
Carlos Maciel – acadêmico do 7° semestre de Relações Internacionais da Unama
Em 2014, durante a sexta edição da Cúpula do Brics, sediada no Brasil, foi oficializada a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, cuja criação havia sido idealizada durante a cúpula de 2012, em Nova Déli. A iniciativa do NBD reflete em um cunho geopolítico, buscando possibilitar o desenvolvimento sustentável da socioeconomia e infraestrutura, expondo a insatisfação do BRICS em relação as instituições multilaterais já existentes responsáveis por tais ações (BATISTA JR, 2016). Além disso, visando a prestação de empréstimos restrita aos países emergentes e em desenvolvimento, o NBD também representa uma mudança explicita na dinâmica financeira global, contrariando a hegemonia das instituições tradicionais e o prevalecimento do dólar nas transações do mercado financeiro global.
Aos olhos do realismo ofensivo, para Mearshimer (2001), os Estados estão em constante busca de promoção de interesses dentro do sistema internacional, que devido a estrutura predominantemente anárquica, promove uma competitividade obrigatória entre seus atores (MEARSHEIMER, 2001).
Dentro dessa teoria, o conceito de poder se refere a capacidade material de um Estado, está que possibilite a maximização do poder dessa entidade, seja no âmbito bélico, tecnológico ou populacional. Com base nessa ideia, a criação do NBD pelas economias emergentes pode ser interpretada como uma estratégia para o aumento da influência dessas economias no mercado global, tornando possível uma maior autonomia na criação de políticas econômicas destes Estados perante os países já desenvolvidos.
Um exemplo dessa possível ruptura hegemônica do dólar é o início das transações internacionais sem a utilização da moeda emitida pelos Estados Unidos (BBC, 2023), ato esse já realizado entre nações como Brasil e China como uma iniciativa da chamada “desdolarização” entre os dois países. Nesse caso, foram utilizadas as moedas nacionais dos Estados – yuan e real. Esse desvio da utilização do dólar tem se tornado um debate frequente no cenário internacional, se tornando um dos temas analisados pelos integrantes do BRICS durante a 15ª cúpula do bloco em agosto de 2023.
Com isso, a idealização da criação de uma moeda comum entre os integrantes do bloco tem se tornado cada vez mais real. Segundo o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, as nações que integram o BRICS se comprometeram a estudar e analisar a criação de uma moeda do bloco (CNN Brasil, 2023) com o objetivo de facilitar os tramites comerciais entre seus integrantes.
Por fim, pode-se afirmar que o papel do Novo Banco de Desenvolvimento reflete tanto na dinâmica financeira global, quanto nas estratégias de manutenção da hegemonia dos países desenvolvidos, representando uma oposição significativa as estruturas tradicionais, além de impulsionar a multipolaridade do sistema, fortalecendo a democratização da dinâmica financeira mundial.
REFERENCIAIS
BASTOS, Luana Paris. Novo Banco de Desenvolvimento: de onde veio e para onde vai? Grupo de Estudos BRICS. Disponível em: https://sites.usp.br/gebrics/novo-banco-de-desenvolvimento-de-onde-veio-e-para-onde-vai/. Acesso em: 16 mar. 2024
BATISTA JR, Paulo Nogueira. Brics – Novo Banco de Desenvolvimento, 24 ago.2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/tgkMkRXzKJqQ7P8b3LMj57L/?lang=pt#. Acesso em: 16 mar. 2024.
BBC Brasil. Por que alguns países acusam dólar de ser uma arma dos EUA. BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g3xvgl89xo. Acesso em: 16 mar. 2024.
CNN BRASIL. Lula confirma criação de uma moeda comum dos Brics para facilitar trocas comerciais. 24 ago. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lula-confirma-criacao-de-uma-moeda-comum-do-brics-para-facilitar-trocas-comerciais/. Acesso em: 16 mar. 2024.
MEARSHEIMER, John. “A Tragédia da Política das Grandes Potências”. Gradiva, 2001. Disponível em: https://idoc.pub/documents/idocpub-jlk9p2593745. Acesso em: 16 mar. 2024
