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 Recentemente, a erupção de conflitos como as guerras na Ucrânia e na Palestina tomaram conta dos noticiários internacionais. Apesar do elevado custo humano e a devastação desencadeados por uma guerra, em um mundo onde o modelo econômico é predominantemente capitalista, os conflitos encontram-se intrinsecamente ligados à lógica da acumulação de capital. Sendo assim, discorrer sobre a conexão entre o capitalismo e a guerra é indispensável para compreendermos os jogos de interesses que influenciam na dinâmica do sistema internacional.

 Nesse âmbito, além da indústria bélica, clara beneficiária com surgimentos e escaladas de conflitos devido ao aumento na demanda por armamentos e por munições, há também de se destacar a relação do mercado financeiro com a guerra. Temática abordada pelo jornal inglês The Economist (2023), em um texto que preocupa-se em tratar sobre como investidores deveriam considerar o impacto de uma possível Terceira Guerra Mundial para os seus portfólios visando formas de garantir retornos em seus investimentos.

 Outrossim, é de suma importância analisar a guerra como mecanismo de ascensão de Estados no sistema econômico internacional vigente. Isso ocorre, pois os altos investimentos na área bélica e distensão entre a esfera moral e política adotadas pelos chefes de Estados, viabiliza oportunidades para obter lucro não somente no período de guerra, mas também em suas consequências, como na ascensão estadunidense, Estado berço do capitalismo, durante as duas grandes guerras, apropriando-se do cenário instável na Europa com seus planos econômicos e empréstimos, facilitando a sua hegemonia econômica no século XX (Bandera, 2014, online).

Nesse sentido, paralelo à obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel (1996), autor realista moderno, discute a natureza da guerra como inexorável e meio para a manutenção e expansão do poder. Ademais, destaca que um bom líder, o “príncipe”, é aquele dotado da “Virtù”, habilidade política para explorar oportunidades, mesmo em situações adversas, como nas guerras. Assim, deslocando a concepção de Maquiavel ao contexto contemporâneo, a exploração das guerras para adquirir poder econômico reflete a verdadeira intenção de um Estado, demonstrando sua racionalidade e unidade, logo, reforçando a ideia central das relações entre Estados: o poder.

 Ademais, advento das forças do capitalismo, tal modelo pode se relacionar com as guerras como de forma para inibi-las ou controlá-las, com imposição de sanções econômicas. Conforme o economista Paolo Pasquariello em entrevista com BBC News (2022), reitera que atualmente o emprego de sanções econômicas com intuito de fragilizar os Estados que invadam ou gere conflitos com outros países. Com isso, tal estratégia, utilizadas tanto na guerra entre Rússia e Ucrânia, na África do Sul e o apartheid, quanto na guerra do Kuwait, é possível devido à necessidade, por partes dos Estados, do comércio internacional para o fortalecimento deles e para a acumulação de riquezas no sistema capitalista.

Nesse viés, a relação simbiótica entre o modelo econômico capitalista vigente e a a guerra fica evidente, principalmente suas variadas formas de entrelaces e objetos de análise. Outrossim, compreende-se que as relações de poder e interesses dos Estados estão atreladas também ao acúmulo de capital devido a predominância do modelo econômico, e que a guerra é um modo de obter lucro e influência de forma incisiva. 

 Referências:

BANDERA, Vinicius. Construção da ordem internacional capitalista do Pós-II Guerra: ascensão e queda de Bretton Woods. [s. l.], 2014. Disponível em: https://www.jus.uniceub.br/relacoesinternacionais/article/view/2523/2101. Acesso em: 27 nov. 2023. 

BBC. Sanções econômicas funcionam? O que a história diz sobre o sucesso dessas medidas. BBC, 20 mar. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60792976. Acesso em: 27 nov. 2023

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Maria Lucia Cumo. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996.

THE ECONOMIST. What a third world war would mean for investors. THE ECONOMIST, 30 out. 2023. Disponível em: https://www.economist.com/finance-and-economics/2023/10/30/what-a-third-world-war-would-mean-for-investors. Acesso em: 26 nov. 2023