Caira Queiroz, acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais

Em 1991 na Califórnia, EUA, a união de um ativista político com raízes do hardcore (Zack de La Rocha) e um guitarrista com formação em Harvard (Tom Morello) foi a base para que surgisse um dos grupos mais influentes e polêmicos dos anos 90, consolidando-se assim no cenário da música mundial através da diferenciada fusão entre rap, rock and roll e a crítica persistente contra as “máquinas” políticas: Rage Against The Machine. (NOIZE, 2012) 

A estreia da banda ocorreu através de uma apresentação em Orange County, seguida pela gravação de uma demo de 12 faixas que constituíam significamente primeiro CD de Rage. Com a venda de 5.000 cópias de demo para fã clubes e a realização de diversos shows locais por Los Angeles, a banda também se apresentou em dois shows no segundo palco do Lollapalooza II, realizado em Irvine Meadows, Califórnia, onde conquistaram um contrato com a gravadora Epic. Em 1992, Rage já estava imersa em uma turnê por toda a Europa e logo após esta turnê a banda lançou o primeiro álbum, também chamado “Rage Against the Machine”. Não demorou muito para que o disco ultrapassasse mais de 1 milhão de cópias vendidas e estivesse no Top 200 da Billboard, em tempo recorde de 89 semanas. (WHIPLASH, 2006)

Essa trajetória de sucesso da banda é profundamente marcada pelo mix do contexto histórico através das críticas contundentes relacionadas ao capitalismo, militarismo dos Estados Unidos, ao racismo, genocídio dos povos nativos da América e a violência de gênero, com as causas sociais em que se destacam as homenagens aos zapatistas, à Liga Anti-Fascista da Europa, à organização Women Alive, aos presos políticos Leonard Peltier e Múmia Abu-Jamal. 

O engajamento político do RATM se manifesta através de sua participação ativa em protestos, onde se destacam as participações da banda contra o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), promoveu dois shows anti-guerra em 2000 e 2008, nas proximidades da Convenção Nacional do Partido Democrata e em outro episódio notável, a banda provocou o fechamento temporário da Bolsa de Valores de Nova York ao tentar gravar um videoclipe, dirigido por Michael Moore, em frente à instituição. Ademais, foi alvo de censura da emissora NBC por exibir a bandeira dos Estados Unidos de cabeça para baixo durante uma apresentação. (CTB, 2010)

Era através de suas letras que a banda expressava sua insatisfação e luta por ideais políticos, opondo-se à censura e em prol do povo. Entre as principais músicas do primeiro álbum da banda, a famosa Killing In The Name, que é explicitamente um protesto ao militarismo norte-americano , segue sendo uma abordagem explícita dessa atuação. Devido a essas atitudes por meio das letras provocativas em oposição à política vigente, a banda foi censurada e proibida de fazer shows por muitos estados americanos. 

Porém, tal censura só fez com que Rage ascendesse, pois fez com que a banda se envolvesse ainda mais nas lutas de grandes protestos. Um dos grandes exemplos foi a atuação da banda no Lollapalooza III, dessa vez no palco principal, mas simplesmente optou por não tocar. Em vez disso, realizaram um protesto contundente contra a censura, direcionado ao PMRC (Parents Music Resource Center). Cada integrante da banda permaneceu de pé, nu, com uma fita preta sobre a boca e as letras P (Tim), M (Zack), R (Brad) e C (Tom) inscritas em seus peitos.

“Se não tomarmos ação contra a censura, logo não teremos direito de ver mais bandas como o Rage!” (WHIPLASH, 2006)

Após diversas apresentações persistentes em protesto contra as políticas dos governos americanos, através de álbuns referenciados como “Evil Empire”, que crítica ao governo corrupto de Ronald Reagan e a relação dos USA com a URSS e entrou direto no Top 200 da Billboard na 1ª posição, e The Battle of Los Angeles (1999) que voltaria a se destacar sendo lançado nos EUA num dia de eleição, a banda teve fim por volta dos anos 2000, pois, segundo Zack, os integrantes não estavam mais conseguindo tomar decisões conjuntas.

“Estamos orgulhosos da nossa história e do que fizemos musical e politicamente nos últimos nove anos. Estamos comprometidos em continuar com nossa tentativa de mudar o cenário político e social, e procurar criar melhores músicas para nossos fãs.”

Pronunciamento de Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk à imprensa (WHIPLASH, 2006)

Dessa forma, é possível relacionar a luta política e a influência artística de Rage Against The Machine em consonância com os princípios da Teoria Marxista de das Relações Internacionais. Esta teoria apresenta como pontos centrais o materialismo e a luta de classes, criticando radicalmente o capitalismo e proclamando a emancipação da humanidade numa sociedade sem classes e igualitária. Em seu engajamento político, a banda expressa uma consciência das disparidades de classe e das injustiças sociais, temas centrais na teoria marxista. Suas letras, como já notado, abordam questões como desigualdade econômica, exploração da classe trabalhadora e resistência contra as estruturas de poder opressivas, alinhando-se justamente com a análise marxista da luta de classes.

Além disso, o RATM critica abertamente o capitalismo e suas consequências, como a concentração de riqueza nas mãos de poucos, ao criticar a atuação de governos e o poder da alta elite, e a exploração dos trabalhadores. Essa crítica alinha as ideias marxistas sobre a exploração econômica inerente ao sistema capitalista e a necessidade de uma transformação social radical para alcançar a justiça econômica. O envolvimento político direto do Ranges em protestos e movimentos sociais também reflete os princípios da teoria marxista, já que Marx enfatizou a importância da ação coletiva e da organização dos trabalhadores para promover mudanças sociais significativas. Da mesma forma, o RATM utiliza sua plataforma musical e sua influência para promover a conscientização política e mobilizar ainda mais as pessoas em torno de questões sociais e econômicas através de suas letras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEATHAM, Thomas. Politics of Rage Against the Machine: Five Pivotal Moments. Far Out Magazine, 12 de Janeiro de 2021. Disponível em: https://faroutmagazine.co.uk/politics-of-rage-against-the-machine-five-pivotal-moments/. Acesso em: 15 de março de 2024

Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Em entrevista, Tom Morello do Rage Against the Machine fala sobre a ligação da banda com movimentos sociais. Disponível em: https://www.ctb.org.br/2010/11/23/em-entrevista-tom-morello-do-rage-against-the-machine-fala-sobre-a-ligacao-da-banda-com-movimentos-sociais/. Acesso em: 12 de março de 2024

G. Emerson. Vote com Rage Against the Machine. CÉLULA POP, 26 de Setembro de 2022. Disponível em: https://celulapop.com.br/vote-com-rage-against-the-machine/. Acesso em: 14 de março de 2024.

PASTI, Andre. Rage Against The Machine: Biografia. Whiplash, em 06 de Abril de 2006. Disponível em: https://whiplash.net/materias/biografias/038666-rageagainstthemachine.html. Acesso em: 13 de março de 2024

NOIZE, Revista. Leitura obrigatória: a biografia do Rage Against The Machine. Noize, 25 de Maio de 2012. Disponível em: https://noize.com.br/leitura-obrigatoria-a-biografia-do-rage-against-the-machine/. Acesso em: 15 de março de 2024

Brasil Paralelo. Teoria Marxista. Disponível em: https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/teoria-marxista. Acesso em: 15 de março de 2024

SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações Internacionais.