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Rayana Yukari Fachinetti Inomato – Acadêmica de Relações Internacionais

Após as eleições presidenciais em um país, compreender as perspectivas econômicas que o novo chefe de Estado adotará torna-se crucial, especialmente em estados economicamente instáveis, como, por exemplo, o caso da Argentina, onde Javier Milei assumiu a presidência em um cenário adverso, diante da inflação e juros elevados.

Desde a campanha eleitoral de 2023 na Argentina, a figura do candidato ultraliberal Milei tem reverberado internacionalmente, em virtude de sua ideologia política, de polêmicas em seus discursos e, especialmente, de sua ideologia econômica, sendo primeiro presidente autodeclarado “anarcocapitalista” da história (GAZETA DO POVO, 2023). Destarte, é de suma importância analisar quais serão as medidas econômicas implementadas por Milei e avaliar seus impactos tanto no âmbito local quanto no cenário internacional.

Inicialmente bem recebido pelo mercado, o governo de Javier Milei implementou uma política de tratamento de choque na economia argentina. As medidas, que visam desregulamentar a atividade econômica e pavimentar o caminho para privatizações de empresas estatais, foram fortemente rechaçadas pela sociedade argentina e agora encontram um cenário de desconfiança de investidores e nova desvalorização do peso (G1, 2024), demonstrando que o cenário interno argentino é extremamente instável e incerto.

Além disso, a Argentina enfrenta grandes dificuldades decorrentes de constantes déficits na sua balança de pagamentos e a falta de divisas externas. A escassez de reserva internacional é um problema antigo da Argentina, que recentemente se agravou devido à uma seca histórica que prejudicou a produção agrícola do país (G1, 2023), que tem no setor os seus principais produtos para a exportação, especialmente para atender ao mercado chinês.

Historicamente, a Argentina é um país que convive com crises econômicas constantes e fracassados planos de estabilização. Nesse âmbito, é importante destacar que a economia argentina possui fatores estruturais que a levam à instabilidade e às relações de dependência, quando um país tem sua economia condicionada pelo desenvolvimento e a expansão de outras.

É importante ressaltar que a Argentina segue sendo um país extremamente dependente da exportação de produtos do setor primário ao mesmo passo em que importa bens altamente tecnológicos. A dinâmica, segundo Prebisch (1988), consistia na tendência de deterioração dos termos de trocas, ou seja, os preços dos produtos primários exportados pelos países em desenvolvimento como a Argentina tendem a cair em relação aos produtos industrializados importados dos países desenvolvidos.

A economia argentina tende a ter uma balança comercial deficitária, algo que a torna ainda mais vulnerável a fatores como secas e a mudanças no cenário internacional, tornando medidas como a busca por empréstimos internacionais para cobrir déficits na balança de pagamentos uma constante na política externa argentina.

Não obstante, as reformas promovidas pelo governo de Javier Milei denotam seguir uma cartilha profundamente neoliberal, modelo que consiste no não intervencionismo estatal e na maior participação da iniciativa privada na economia. Somado a isso, o neoliberalismo também defende a flexibilização de direitos trabalhistas e o corte de gastos em serviços públicos, principalmente em programas sociais.

Com isso, o planejamento econômico argentino deve seguir a linha de abertura da economia Argentina para a iniciativa privada, mesmo que isso resulte em maior instabilidade econômica e agravamento das desigualdades sociais.

Sendo assim, a política econômica de Javier Milei, que visa a desregulamentação do mercado e o alinhamento automático com o Ocidente em detrimento das relações do país com seus parceiros latinoamericanos e os membros do BRICS, mostra-se contraditória em relação às demandas econômicas da Argentina, que atualmente necessita principalmente de empréstimos internacionais para cobrir o déficit na sua balança de pagamentos.

Nesse sentido, compreende-se uma perspectiva de instabilidade para os fluxos econômicos da Argentina, em principal devido sua forte dependência da exportação de produtos primários em relação à sua alta importação de bens terciários tendendo a um déficit na balança comercial, além de seu baixo manejo entre demandas internas, externas e políticas governamentais, não colaborando para um crescimento e desenvolvimento econômico do país.

REFERÊNCIAS:
GAZETA DO POVO. Os desafios de Javier Milei, o primeiro líder anarcocapitalista eleito no mundo. 25 nov 2023. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/desafios-javier-milei-primeiro-lider-anarcocapitalista-eleito-mundo/. GAZETA DO POVO. Acesso em: 1 jan. 2024

G1. Eleições na Argentina: entenda os desafios econômicos que o novo presidente precisará enfrentar. 22 out 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/10/22/eleicoes-na-argentina-entenda-os-desafios-economicos-que-o-novo-presidente-precisara-enfrentar.ghtml. G1. Acesso em: 12 jan. 2024

G1. Mercado argentino dá choque de realidade a Milei após ‘lua de mel’. 10 jan 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/01/10/mercado-argentino-da-choque-de-realidade-a-milei-apos-lua-de-mel.ghtml. G1. Acesso em: 12 jan. 2024

PREBISCH, Raúl. Dependencia, interdependencia y desarrollo. Revista de la CEPAL, 1988.