8 7. 2021. Disponível em: < https://dialogosinternacionais.com.br/?p=1587>.
HERZ, John. Idealist Internationalism and the Security Dilemma. World Politics, vol. 2, n. 2. 1950.
SARFATI, Gilberto.Teoria das Relações Internacionais, 2006.
