
Thais Vitória Borges – acadêmica do 7º semestre de RI da UNAMA
O pensamento liberal deu origem a teorias acerca da organização econômica, mas para além disso, também sobre a posição do ser humano na sociedade, o papel do Estado e a legitimidade das instituições; é dentro desta tradição que o ponto de vista idealista possui sua raiz (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). O idealismo assim como o realismo marcam o início dos estudos das Relações Internacionais.
Ancorada em autores antecessores da disciplina, clássicos como: Marsílio de Pádua (1285 – 1343) com O Defensor da Paz; Jean-Jacques Rousseau (1722 – 1778) em O Contrato Social; ou Hugo Grotius (1583 – 1645) discutindo o Direito de Guerra e Paz. O Idealismo Clássico tem como ponto principal o estudo da paz – em contraposição ao enfoque do realismo na guerra -, os fatores que podem suprimi-la ou perpetuá-la, o papel do Estado e a “natureza do homem”, este visto como bom em sua essência (SARFATI, 2000).
As formulações teóricas próprias do campo das RI, tiveram seu início no século XX, com isso, um ponto de vista mais utópico do liberalismo, conhecido também como Idealismo Moderno ou Wilsoniano, terá como principal personalidade Woodrow Wilson (1856 – 1924) ex-presidente dos Estados Unidos e desenvolvedor dos “14 pontos” que deveriam nortear os princípios diplomáticos do sistema internacional no pós Primeira Guerra Mundial. Este idealismo se definirá enquanto uma visão estadunidense das RI, em oposição aos conhecimentos clássicos que eram europeus, nesse sentido, suas premissas serão os valores norte-americanos de liberdade e democracia (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
As violências ocorridas durante a Primeira Guerra Mundial levantaram o debate na comunidade internacional acerca de medidas que viessem garantir a segurança coletiva e individual, tendo como resultado a criação da Liga das Nações em 1919. O idealismo Wilsoniano se faz presente neste contexto, se propondo a apresentar maneiras de organizar o sistema internacional superando os choques de interesses e disputas por poder que haviam levado os Estados à “Grande Guerra”. Essa organização ocorreria através das Organizações Internacionais, promovendo a criação de leis e a cooperação econômica e política entre os Estados (PECEQUILO, 2017).
Com o desenvolver das relações internacionais muitas das afirmativas idealistas se fazem presente contemporaneamente no neoliberalismo ou também chamado de liberal institucionalismo, se trata de uma perspectiva que surge nos anos de 1960 e que tem como premissas as noções do liberalismo incorporadas as mudanças da globalização (PECEQUILO, 2017). Nessa perspectiva, os Estados, como no idealismo, continuam sendo os principais agentes das relações internacionais e o sistema internacional é tido como descentralizado, ou seja, anárquico, tal anarquia porém não representa a desordem proposta por visões realistas, mas sim considerada como uma oportunidade para mecanismos de ordenação desse contexto através da institucionalização (SARFATI, 2000).
Ademais, a ideia básica do liberal institucionalismo é de que os Estados dependeriam da construção de instituições para exercer suas habilidades de comunicação e cooperação entre si. Assim, sendo uma vertente que se preocupa em investigar o papel das instituições sobre os Estados, assumindo como premissas: de que os Estados precisam ter interesses em comum para que queiram cooperar e também como o grau de institucionalização influencia no comportamento dos Estados (SARFATI, 2000).
Sendo os principais autores dessa perspectiva os professores universitários Robert O. Keohane e Joseph S. Nye. Estes que, na obra Power and interdependence (2015), elaboraram questionamentos como: quais seriam as características da política mundial em um contexto no qual a interdependência, sobretudo a econômica, é extensiva; e como e porquê os regimes internacionais se alteram. Como resultado, os autores desenvolveram o conceito de Interdependência Complexa como um exercício de poder dos agentes internacionais.
A área de estudo das Relações Internacionais, assim como a realidade do mundo, é dinâmica, seu desenvolvimento mostra a busca por adaptar as perspectivas já existentes ou construir novas leituras de modo a serem capazes de interpretar as conjunturas do sistema. Com isso, nota-se as modificações do idealismo dentro do campo, o neoliberalismo hoje carrega muito das premissas de tal ponto de vista, com um pensamento mais positivo sobre a cooperação como mecanismo de organização e mediação dos interesses dos agentes do sistema. Nesse sentido, apesar de um debate presente nos estudos clássicos da disciplina, um olhar contemporâneo ainda é marcado por certos questionamentos e premissas dessa visão.
Referências
HARVARD KENNEDY SCHOOL. Joseph Nye: Harvard University distinguished Service Professor. 2023. Disponível em: <https://www.hks.harvard.edu/faculty/joseph-nye>.
KEOHANE, Robert O.; NYE, Joseph S. Power and interdependence. In: Conflict after the cold war. Routledge, 2015. p. 174-181.
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais. Elsevier, 2005.
PECEQUILO, Cristina Soreanu. Introdução às relações internacionais: temas, atores e visões. Editora Vozes Limitada, 2017.
PRINCETON UNIVERSITY. Robert O. Keohane: Professor of International Affairs, Emeritus. 2023. Disponível em: <https://rkeohane.scholar.princeton.edu/>.
SARFATI, Gilberto. Teorias de relações internacionais. Editora Saraiva, 2000.
