Thaís Carvalho, acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais 

Ficha técnica:

Diretor (a): Martin Scorsese

Ano: 2023

Distribuição: Paramount Pictures

Gênero: Drama, História, Policial

Países de Origem: Estados Unidos da América

Em “Assassinos da Lua das Flores”, a mais nova obra cinematográfica do célebre cineasta norte-americano Martin Scorsese, é retratado a história da nação Osage, um grupo indigena minoritário nos Estados Unidos que após a descoberta de petróleo em suas terras tornam-se uma das populações mais ricas daquele período (Veja, 2023). Ao longo da trama, a nação Osage começa a lidar com inúmeros casos de membros assassinados cujas investigações nunca foram resolvidas pela polícia local .

O longa-metragem foi baseado no livro-reportagem “Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, morte e a origem do FBI” do jornalista David Grann, o qual relata a investigação realizada acerca da nação Osage, a qual foi vítima de crimes brutais devido a ganância de brancos locais no estado de Oklahoma durante os anos de 1920 (Chippu, 2023). Assim como na obra literária, o filme explora os crimes cometidos contra os membros Osage, ressaltando o preconceito, a ganância e a origem da criação de uma das agências de inteligência mais relevantes dos EUA, o FBI.

O filme conta a história de Mollie Kile (Lily Gladstone), uma mulher Osage que se casa com Ernest Burkhart (Leonardo Dicaprio), um homem branco que devido aos planos de reivindicação das terras ricas da nação Osage, proposto por seu tio William Hale, acaba se envolvendo nos casos de assassinatos de membros nativos, incluindo a morte de sua cunhada Rita Smith, com o intuito de angariar toda a riqueza da família de Mollie para ele. Muitos dos crimes cometidos contra os Osage não eram solucionados graças à corrupção local existente, porém foi somente após os membros Osage irem a Washington pedir que ações fossem tomadas e pagarem ao Governo norte-americano para iniciar investigações, que ações cabíveis foram iniciadas.

E foi desse modo que em 1925, J. Edgar Hoover, chefe da agência recém-criada chamada de Departamento de Investigação (que posteriormente se tornou o FBI), envolveu-se na investigação dos crimes violentos contra os povos nativos do estado de Oklahoma. O caso Osage foi a primeira investigação de grande proporção trabalhada pelo Departamento de Investigação (Veja, 2023).

O longa-metragem aborda temáticas como a violência contra povos nativos – pouco abordada na história norte-americana-, o preconceito, a crença da superioridade branca e a ganância de pessoas mal-intencionadas, explicitando o pensamento colonialista da sociedade daquele período, podendo-se relacionar com a teoria decolonial das Relações Internacionais, a qual apresenta uma perspectiva crítica que argumenta que as relações internacionais foram moldadas através do processo de colonização e imperialismo, e busca uma análise que leve em consideração as experiências dos povos oprimidos como forma de romper com esta estrutura (Espanhol, 2017).

Ou seja, ao retratar a dinâmica de exploração e violência contra o povo Osage pelos brancos locais ao longo da obra, o que motiva a união da nação em prol de uma investigação justa em relação aos crimes cometidos, o filme se assemelha ao pensamento decolonial das Relações Internacionais, uma vez que o longa explicita que as ações tomadas pelos Osage romperam com o pensamento colonial existente na sociedade local, o que possibilitou até mesmo a criação de uma agência de investigação.

Segundo o teórico decolonial Walter Mignolo em sua obra ”Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking” (2012), faz-se necessário desafiar as narrativas hegemônicas que minimizam a violência exercida contra os povos nativos, argumentando que tais violências foram parte de um processo amplo de dominação que moldou não apenas as identidades locais, mas também sustentam o sistema internacional e as relações de poder entre os Estados.

Por fim, torna-se notório a relevância das temáticas abordadas ao longa de “Assassinos da Lua das Flores” e como o debate acerca da violência contra os povos nativos ainda se faz necessário e presente nas discussões na arena internacional.

Referências:

ADORO CINEMA. Assassinos da Lua das Flores. 2023. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-245813/ . Acesso em: 26 de fev. de 2024.

CHIPPU. Assassinos da Lua das Flores: Conheça a história real por trás do filme. 2023. Disponível em: https://www.chippu.com.br/noticias/assassinos-da-lua-das-flores-historia-real. Acesso em: 26 de fev. de 2024.

ESPANHOL, C. O. O Pensamento decolonial como perspectiva contra-hegemônica nos debates teóricos das Relações Internacionais. 6º Encontro da ABRI: Perspectivas sobre o poder em um mundo em redefinição. Belo Horizonte, julho de 2017.

MIGNOLO, Walter. Local histories/global designs: Coloniality, subaltern knowledges, and border thinking. Princeton University Press, 2012.

VEJA. 3 fatos reais chocantes de ‘Assassinos da Lua das Flores’. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/e-tudo-historia/3-fatos-reais-chocantes-de-assassinos-da-lua-das-flores#google_vignette. Acesso em: 26 de fev. de 2024.