
Cristine Oliveira, acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais
Ficha técnica:
Ano: 2023
Diretora: Peter Sohn
Distribuidora: Disney
Gênero: Animação
Países de origem: Estados Unidos
O filme “Elementos”, dirigido por Peter Sohn, se passa na Cidade Elemento, uma metrópole em que seres de terra, ar, água e fogo coabitam. A premissa, que inicialmente parece ser simples, transcende o clássico clichê de amor proibido, apresentando a cativante jornada de Faísca, uma jovem do elemento fogo, e Gota, do elemento água. A história dos protagonistas ultrapassa barreiras e explora questões sociais profundas, como imigração, desigualdade social e xenofobia.
A obra cinematográfica é inspirada na vida pessoal do diretor, Peter Sohn, cujos pais migraram da Coreia do Sul para os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor. A protagonista, Faísca, carrega consigo a história de sua família, a qual se mudou para a Cidade Elemento pouco antes de seu nascimento, em busca de oportunidades. A jovem cresce ajudando seus pais na loja da família, e sonha em administrá-la em um futuro próximo, o que muda radicalmente ao conhecer Gota.
A jornada desses dois elementos opostos inicia-se quando Gota, representante do elemento água, para acidentalmente no porão da loja dos pais de Faísca, por meio de um vazamento de água. O encontro inesperado dos dois e o medo de colocar em risco a vida dos pais da protagonista e dos moradores do bairro do fogo, fazem com que eles unam forças para encontrar uma maneira de evitar essa grande catástrofe. O que eles não esperavam, era que isso acabaria criando um laço forte entre eles dois, capaz de superar as barreiras sociais entre esses dois mundos.
Desde o início da trama, torna-se evidente as dificuldades enfrentadas pelo povo do fogo, na cidade metropolitana, uma vez que tanto o espaço urbano quanto a própria sociedade não foram pensadas para incluí-los adequadamente. Ao longo do filme, percebem-se diálogos sutis, que os habitantes da cidade têm em relação ao povo do elemento fogo, como a estranheza em relação à sua culinária e a ignorância ao não saberem pronunciar o nome dos pais de Faísca, optando por os renomear com um nome considerado “entendível” ao chegarem à metrópole.
Outro ponto de destaque, enfatizado pelo próprio diretor no documentário “A Química da Pixar: Tudo sobre Elementos”, é a diferença de classe entre os protagonistas. Enquanto Gota reside na parte mais abastarda da cidade e usufrui de certos privilégios devido a abundância de seu elemento no planeta, Faísca vive em um bairro periférico e enfrenta a realidade de viver em um mundo que, de certa forma, não foi feito para ela.
Dessa maneira, é possível apontar alguns aspectos da produção cinematográfica que convergem com o pensamento do teórico Pós-colonial Edward Said. Conforme Said, a concepção de oriente está intrinsecamente ligada à de ocidente, sendo uma apresentada como antítese da outra. Enquanto o Ocidente é tido como avançado e civilizado, o Oriente é frequentemente percebido como atrasado e selvagem. Portanto, o Orientalismo é entendido como um mecanismo colonialista ocidental, manifestado por meio da cultura, da língua e de discursos que seguem os moldes ocidentais, visando dominar, reestruturar e exercer autoridade sobre o Oriente (Said, 2007).
Logo, conclui-se que o filme “Elementos” é uma obra complexa e emocionante, a qual, torna acessível para todos os públicos, a discussão de temas como imigração, xenofobia e desigualdade, assim como apresenta uma linda história de amor e autodescoberta. Ao abordar questões sociais baseadas na vivência pessoal do diretor, enquanto filho de imigrantes coreanos, pode-se observar como que o orientalismo ainda se faz presente ainda hoje, destacando a importância e atualidade do pensamento do teórico Edward Said para as Relações Internacionais.
Referências:
KEMI. A origem do Perigo Amarelo: Orientalismo, colonialismo e a hegemonia euroamericana. Disponível em: https://outracoluna.wordpress.com/2017/03/26/ahttps://outracoluna.wordpress.com/2017/03/26/a-origem-do-perigo-amarelo-orientalismo-colonialismo-e-a-hegemonia-euro-americana/origemdo–perigo–amarelo–orientalismo–colonialismo–e–a–hegemonia–euro–americana/.
SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007
