Julia Castro, acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica:

Ano: 1949

Autor (a): George Orwell

Gênero: Ficção Distópica, Ficção Científica, Ficção Política

País de Origem: Reino Unido

Um dos romances mais importantes da literatura mundial e do século XX, “1984” é um inquestionável clássico moderno. O livro é considerado uma distopia futurista, tendo como cenário uma sociedade altamente controlada, onde os fatos são distorcidos e a população é constantemente vigiada.

A narrativa se passa na Pista No. 1, nome da Inglaterra sob o regime totalitário do Grande Irmão e sua ideologia IngSoc (Socialismo Inglês), e conta a história de Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade da Oceania, cuja função é reescrever a história e alterar dados, alinhando-a com o pensamento político atual. A Oceania é um dos três superestados totalitários em guerra perpétua (os outros dois são a Eurásia e a Lestásia), e diariamente, os cidadãos param o trabalho por dois minutos para atacar histericamente o foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. O anseio de Winston pela verdade o leva a se rebelar secretamente contra o governo, comprando ilegalmente um diário para poder expressar seus pensamentos criminosos.

O Estado controla o pensamento dos cidadãos através de muitos meios, seja pela manipulação da língua (Novilíngua) ou por “teletelas”, que são televisores espalhados em lugares públicos e em todos os cômodos das casas. Winston se sente frustrado com a opressão e o controle rígido do Partido, que proíbe o livre-arbítrio, o sexo e qualquer expressão de individualidade. Após conhecer Julia, uma jovem que também é contra o partido, ambos tem encontros ás escondidas, já que relacionamentos eram extremamente proibidos. Ele também fica obcecado por um poderoso membro do Partido chamado O’Brien, que Winston acredita ser um membro secreto da Irmandade, grupo que trabalha para derrubar o Partido. Mas sem saberem, Winston e Julia estão sendo vigiados de perto a todo instante.

O livro retrata como o Estado pode se impor sobre a população de forma autoritária, através do discurso de poder, promovendo a “docilização” do individuo. Nesse sentido, podemos relacionar a obra com a Teoria Pós Moderna das Relações Internacionais, a partir dos estudos de Michel Foucault. A obra “Vigiar e Punir” (1975) ganhou notoriedade ao investigar as origens de práticas dos discursos e saberes, vinculando-os com as relações de poder. Foucault aborda o tema da “Sociedade Disciplinar”, basicamente um sistema de controle social através da junção de várias técnicas de vigilância e de controle, que se dividem pela sociedade a partir de uma cadeia hierárquica vindo do poder central. Este “Poder das Sociedades Disciplinares” de Foucault foi baseado no modelo do Panóptico de Jeremy Bentham, onde uma penitenciária ideal teria a parte frontal exposta à observação do Diretor por uma torre do alto, no centro, de forma que o Diretor “veria sem ser visto”, fazendo com que os prisioneiros mantivessem um bom padrão de comportamento, pois não sabiam quando estariam sendo vigiados (FOUCAULT, 1987). 

Dentro do conceito Panóptico estão explícitos os elementos essenciais de “1984” como a vigilância, o temor de ser visto e as inspeções constantes, onde a qualquer momento a Polícia do Pensamento poderia entrar e dar voz de prisão aos cidadãos. A figura de autoridade conhecida como “O Grande Irmão” instala teletelas por toda a cidade e em todas as residências, tirando da população qualquer direito à privacidade. Todos os dias ao ir trabalhar, Winston assume o padrão de comportamento previsto pela norma aceita socialmente. Além disso, como membro do Partido Externo, o personagem deve participar de certas atividades e reuniões que comprovam a sua lealdade ao regime (TIAGO, 2015).

Em essência, “1984” é uma poderosa crítica ao poder de manipulação e um alerta sobre os perigos do totalitarismo. George Orwell expõe como a verdade pode ser distorcida e como a sociedade pode ser controlada através do medo e da vigilância constante. A censura que a população da Oceania sofre possibilita diversos paralelos com o sistema em que vivemos como as tentativas de controle do mercado e da sociedade, presente em diversos governos do mundo contemporâneo.

REFERÊNCIAS:

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.

LOWNE, Cathy. Nineteen Eighty-four, novel by Orwell. Britannica. 2024. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Nineteen-Eighty-four

PINTO, Paulo Roberto Giardullo. O Panóptico: Foucault confirma Orwell. Revista Espaço Acadêmico. 2010. Disponível em: https://espacoacademico.wordpress.com/2010/06/19/o-panoptico-foucault-confirma-orwell/

TIAGO, Héllen Nívia. “Poder Por Amor ao Poder”: Uma Análise Discursiva das Relações de Poder em 1984, de George Orwell. 2015. 144 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem), Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Goiás, Catalão.