Julia Castro, acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais

Ficha Técnica:

Ano: 1998

Diretor (a): Tony Bancroft, Barry Cook

Distribuição: Walt Disney Pictures, Buena Vista Pictures

Gênero: Aventura, Musical

País de Origem: Estados Unidos

Baseado na lenda milenar chinesa de Hua Mulan e um dos últimos filmes do período conhecido como “Renascimento da Disney”, a animação narra a história de Fa Mulan, uma destemida jovem que arrisca a própria vida e finge ser um homem para poder entrar no exército chinês e ocupar o lugar de seu pai doente, após ele ser recrutado para a guerra contra a invasão dos Hunos.

A trama ocorre durante a Dinastia Wei do Norte, quando o exército dos Hunos, liderados por Shan Yu, invadem a China através da Grande Muralha, levando o imperador chinês a fazer uma mobilização geral, com ordens de recrutamento exigindo que um homem de cada família se junte ao exército chinês. Enquanto isso em uma aldeia, a jovem Fa Mulan se prepara para se encontrar com uma casamenteira, mas durante o encontro, seu grilo da sorte escapa da gaiola e causa estragos, irritando a casamenteira que afirma que Mulan jamais trará honra à sua família. O vereador do império chega à aldeia e convoca os homens para o exército. O pai idoso de Mulan, Fa Zhou, um veterano do exército, é recrutado. Ela tenta convencê-lo a não ir, mas ele afirma que deve cumprir seu dever. Temendo pela vida dele, ela corta o cabelo e pega a armadura do pai, se disfarçando de homem para se alistar em seu lugar.

Ao saber de sua partida, a avó de Mulan pede aos ancestrais da família pela segurança da neta, que decidem que Mushu, um pequeno dragão vermelho, deve guiar Mulan. Já no campo de treinamento, Mulan se passa por um homem chamado “Ping”, com Mushu fornecendo incentivo e a orientando para não ser descoberta. Sob o comando do capitão Li Shang, seus colegas recrutas se tornam soldados habilidosos e Mulan se acostuma ao nível do treinamento. Após Mulan e os outros soldados completarem o treinamento, eles vão em direção ao norte para deter os hunos, mas acabam sendo avistados e perseguidos pelos inimigos. Um impasse nas montanhas força Mulan a ter um plano e consegue salvar o exército, mas o plano acaba revelando que ela é uma mulher. Mesmo assim, ela decide arriscar tudo para salvar a China.

Diante do avanço das discussões ligadas aos direitos das mulheres, o longa-metragem se relaciona com a teoria feminista das Relações Internacionais, que analisa a participação das mulheres nos espaços de poder e quais papéis elas estão desempenhando. De acordo com Ruddick, Cohn e Hill (2005), todas as culturas são compostas por corpos biológicos de homens e mulheres, mas o significado de “masculino” e “feminino” varia conforme a cultura e mudanças ao longo do tempo. Os traços de capacidades ou personalidades que são esperados de homens e mulheres, tudo isso faz parte do significado cultural dado à diferença biológica. (COHN, RUDDICK e HILL, 2005, s/p). O papel de Mulan e de outras mulheres de sua época, dentro do contexto patriarcal, era de ser uma esposa exemplar para honrar a família, um dos pilares mais importantes da dinastia chinesa. Mas Mulan se sente pressionada e deslocada, por ter outros planos e sonhos em mente.

Quando o imperador pede ajuda do povo, só pede o recrutamento de um homem de cada família. Mulan considera isso injusto, pois ela é jovem e pode servir a seu país em condições melhores que seu pai, que morreria no conflito. No âmbito da tomada de decisões da política externa, as mulheres geralmente são invisíveis e raramente são consideradas como provedoras de segurança, afinal sua imagem é incompatível com o estereótipo de um expert de segurança internacional (FOIATTO, 2018). Mulan rompe com esses paradigmas para proteger o pai, exercendo uma função que era exclusivamente masculina: a defesa da pátria.

Em essência, a animação foge dos padrões estabelecidos para princesas da Disney, geralmente representadas como seres indefesos e frágeis. Além de demonstrar que uma mulher pode ser forte e valente, o filme também ensina muitas lições sobre coragem, honra e respeito. Embora a história se passe na China Medieval, a narrativa pode ser aplicada para o mundo inteiro, principalmente nos dias atuais em que mulheres estão cada vez mais ganhando espaço dentro da segurança internacional.

REFERÊNCIAS:

COHN, Carol; HILL, Felicity; RUDDICK, Sara. The Relevance of Gender for Eliminating Weapons of Mass Destruction. The Weapons Of Mass Destruction Commission, Estocolmo, v. 38, p.1-12, jun. 2005.

FOIATTO, Jordana. Representação de Gênero nos Conflitos Armados: Uma Análise da Produção Teórica Feminista em Relações Internacionais a partir de 1980. 2018.

PERRY, Tati. Não nos esqueçamos da Mulan, por favor. Valkírias. 2016. Disponível em: https://valkirias.com.br/nao-nos-esquecamos-da-mulan-por-favor/

PIMENTA, Antônio. Resenha [Filme]: Mulan 1998. AntônioPimentaBlog. 2016. Disponível em: https://antoniopimentablog.wordpress.com/2016/10/26/resenha-filme-mulan-1998/