
Localizado no extremo sul da Península Arábica, no sudoeste da Ásia, fazendo fronteira com a Arábia Saudita a norte e oeste, com Omã a sudeste e com o Mar da Arábia ao sul, o Iêmen é um país historicamente rico, com uma cultura que remonta a milhares de anos que é conhecida por sua arquitetura de terraços e edifícios históricos, como a Cidade Velha de Sanaa, que é um Patrimônio Mundial da UNESCO (UNESCO, 2011) e é território de uma população de mais de 33 milhões (Dados Mundiais, 2023) composta por, majoritariamente, muçulmanos e muçulmanos sunitas. Considerado um dos lugares de origem da civilização árabe, atualmente, o país é marcado por conflitos e instabilidades políticas, resultando em um péssimo desenvolvimento econômico e social, deixando o país em uma verdadeira crise humanitária.
A guerra no Iêmen teve início em 2014 quando rebeldes houthis, de orientação xiita, tomaram controle da capital Sanaa e parte do norte do país. Isso desencadeou uma resposta militar, liderada pela Arábia Saudita e apoiada por uma coalizão de países árabes e com respaldo de potência do ocidente.
Esse embate é frequentemente visto como uma luta pelo poder entre diferentes grupos no Iêmen, exacerbando tensões históricas entre as comunidades sunitas e xiitas, os houthis, conhecidos formalmente como Ansar Allah, alegam lutar contra a corrupção e a marginalização política buscando uma representação mais justa no governo, por outro lado, o governo liderado pelo presidente Abdrabbuh Mansur Hadi procura restaurar a ordem constitucional.
Com a intervenção militar da Arábia Saudita, que visava conter a influência dos houthis que são apoiados pelo Irã, uma potência xiita regional, o conflito rapidamente se intensificou com bombardeios aéreos, combates terrestres e um bloqueio naval, contribuindo para a deterioração das condições humanitárias.
Vale destacar também a influência norte-americana nesse processo. Segundo dados da Universidade de Brown, os EUA gastaram mais de 8 trilhões de dólares em guerra, incluindo na do Iêmen. O resultado foram os diversos impactos devastadores sobre a população civil, dados da ACNUR destacam o elevado número de vítimas, incluindo mulheres e crianças.
A situação desastrosa que acontece no Iêmen hoje é invisível perante o cenário internacional, uma vez que os noticiários raramente mencionam os horrores que acontecem naquele território. Segundo dados da European Civil Protection and Humanitarian Aid Operations (2023), 21,6 milhões de iemenitas precisam de assistência humanitária, 17,4 milhões de iemenitas encontram-se em estado de insegurança alimentar, 20,6 milhões precisam de assistência médica e 17,8 milhões não têm acesso a água potável e saneamento básico. Nesses mesmos dados, o Iêmen se classifica como um dos países do Oriente Médio mais pobres.
O país enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo com milhões de pessoas dependentes de ajuda externa. Os Corredores humanitários, por exemplo, sofrem diversas debilidades para chegar até a capital e diversos outros pontos, o que na visão de Hugo Grotius, um importante teórico do Direito Internacional, é uma grande violação do direito humano.
Publicado em 1625, “O Direito à guerra e da paz”, a obra de Hugo Grotius permanece atemporal, ao ponto de olhar para tal obra e poder relacionar com os acontecimentos que vem ocorrendo no Iêmen, por exemplo. Neste livro, Grotius fala sobre o “Ius in bello”, que é o direito na guerra, onde o direito internacional deveria reagir para impedir que os civis sofressem na guerra e preservar a dignidade humana. Entretanto, nota-se que essa reação não acontece, uma vez que essa guerra perdura até os dias de hoje, ocasionando numerosas mortes e empobrecimento do povo iemenita.
Por fim, a necessidade de um cessar-fogo é imprescindível, uma vez que a fragilização da soberania daquele território é evidente tal qual a autodeterminação do seu povo, os impedidos de viver e obter a sua dignidade, que é um direito humano.
Por um Iêmen livre e soberano.
Referências:
GUERIN, Orla. A guerra é esquecida que deixa milhares de crianças feridas e passando fome. BBC, 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gz5q58vgwo. Acesso em: 10/11/2023
PAIXÃO, Fernanda. Em nome da Paz EUA gastaram mais de 8 trilhões em invasões militares desde 2001. Brasil De Fato, 2022. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/03/05/em-nome-da-paz-eua-gastaram-mais-de-us-8-trilhoes-em-invasoes-militares-desde-2001. Acesso em: 15/11/2023 DE HUDAYDAH, Jean-Nicolas Beuze. Conflito do Iêmen atinge a marca de seis anos e mulheres lutam para sobreviver. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2021/04/09/conflito-no-iemen-atinge-a-marca-de-seis-anos-e-mulheres-lutam-para-sobreviver/. Acesso em: 15/11/2023
