Teoria Crítica:  Antonio Gramsci

Railson Silva (acadêmico do 7º semestre de RI da UNAMA)

Dentro do alicerce teórico do campo das Relações Internacionais, a Teoria Crítica tem um grande destaque ao abranger concepções políticas e sociais diversas, as quais elevam suas análises para além do sistema de Estados. E uma das vertentes da teoria crítica mais influentes em Relações Internacionais tem sido o pensamento de Antonio Gramsci, sobretudo na economia política internacional.

Antônio Gramsci, teórico italiano que viveu nos anos 1930, nunca escreveu especificamente sobre Relações Internacionais. Porém, as abordagens desenvolvidas por ele permitem ultrapassar as abordagens mainstream do campo de RI acerca dos estados e da natureza do sistema internacional. Com linhagens marxistas, Gramsci teve seus conceitos resgatados na década de 90, inspirando outros autores na elaboração de novos pontos de vista acerca das conjunturas provenientes das relações internacionais.

Gramsci desenvolve seu pensamento a partir do julgamento às correntes idealistas, presentes estas na filosofia italiana, positivistas e mecânicas do marxismo que eram correntes do movimento socialista do século XX (LIMA, 2012). Nesse contexto, o teórico buscou reconstruir a ontologia social de Marx para fins de criar uma ótica de ação política revolucionária no capitalismo moderno.

A teoria de Gramsci para Relações Internacionais tem por base a organização social da produção e na correlação de forças dentro e fora dos Estados, onde o subjetivo e o objetivo interagem. Assim, as relações sociais são unidade básica de análise das relações internacionais e não os agentes individuais como o estado. Dessa forma, as abordagens gramscianas partem de um caminho contrário as tendências de análise da ordem sistêmica que priorizam o papel de agentes individuais, sobretudo os Estados, em um ambiente anárquico (GILL, 2007).

Segundo Gramsci, para compreender a ação dos homens e dos estados é necessário investigar a historicidade das lutas internas e da construção da hegemonia, levando em consideração as relações sociais internas e externas. Para o pensador, a hegemonia “é o processo de construção do consenso sobre uma visão de mundo (ideologia) ampla e um projeto político amplo, somado ao uso da violência” (MOLL, 2012). Gramsci ampliou de forma significativa o significado do conceito para utilizado para explicar os modos de dominação pela burguesia, além de servi como base teórica para a contraestratégia proletária (LIMA, 2012).

Nessa perspectiva, o estado é reflexo da correlação de forças presente na sociedade civil e expressa na sociedade política, que pode, ou não, resultar na hegemonia de um grupo social. Em outras palavras, a “hegemonia é quando uma visão de mundo de um dado grupo se impõe sobre o conjunto dos demais, mas não simplesmente de forma imperativa e sim através do consenso, com utilização mínima da violência, mas sem prescindir desta” (GRAMSCI, 2002 apud MOLL, 2012).

Antonio Gramsci no período em que esteve prisioneiro na Itália, entre 1926 e 1937 produziu uma obra que o distinguiria, mais tarde, como uma das figuras intelectuais mais importantes do século XX, “Os Cadernos do Cárcere”. Na obra, Gramsci afirma que as Relações Internacionais reagem passiva e ativamente sobre as relações sociais de hegemonia que acontecem dentro dos Estados. Dessa forma, as interações internas de um Estado se conectam com as interações internacionais, resultando em novas combinações originais (MOLL, 2012). Assim, Gramsci enaltece em sua obra que as relações internacionais derivam das relações sociais fundamentais.

Por fim, as abordagens trazidas por Antonio Gramsci para o campo de RI são imprescindíveis para fins de compreensão das conjunturas da arena internacional. Ele traz um meio na qual pose-se analisar as ações dos Estados observando as estratégias das classes e frações de classe dominantes nos mesmos e no Sistema Internacional Capitalista Contemporâneo. Assim, suas abordagens são contra hegemônicas e tem por objetivo criar novas óticas de pensamento e elaborar alternativas para o sistema.

Referênciais:

GILL, Stephen (org). 2007. Gramsci, materialismo histórico e relações internacionais: Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

LIMA, Marcos (org) et al. Teóricos das Relações Internacionais. São Paulo: Hucited Ed. Capes, 2012.

MOLL NETO, Roberto. GRAMSCI E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: para superar a reificação do estado e a anarcofilia. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, Dourados, v. 1, n. 1, p. 76-101, jan/jun. 2012.