Por Ana Paula Praxedes, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais na UNAMA.

Nascida em 2 de Agosto de 1986, em Montana, EUA, Lily Gladstone é uma atriz nativo americana que recentemente alcançou os holofotes ao retratar a mulher Osage Mollie Burkhart no filme Killers of the Flower Moon (2023), do diretor Martin Scorsese. Sendo de herança indígena dos grupos étnicos Siksikaitsitapi (Blackfeet) e NiMíiPuu (Nez Perce), Gladstone foi criada na Reserva de Blackfeet, em Montana, por seus pais: Howard Gladstone, jornalista e trabalhador estaleiro e descendente indígena; e sua mãe, Betty Gladstone, especialista em educação infantil e de ascendência holandesa e cajun (KING, 2024).

Sua primeira experiência no palco foi em uma adaptação teatral de Cinderella, no Teatro Infantil de Missoula, e rapidamente as artes de performance e dança tornaram-se interesses de Gladstone, que buscou conforto no teatro como forma de lidar com o bullying que sofreu durante a infância. Aos 11 anos, Lily e sua família mudaram-se de Montana para Seattle, no estado de Washington, na procura de emprego e melhores oportunidades. Seguindo a carreira de atriz, Gladstone se formou no Mountlake Terrace High School em 2004, sendo eleita como “Mais Provável de Ganhar um Oscar” por seus colegas de turma. Logo depois, frequentou a Universidade de Montana, formando-se em 2008 com um bacharelado em Belas Artes e especializando-se em Estudos Indígenas (KELLAWAY, 2017).

Depois de se formar, Gladstone performou em diversas produções nacionais, trabalhando com distintas celebridades. Foi em 2016 que a atriz conseguiu o papel de destaque no filme Certain Women, que relata a história de quatro mulheres que têm suas vidas entrelaçadas enquanto lidam com seus problemas em um contexto patriarcal. Em seguida, a atriz se juntou à companhia de atuação do Oregon Shakespeare Festival, em 2017, o que a proporcionou papéis em First Cow (2019) e The Unknown Country (2022).

Entretanto, foi em 2020, no auge da pandemia, que a carreira da atriz tomou proporções ainda maiores. Questionando se conseguiria sustentar-se na atuação, Gladstone chegou a considerar uma mudança de carreira. Mas foi durante uma reunião com o cineasta Martin Scorsese que a atriz foi escalada no filme Killers Of the Flower Moon, que retrata uma série de assassinatos na Reserva de Osage, em Oklahoma, durante a década de 1920. Interpretando o papel de Mollie Burkhart, uma mulher real da etnia Osage, Gladstone passou meses estudando sua personagem, participando ativamente de diversas reuniões com o povo Osage para compreender e retratar corretamente a comunidade. (BURACK, 2023).

Durante a temporada das premiações, Lily Gladstone faz história como a primeira mulher nativa a ganhar prêmios como melhor atriz, entre eles o Globo de Ouro, pelo desempenho emocionante no filme Killers of the Flower Moon, filme de Martin Scorsese. Durante a cerimônia, Gladstone marcou a ocasião ao começar seu discurso de aceitação na língua Blackfeet, algo que nunca havia sido feito no palco do Globo de Ouro. Gladstone seguiu seu discurso agradecendo sua mãe, que apesar de não ser do povo Blackfeet, trabalhou incansavelmente para trazer a língua nativa para as salas de aula, algo incomum na época, uma vez que durante as décadas de 80 e 90 eram comuns a existência de escolas internas, onde crianças indígenas eram despojadas de sua identidade nativa em defesa de uma sociedade branca (QUIROZ, 2024).

É possível associar a carreira da atriz Lily Gladstone com a teoria Pós-Colonial nas Relações Internacionais. A teoria examina as relações de poder entre indivíduos e atores internacionais à luz do legado do colonialismo, destacando como as hierarquias e as desigualdades sociais são moldadas por práticas coloniais (SARFATI, 2005). Dessa forma, torna-se essencial desafiar estruturas e práticas globais, desmontando narrativas hegemônicas e promovendo a compreensão e a diversidade. Lily Gladstone desafia tais estruturas ao demonstrar quem pode ter sucesso na indústria cinematográfica, principalmente ao considerar o histórico de marginalização e sub-representação de povos indígenas na indústria do cinema. Sua ascensão em Hollywood destaca a importância de reconhecer e valorizar as vozes e perspectivas de comunidades colonizadas e apagadas da narrativa hegemônica.

Ainda, ao valorizar sua cultura nativa e utilizar a língua Blackfeet em lugares historicamente segregatórios, Gladstone ressalta a importância do resgate e da preservação cultural, além do empoderamento linguístico como formas de resistência frente ao legado colonial. Em um contexto recente, onde por décadas o governo dos Estados Unidos financiou e elaborou mecanismos de punição e apagamento de identidades indígenas, sua atitude desafia as normas eurocêntricas da indústria do entretenimento, destacando o papel dos povos indígenas para a construção do mundo contemporâneo e a importância da celebração das identidades culturais nativas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BURACK, Emily. Meet Actress Lily Gladstone, the Breakout Star of Killers Of
The Flower Moon. Town&Country, 20 de Outubro de 2023. Disponível em: https://www.townandcountrymag.com/leisure/arts-and-culture/a43978462/who-is-lily-gladsone

KELLAWAY, Kate. Lily Gladstone. The Guardian, 12 de Fevereiro de 2017.
Disponível em:
https://www.theguardian.com/film/2017/feb/12/lily-gladstone-interview-certain-women
-kristen-stewart-kelly-reichardt

KING, Thad. Lily Gladstone, Biography. BRITANNICA, 25 de Fevereiro de 2024.
Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Lily-Gladstone


QUIROZ, Lilly. Actor Lily Gladstone brings the Blackfeet language to the main
stage. NPR, 26 de Janeiro de 2024. Disponível em:
https://www.npr.org/2024/01/22/1226019196/the-effort-behind-getting-the-blackfeet-l
anguage-taught-on-the-tribes-reservation.


SARFATI, G. Teorias de relações internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005