Cristine Oliveira, acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais 

Ficha técnica:  

Ano: 2016

Diretor: Babak Anvari

Distribuidora: Netflix

Gênero: Terror

Países de origem: Jordânia. Catar. Reino Unido

O filme “À sombra do medo”, dirigido por Babak Anvari, se passa em Teerã, capital do Irã, durante a guerra entre Irã e Iraque. A história apresenta Shideh e sua família, composta por seu marido, Iraj, e sua filha, Dorsa. Shideh, após seu marido ser enviado ao front da guerra para atender feridos, se vê sozinha com sua filha em meio aos constantes bombardeios em Teerã e passa a lidar com uma ameaça inesperada.

A película inicia apresentando Shideh, uma ex-estudante de medicina, que parou seus estudos para dedicar-se à criação de sua filha. A protagonista tenta retomar seus estudos, no entanto é impedida devido a sua participação ativa na revolução de 1979. Com a escalada do conflito entre Irã e Iraque, o marido de Shideh, que é médico, é convocado para atender feridos em uma cidade próxima a Teerã, deixando sua esposa e sua filha sozinhas. Apesar dos apelos de seu marido, Shideh decide permanecer no prédio com Dorsa e enfrentar a realidade perigosa.

Em meio ao desespero causado pela guerra, Dorsa perde sua boneca e alega que a mesma foi capturada por um “Djinns”, uma espécie de entidade que se apropria de bens importantes para suas vítimas e posteriormente se apossa de suas almas. Assoladas pelo medo, mãe e filha são obrigadas a enfrentar os males do ataque agravados pela presença aterrorizante da entidade.

O longa-metragem, através da protagonista, explora as limitações impostas às mulheres na sociedade iraniana na década de 80. Ao contar a história de Shideh, o filme lança luz sobre um aspecto da guerra pouco explorado pelas produções cinematográficas: a perspectiva das mulheres, destacando o cuidado muitas vezes invisível e os sonhos frequentemente negligenciados. O “Djinns” além de apresentar uma ameaça sobrenatural para as protagonistas, pode ser interpretado enquanto uma metáfora para as barreiras sociais que permeiam a trajetória de vida das mulheres.

Nesse contexto, a teoria Feminista das Relações Internacionais dialoga com o filme apresentado. Em seu livro “Gender in International Relations: feminist perspectives on achieving global security” (1992) Tickner discute a marginalização das mulheres no âmbito internacional, causada pela valorização da masculinidade na construção das políticas internacionais. Tickner (1992) aponta que a construção social de gênero impacta diretamente nas estruturas de poder que perpetuam as desigualdades, visto que os campos político e militar são dominados majoritariamente por homens, e, consequentemente, as teorias que estudam o comportamento desses atores reflete essa realidade hierarquizada.

Dessa maneira, entende-se que a obra cinematográfica “À sombra do medo”, ao explorar as experiências femininas em um cenário de guerra, contribui para a ampliação das discussões feitas pela teórica da Relações Internacionais J. Ann Tickner, ao questionar as estruturas de poder estabelecidas.

Referências: 

TICKNER, J. Ann. Gender in international relations: Feminist perspectives on achieving global security. Columbia University Press, 1992.