Keity Oliveira e Lara Lima (acadêmicas do 6º semestre de RI da UNAMA)

O Acordo de Paris estabeleceu um objetivo ambicioso de limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2º C acima dos níveis pré-industriais (Modelli, 2023). Para atingir esse objetivo, será necessário descarbonizar grande parte do sistema energético global que ainda depende fortemente de combustíveis fósseis poluentes. Assim, nos últimos anos, um novo tema passou a ser central na agenda internacional: incentivar as transições ambientais e energéticas para garantir um futuro verde e sustentável.


Nessa perspectiva, o Brasil tem uma posição de destaque para se tornar um grande exportador de hidrogênio de baixo carbono, por apresentar favoráveis condições climáticas para geração de energia elétrica por meio de fontes renováveis e limpas. A produção em larga escala de hidrogênio verde no Brasil é uma das metas energéticas estabelecidas pelo governo Lula e que se apresenta como um plano ambicioso e estratégico para o país.


O hidrogênio pode ser encontrado principalmente em sua forma gasosa H2, estando presente em hidrocarbonetos e na molécula de água. O hidrogênio verde (H2V) é produzido a partir da eletrólise da água por meio de fontes renováveis como eólica e solar, um processo de separação da molécula de água (H20) em hidrogênio (H2) e o oxigênio (02) por meio da passagem de uma corrente elétrica na solução aquosa (WWF, [s.d])


Dessa forma, o hidrogênio pode ser utilizado não somente como combustível no setor de transportes, mas também como matéria-prima para produtos em outros setores como na indústria de aço e metais e a farmacêutica. Assim como também pode ser utilizado como fonte de energia quando combinado as células a combustível, o que irá influenciar diretamente na redução de emissões de GEE se produzido a partir de fontes renováveis. Hoje, os países líderes na produção de H2V são Alemanha, Japão e China.


A descarbonização consiste em um processo de redução de emissão de carbono na atmosfera, principalmente do dióxido de carbono (CO₂). Os projetos desenvolvimentistas dependentes de carvão, petróleo e gás, que visavam aumentar a economia, acabaram aumentando também a emissão de CO₂, um dos maiores vilões que causam o efeito estufa, que por sua vez gera aquecimento global e das mudanças climáticas.


Nesse sentido, a Amazônia Legal, que é composta por 9 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), tem grande carência no que diz respeito ao setor energético. A região é responsável por cerca de 27% da eletricidade nacional produzida em hidrelétricas, no entanto, vive à base de combustível fóssil.


Para Rubén Souza, diretor do Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a questão energética na Amazônia precisa ser vista também como um investimento para o desenvolvimento sustentável local. Ele ainda ressalta que, se os Estados pensassem desse modo, não se utilizariam de combustíveis fósseis. Também ressaltou que a energia solar não é a melhor opção para a Amazônia, pois na fabricação dos painéis se utiliza de minério, o que por sua vez movimenta a indústria de mineração, além de serem produzidos na China, o maior emissor de gases do efeito estufa (Pontes, 2023).


O pesquisador, ainda cita exemplos de alternativas com potencial, como a gaseificação do açaí, uso da casca do cupuaçu, da castanha do Pará, caroço de tucumã e a produção de álcool à base da mandioca, que é considerada uma das soluções mais limpas e promissoras. Todas essas biomassas regionais citadas poderiam ser usadas na geração de hidrogênio verde, que além de frearem as mudanças climáticas, poderiam se tornar um viés alternativo para a economia da população local. Porém, para isso acontecer, é necessário políticas públicas, somente assim para que o Brasil consiga descarbonizar com a Amazônia de pé.


Em 2022, foi anunciado um projeto de inovação para a indústria, que conta com o apoio do Senai e da Eletronorte, objetivando explorar a produção de hidrogênio verde (H2V), com foco na aplicação de energia solar, na região amazônica. As organizações anunciaram as propostas selecionadas para o programa que iria destinar R$ 12 milhões para o financiamento de pesquisas de desenvolvimento na Usina Hidrelétrica de Balbina, localizada no estado do Amazonas (Brasil, 2022).


Consoante o projeto, os selecionados vão aproveitar os recursos provenientes da região, como recursos naturais e placas solares, para a produção de H2V, assim complementando o fornecimento hídrico da usina. A hidrelétrica Balbina é responsável por uma grande produção de gases do efeito estufa (GEE), principalmente devido à sua área inundada não ter sido desmatada.


Segundo o ecólogo Alexandre Kemenes, Balbina gera 10 vezes mais gases de efeito estufa por megawatt produzido do que uma termelétrica. Nas partes mais profundas do lago, é produzido metano, que tem um efeito estufa 25 vezes maior do que o dióxido de carbono, e esse metano é liberado para a atmosfera (Fonseca, 2013). O projeto a ser desenvolvido é de grande relevância, pois conta com uma fonte de energia limpa e a hidrelétrica caminharia junto com a sustentabilidade, agredindo menos o meio ambiente.


Com o Brasil expandido para fontes de energia renováveis, a diminuição das emissões de CO₂ se tornam uma realidade possível para a descarbonização do Brasil. Para Jefferson Gomes, diretor de inovação e Tecnologia do Senai Nacional, os projetos de viabilização podem impulsionar as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) brasileiras. A produção de hidrogênio verde é uma grande oportunidade para o Brasil ser protagonista e alcançar as metas acordadas na COP26 (Brasil, 2022).


As perspectivas para o hidrogênio verde na Amazônia são grandes, embora os custos de produção ainda sejam muito altos, o que chama atenção para a necessidade de países com maior aparato tecnológico e financeiro, de auxiliarem países em desenvolvimento via fundos de financiamento para iniciativas verdes.


O potencial do H2V é uma fonte de energia promissora que reduz as emissões de carbono, sendo economicamente viável e verdadeiramente sustentável na região amazônica, rica em recursos que podem auxiliar no processo de criação de H2V.


Dessa forma, no dia 02 de dezembro desse ano, foi anunciado pelo governo federal brasileiro a parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Mundial para investimentos em hidrogênio verde. A assinatura do documento aconteceu durante a COP 28, em Dubai, e valida a possibilidade de co-financiamento, garantias, financiamento de assistência técnica e o desenvolvimento de linha de crédito a ser concedida pelos bancos (Moliterno, 2023).


Outrossim, o documento engloba projetos de captura de carbono, eletrolisadores e equipamentos associados, logística e infraestruturas compartilhadas em hubs voltados para essa tecnologia, combustíveis sintéticos e a descarbonização industrial. O ambicioso plano coloca em perspectiva a possibilidade do Brasil ser, até 2030, o país mais competitivo do mundo na produção de hidrogênio verde, consolidando as metas energéticas do governo Lula.


Portanto, diante da crise climática vivenciada pelo globo, diversos países estão buscando soluções para diminuir os efeitos das mudanças climáticas, sendo uma delas a alternativa para suprir suas demandas crescentes de energia que afeta diretamente a produção de gases poluentes na atmosfera. A produção de hidrogênio verde vem ganhando espaço no cenário global, no qual é esperado que o Brasil, através de parcerias e financiamentos com outros países, se torne um Estado estratégico na produção do mesmo. Embora a fonte de energia seja muito cara, é uma grande oportunidade para a mitigação da degradação ambiental que contribua com o meio ambiente.


Diante do tema exposto, recomendamos a leitura do livro “Energia Do Hidrogênio Para Uma “Economia Verde”: Reflexões sobre o Brasil” (2013), do autor Filipe Lube, que apresenta uma análise sobre o desenvolvimento da energia do hidrogênio no Brasil, numa perspectiva de “esverdeamento” da sua matriz energética. Em sua análise, o autor identifica iniciativas e oportunidades para o desenvolvimento desta energia no país. O livro está disponível para ser adquirido na Amazon, através do link a seguir:


< https://www.amazon.com.br/Energia-Hidrog%C3%AAnio-Para-Economia-Verde/dp/3639898443/ >


Além disso, destacamos o trabalho feito pelo Portal Hidrogênio Verde, criado para estimular o intercâmbio entre oportunidades e soluções para os desafios de cooperação estratégica na área das tecnologias do hidrogênio verde. Seu principal objetivo como um portal online de informações, é o fomento do networking, identificando novos negócios, estabelecendo cooperações e criando um entendimento conjunto dos requisitos e demandas, em diferentes países para posicionar o Brasil como um parceiro estratégico para a importação de hidrogênio verde. Para mais informações, acesse:


Site: < https://www.h2verdebrasil.com.br/ >


Por fim, recomendamos a organização sem fins lucrativos ONG Verde – Educação Ambiental, Agroecologia e Energias Renováveis, cujo objetivo é contribuir ativamente para a formação de pessoas que desejem construir um planeta sustentável e todas as ações da ONG estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Para mais informações, acesse:


Site: < https://ongverde.org/ >


LinkedIn: < https://www.linkedin.com/in/ong-verde-b803b2297?utm_source=share&utm_campaign= >


Instagram: < https://www.instagram.com/ong.verde?igsh=MWp4eGdwNDZoeDJheQ== >

REFERÊNCIAS


BRASIL, Millena. Eletronorte elege cinco projetos para produção de hidrogênio verde no Amazonas. epbr. Publicado em: 29 de setembro de 2022. Disponível em: < https://epbr.com.br/eletronorte-elege-cinco-projetos-para-producao-de-hidrogenio-verde-no-amazonas/ > Acesso em: 22 de dezembro de 2023.


FONSECA, Vandré. Balbina: boa de metano, ruim de energia. Eco. Publicado em: 04 de dezembro de 2013. Disponível em: < https://oeco.org.br/reportagens/27823-balbina-boa-de-metano-ruim-de-energia/ > Acesso em: 22 de dezembro de 2023.


IBERDOLA. Princípios e ações regulatórias da descarbonização energética que contribuem para um marco sustentável e eficiente para combater as mudanças climáticas. [s.d]. Disponível em: < https://www.iberdrola.com/quem-somos/descarbonizacao-economia-principios-acoes-regulacao > Acesso em: 22 de dezembro de 2023.


MODELLI, Laís. COP28: os desafios, as oportunidades e o que poderá ser decidido. Greenpeace Brasil. Publicado em: 20 de novembro de 2023. Disponível em: < https://www.greenpeace.org/brasil/blog/cop28-os-desafios-as-oportunidades-e-o-que-podera-ser-decid > Acesso em: 22 de dezembro de 2023.


MOLITERNO, Danilo. BNDES e Banco Mundial fecham parceria para investimento em hidrogênio verde. CNN. Publicado em: 02 de dezembro de 2023. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/economia/bndes-e-banco-mundial-fecham-parceria-para-investimento-em-hidrogenio-verde/ > Acesso em: 25 de dezembro de 2023.


PONTES, Nádia. A importância da Amazônia na produção de energia limpa. DW. Publicado em: 06 de março de 2023. Disponível em: < https://www.dw.com/pt-br/a-import%C3%A2ncia-da-amaz%C3%B4nia-na-prod > Acesso em: 22 de dezembro de 2023.
WWF Brasil. Hidrogênio Verde. [s.d]. Disponível em: < https://www.wwf.org.br/nossosconteudos/educacaoambiental/conceitos/hidrogenio_verde_/ > Acesso em: 25 de dezembro de 2023.