Keity Oliveira e Lara Lima (acadêmicas do 6º semestre de RI da UNAMA)

A urgência com que se discute sobre as mudanças climáticas e suas reverberações no meio ambiente é crescente, sobretudo após o Acordo de Paris, firmado em 2015. Assinado por 195 países, é responsável por ser o tratado global sobre o clima, tendo como principal objetivo a contenção do aumento do aquecimento global.

Nos últimos anos, os desafios climáticos foram se intensificando e, hoje, as secas, que assolam a região amazônica, são um retrato dessa intensificação. Antes a região que era conhecida por seus rios caudalosos, atualmente, enfrenta uma seca histórica, devido à falta de chuvas e ao aumento das temperaturas.

O cientista Paul Crutzen, nos anos 2000, cunhou a teoria de uma nova era geológica chamada de Antropoceno. Do ponto de vista desta, o autor afirma que o planeta Terra sempre seguiu uma evolução predeterminada pelas forças geológicas desde a sua criação, há cerca de 4,5 milhões de anos. O desenvolvimento da agricultura e o início da primeira Revolução Industrial eclodiram um boom populacional e este feito transformou a pressão sob os recursos naturais e promoveu uma aceleração no uso destes.

Dessa forma, Crutzen explica que a partir das constantes alterações no clima e na biodiversidade, causadas por ações humanas, o planeta entraria em uma nova era geológica, denominada por ele como Antropoceno e caracterizando os impactos do homem na Terra (Artaxo, 2014).

Diante desta teoria, têm-se o agravamento das mudanças climáticas, sejam elas em nível global, regional e até mesmo local, de forma lenta ou acelerada e que mostram os resultados por trás das ações antrópicas desenfreadas no meio ambiente.

No Brasil, essas transformações já podem ser observadas pelo aumento de produção da biomassa, mortalidade de árvores e ecossistemas, aumento de temperatura e alterações na distribuição e abundância de espécies, elevando assim, o CO2 atmosférico e que são consequências de atividades predatórias, que aumentam a vulnerabilidade dos ecossistemas e ameaçam a biodiversidade existente no país.

Em consonância, Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil, afirma que a combinação entre mudanças climáticas, desmatamento desenfreado e o fenômeno El Niño, que consiste no aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, contribuem para o seguimento da seca. Este fato gera o aumento das queimadas e o efeito de estiagem, que impacta diretamente no regime das chuvas (Castro, 2023).

Dos 62 municípios que formam o estado do Amazonas, 59 declararam estado de emergência, inclusive Manaus. A seca tem atingido diversos rios amazônicos, um exemplo deles é o Rio Negro que em 2023, registrou a pior seca em 121 anos, no qual o nível da água baixou para 12,99 metros (Castro, 2023). Diferente de 2021, que as chuvas intensas levaram o Rio Negro a superar o maior nível de água em 120 anos.

Os efeitos da estiagem já são preocupantes, com a seca do Rio Negro, alguns lagos situados em Manaus secaram e as comunidades que dependem dos lagos para o tráfego e trabalho, estão com dificuldade até mesmo de acesso a água potável, assim como estão em um nível maior de vulnerabilidade com suas casas flutuantes por conta dos efeitos climáticos.

Conforme o Cemaden, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, as previsões apontam que a seca durará até dezembro, conforme o fenômeno El Niño atingir a máxima intensidade (Ferrante, 2023). De acordo com um estudo do órgão, o déficit de chuvas em 2023, entre julho e setembro, foi o mais grave desde 1980 e as regiões mais afetadas foram o norte do Pará e o interior do Amazonas.

O secretário da Organização das Nações Unidas (ONU), usou o termo ebulição global, para se referir a gravidade do momento atual, e aos vários registros de mortalidade da fauna amazônica. No município de Tefé, no Amazona, conhecida por ter a maior reserva florestal do Brasil dedicada à proteção da várzea amazônica, contabilizou a morte de mais de 120 botos somente este ano (Lima, 2023).

Os pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, juntamente com outros profissionais, consideram que as causas das mortes se dão devido à falta de oxigênio e ao calor extremo. A pesquisadora Miriam Marmontel, líder do grupo de pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, ressalta que as mortes estão diretamente relacionadas com as mudanças climáticas e os efeitos da seca extrema (Lima, 2023).

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou no mês de setembro 6.991 focos de incêndios florestais, segundo pior registro desde quando o instituto começou a monitorar incêndios em 1998 (Lima, 2023). A qualidade do ar na região amazônica se encontra em estado de calamidade, principalmente em Manaus, sendo um dos mais graves, condizente com o aplicativo de monitoramento da Selva, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

Os impactos da crise climática são diversos, e vai muito além da mortalidade da fauna e flora, engloba também as comunidades tradicionais que já se encontram isoladas, ou que já estão sofrendo com dificuldades de deslocamento, transporte de alimentos, medicamentos e o abastecimento de água.

A água se torna algo raro, privatizada por aqueles que a utilizam em detrimento de benefício próprio. Aquilo que antes era direito de qualquer indivíduo, torna-se bem do mercado, monopolizado por oligopólios. Exemplo disso é o que vem acontecendo em regiões como no Maranhão, em que fazendeiros utilizam de violência para impedir o acesso de pescadores artesanais em lagoas que antes eram de livre acesso, mas que recentemente foram cercadas pelos fazendeiros que implementaram estado de terror nas áreas (Estrela, 2023).

Outrossim, a epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, afirma em entrevista para a Amazônia Real, que “serão justamente os que pouco ou quase nada contribuem para essa crise climática os mais penalizados. É desumano, cruel e injusto ver essas pessoas adoecendo e morrendo por doenças plenamente evitáveis”, (Lima, 2023).

A reação da floresta amazônica nos mostra que já estamos no limite do desmatamento e da degradação ambiental, prejudicando até nós mesmos. É necessário ações contundentes e urgentes, para poder moderar os impactos das secas e preservar o ecossistema amazônico, que é de grande importância para a regulação do clima global.

O estabelecimento de um paradigma de governança para a Amazônia, com apoio político, institucional e da própria sociedade civil se faz de extrema importância com intuito de combate as atividades ilegais que cada vez mais avançam pelo território.

Diante da temática exposta, recomendamos dois documentários para complementar os estudos, o primeiro é um webdocumentário chamado “O Amanhã é hoje – o drama de brasileiros impactados pelas mudanças climáticas” (2018). O longa mostra que os impactos do clima já alcançaram todos os brasileiros, estejam na cidade, no campo ou na floresta. O filme é resultado da união de sete organizações da sociedade civil que juntaram esforços para tirar da invisibilidade as histórias dos afetados pelas mudanças climáticas. Disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:

<https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ&ab_channel=OAmanh%C3%A3%C3%89Hoje>

O segundo se chama “Rios Voadores da Amazônia – Sem Floresta não tem água” (2018), uma produção com parceria entre o Brasil e a Alemanha. O longa discute os chamados “rios voadores”, importante fenômeno natural que abastece todo o Brasil com água e que com o intenso desmatamento, está sendo ameaçado. Dessa forma, se a Amazônia se transformar numa estepe, os “rios voadores” param de fluir, implicando graves consequências para o meio ambiente, como as longas e persistentes secas. Disponível para ser assistido no Youtube, através do link a seguir:

<https://www.youtube.com/watch?v=0Mwo5PVB0ro&ab_channel=GIZBrasil>

Recomendamos também o trabalho realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, criado em 1999, que desenvolve atividades por meio de programas de pesquisa, manejo de recursos naturais e desenvolvimento social, especialmente no Estado do Amazonas. Entre seus objetivos, estão a aplicação da ação de ciência, tecnologia e inovação de estratégias e políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade amazônica. Para mais informações, acesse:

Site: <https://mamiraua.org.br/>

Instagram: <https://www.instagram.com/institutomamiraua/>

Facebook: <https://www.facebook.com/institutomamiraua/>

Por fim, indica-se o Observatório do Clima, fundado em 2002 e que representa uma rede de organizações da sociedade civil, tendo como principal objetivo discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, que incluem representatividade, pluralidade e longevidade na discussão de mudanças climáticas.

Site: <https://www.oc.eco.br/>

Instagram: <https://www.instagram.com/observatoriodoclima/>

Facebook: <https://www.facebook.com/ObservatorioClima>

REFERÊNCIAS

ARTAXO, Paulo. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno? Revista USP, n. 103, p. 13-24, 2014. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/99279> Acesso em: 30 de outubro de 2023.

CASTRO, Fábio. Crise climática: seca severa na Amazônia é agravada por desmatamento e fogo.  WWF. Publicado em: 16 de outubro de 2023. Disponha em: <https://www.wwf.org.br/?87003/Crise-climatica-seca-severa-na-Amazonia-e-agravada-por-desmatamento-e-fogo#:~:text> Acesso em: 29 de outubro de 2023.

ESTRELA, Giovanna. Armado, fazendeiro ameaça pescador que implora para não morrer. Metrópoles. Publicado em: 13 de outubro de 2023. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/armado-fazendeiro-ameaca-pescador-que-implora-para-nao-morrer-video> Acesso em: 30 de outubro de 2023.

FERRANTE, Lucas. Seca na Amazônia: Entenda as causas e a necessidade de um plano de ação imediato para salvar o bioma. THE CONVERSATION. Publicado em: 13 de outubro de 2023. Disponível em: <https://theconversation.com/seca-na-amazonia-entenda-as-causas-e-a-necessidade-de-um-plano-de-a> Acesso em: 29 de outubro de 2023.

LIMA, Wérica. O que cientistas e pesquisadores dizem da seca histórica na Amazônia brasileira.Amazônia Real.Publicado em: 24 de Outubro de 2023. Disponível em: https://pt.globalvoices.org/2023/10/24/o-que-cientistas-e-pesquisadores-dizem-da-seca-histori> Acesso em:  29 de outubro de 2023.

MONTEIRO, Eliena. Rio Negro continua descendo e fica abaixo dos 13 metros em Manaus. G1. Publicado em: 23 de outubro de 2023. Disponível em: <https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/10/23/rio-negro-continua-descendo> Acesso em: 29 de outubro de 2023.