Julia Castro, acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica:

Ano: 1991

Diretor (a): Jonathan Demme

Distribuição: Orion Pictures

Gênero: Terror, Thriller, Suspense

País de Origem: Estados Unidos

Baseado no best-seller homônimo publicado em 1988, o filme conta a história de Clarice Starling, uma estagiária do FBI que é destacada para encontrar um assassino que arranca a pele de suas vítimas. Para isso, ela pede ajuda de um psiquiatra, Dr. Hannibal Lecter, preso por canibalismo, para entender a mente do assassino a solta. A adaptação cinematográfica foi um marco para o gênero do Terror e venceu as cinco principais estatuetas do Oscar (Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz e Roteiro Adaptado).

A narrativa começa com a estudante Clarice Starling sendo retirada de seus exercícios no Centro de Treinamento do FBI em Quantico, Virgínia, para ir à sala do oficial Jack Crawford, da Unidade de Ciência Comportamental do FBI. Ele a designa para entrevistar Hannibal Lecter, um brilhante psiquiatra e assassino canibal encarcerado. O FBI quer a ajuda de Lecter para localizar “Buffalo Bill”, um serial killer que dilacera as suas vítimas. Clarice viaja para o Hospital Estadual de Baltimore e é conduzida até Hannibal Lecter. Embora educado inicialmente, Lecter fica impaciente com Starling e a rejeita, mas depois muda de idéia e dá uma pista a ela. Depois de falar com Lecter pela primeira vez, ela percebe que tudo com ele são jogos mentais, com ela tendo que solucionar os enigmas que ele fornece. Enquanto isso, Buffalo Bill sequestra Catherine Martin, filha de uma senadora dos EUA e outra vítima é encontrada, com uma mariposa presa na garganta. Crawford autoriza Starling a oferecer a Lecter um acordo falso prometendo uma transferência de prisão se ele fornecer informações que ajudem a resgatar Catherine.

Clarice visita Hannibal, agora preso no Tennessee e estabelece-se uma ligação entre ambos que leva ele a se interessar pelo perfil psicológico da investigadora e consegue que ela confesse episódios da sua vida. Ela descreve um trauma de sua infância em que ouviu cordeiros gritando no abate no celeiro, mas não conseguiu salvá-los. Lecter especula que ela espera que salvar Catherine acabe com os pesadelos recorrentes que ela tem com esse evento. Satisfeito, ele devolve os arquivos do caso para ela. Naquela noite, Lecter mata brutalmente seus dois guardas e foge de sua cela. Após ser notificada da fuga, Starling analisa as anotações de Lecter e descobre que a primeira vítima, Frederica Bimmel, conhecia Bill antes de ele matá-la, pois ambos eram alfaiates e ela tinha vestidos com modelos idênticos aos dele. Percebendo que Bill estava costurando um “terno feminino” de pele real, ela segue uma pista que a leva à casa do ex-cliente de Bimmel. Lá, ela conhece o verdadeiro Jame Gumb, percebendo que ele é Buffalo Bill depois de avistar uma mariposa em sua cozinha.

A película explora temas de manipulação, poder, crueldade e acima de tudo as motivações de um assassino. Analisando a obra sob um viés internacionalista, remetemos ao Realismo Político, teoria que identifica a natureza humana como: egocêntrica, predatória e propensa ao poder. Segundo Hobbes, na guerra dos homens contra os homens é conseqüência que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, não podem ter lugar. O mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontram ameaçados igualmente (HOBBES, 2003). Durante o filme, podemos sentir a hostilidade e a maldade por todo lado: Chilton abusa de seus presos, Crawford mente para Starling, Buffalo Bill mata e Lecter manipula. Os personagens estão presos em um ciclo de violência. Podemos também sentir o machismo que a protagonista sofre, sendo constantemente julgada por olhares desconfiados dos homens.

Segundo Hans Morgenthau, a idéia da balança de poder serve como limite para o poder nacional, sendo compreendida como uma distribuição de poder aparentemente igual entre os Estados e usados como modo de limitação do poder nacional pelos Estados rivais. Se o poder pode ser definido como um controle sobre as ações e as mentes das pessoas, atitudes como a dissuasão são atitudes políticas, pois visam controlar a mente do rival de modo a “manipular” suas expectativas (LIMA, 2011). Após conhecer Clarice, Lecter nota uma moça forte e determinada, mas que ainda precisa buscar um ponto de equilíbrio. Para isso, ele exerce forte influência sobre ela, entrando em sua mente e explorando seus traumas. Seus encontros com o psiquiatra não só a tocam profundamente como contribuem para o processo de investigação.

A dinâmica entre Clarice e Hannibal retrata a relação dos psicopatas e suas vítimas, a capacidade que exercem sobre eles, sem que suas intenções sejam percebidas, além de provocar confusões mentais e conduzir situações como bem desejam. Dessa forma, concluímos que “O Silêncio Dos Inocentes” faz uma excelente abordagem sobre o estudo do comportamento humano e a formação de personalidades, assim podemos também compreender as dinâmicas de poder entre estados no sistema internacional.

REFERÊNCIAS:

BITTENCOURT, Paulo V. Z. Política internacional, do pensamento realista à teoria neorrealista: O pensamento teórico de Hans Morgenthau e Kenneth Waltz em perspectiva comparada. Revista Intratextos, 2017.

CARVALHO, Marcos. A obscura natureza do ser humano em O Silêncio dos Inocentes. República do Medo. Disponível em: https://republicadomedo.com.br/a-obscura-natureza-do-ser-humano-em-o-silencio-dos-inocentes/

HOBBES, Thomas. Leviatã. Tradução: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2003.

LIMA, M. R. S. “Morgenthau e o realismo político”. In: MEDEIROS, Marcelo de Almeida; LIMA, Marcos Costa; VILLA, Rafael; REIS, Rossana Rocha. Clássicos das relações internacionais. São Paulo: Hucitec, 2011,

NOVAIS, Helena. Sem passado e sem futuro, Hannibal Lecter emerge como o ícone de um mal incompreensível. Cineplayers. 2008. Disponível em: https://www.cineplayers.com/criticas/silencio-dos-inocentes-o