
Por Nivia Iani Silva Imbiriba – Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
Em 07 de março, foi oficializado pelo parlamento da Hungria a ratificação quanto à adesão da Suécia à OTAN, tornando-se o 32º membro a compor a aliança militar. Seguidamente, após dois anos de impasses, como a aprovação da Turquia, e negociações, como o convencimento do primeiro-ministro húngaro, para conseguir o seu assento na aliança, o qual necessita de aprovação unânime, o governo sueco logrou com sua entrada ao bloco militar.
Nesta perspectiva, o ingresso da Suécia significou uma mudança drástica e histórica na política externa do país, conhecida por adotar uma postura mais diplomática, de neutralidade, de não-alinhamento militar por mais de dois séculos em sua história desde o fim da guerra fria, visando suprimir conflitos futuros. Divergente a estas políticas adotadas, observa-se que o cenário passou a se transformar fortemente em meados de 2014, ano em que ocorreu a anexação da Criméia pela Rússia, fazendo com que as despesas militares na Europa aumentassem consecutivamente e atingissem seu nível mais alto em meio a corrida armamentista no correr da Guerra Fria (RFI, 2023).
Destarte, segundo a pesquisa do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), de 2024, intitulada ‘Trends in International Arms Transfers, 2023’ (Tendências nas Transferências Internacionais de Armas, em português), entre 2019-2023 comparando-se a 2014-2018, os gastos na Europa com importação de grandes armas, em nível qualitativo, aumentaram em 94%, destacando o foco das agendas governamentais europeias em concordância com seu pertencimento à OTAN. Diante disso, em relação ao seu mais novo membro, a Suécia ocupa a 13ª posição, entre duzentas, de maior exportador de armas do mundo (SIPRI) que, aliado ao orçamento do governo, permite que as forças armadas suecas destinem e projetem medidas convergentes à atividade da Organização.
Dessa forma, em consonância com seus preceitos fundamentais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte articula uma profunda ligação transatlântica entre a Europa e a América do Norte, exceto o México, prezando pela garantia da liberdade e da segurança dos seus membros através de meios políticos, “promove valores democráticos entre os seus membros por intermédio da cooperação em matérias relacionadas com a defesa e segurança, e meios militares, “empenha-se em adotar esforços diplomáticos, contudo, ao falhar, conta com um robusto poder militar para realizar operações de gestão de crises”(OTAN). Em adição, com a escalada ascendente da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em 2022, a OTAN passou a fortalecer o escopo militar ucraniano e a providenciar medidas coercitivas contra o poderio militar russo (AFP, 2022).
Neste cenário, a Organização, desde o início, se posicionou em favor do governo ucraniano, destinando verbas, o envio de armas e proporcionando pleno apoio político implementando o maior exercício militar, desde o arranjo bipolar russo-estadunidense com o exercício nomeado Steadfast Defender, que tem a finalidade de “testar os novos planos de defesa da Aliança e a capacidade de implantar equipamentos com velocidade e escala para apoiar qualquer aliado sob ataque” (U.S. Department of Defense), já com seus novos componentes, a Finlândia e a Suécia. Eventualmente, suas medidas buscam reafirmar e alertar, principalmente a Rússia, que ao atacar um membro, haverá uma resposta conjunta, tanto que seus membros atuais constituem uma “cerca-ameaçadora” ao redor das fronteiras russas visando patrocinar o levante ucraniano na guerra com o objetivo de enfraquecer a armada militar de Putin (BBC News, 2024).
Sendo assim, em harmonia com os estudos neorrealistas, que “explicam o comportamento dos Estados em uma lógica descendente, isto é, partem da estrutura sistêmica e da posição da unidade no sistema internacional, para explicar comportamentos e resultados” (BARACUHY, 2005). Elucida-se o teórico e cientista político, Randall Schweller, o qual analisa a manutenção do equilíbrio de poder na política global, discorrendo que após a Segunda Guerra Mundial, o poder militar tomou proporções altamente relevantes angariando investimentos cada vez maiores na produção e na tecnologia de novos armamentos, tornando “a expansão e a manutenção do poder objetivos necessariamente primordiais ao Estado” (SCHWELLER, 2000).
Dessa maneira, o autor desenvolve acerca de como a variável doméstica influência na formulação de políticas externas específicas das nações no sistema internacional, citando a coerência do Estado que “diz respeito ao nível que estas compartilham ou não da mesma compreensão sobre os problemas do Estado, e à maneira da qual estes problemas devem ser solucionados” (SCHWELLER, 2006), e – a coesão entre as elites compreende “o impacto na capacidade de ação do Estado em política externa”, assim, havendo a união entre esses dois fatores “estando os estados unidos e coerentes poderão mobilizar recursos de seus países para quaisquer que sejam os propósitos que eles decidam (sejam eles prudentes ou imprudentes)”, dito de outro modo, a força, a união uníssona, almejando os objetivos dos Estados integrantes da Otan, fazem desta uma aliança militar de tremenda magnitude, seja politicamente e ou armadamente, o êxito depende da confluência entre seus atores e fatores.
Neste âmbito, o governo russo sempre assumiu a expansão da aliança militar ocidental como uma real ameaça a sua segurança (Brasil de Fato, 2024). Com isso, a adesão da Finlândia e da Suécia ao bloco, segundo o vice-presidente do Conselho da Federação da Rússia, Konstantin Kosachev, “terá um impacto negativo na situação geopolítica do mundo” ao potencializar a tensão no Mar Báltico montando um cerco municiado ao redor do território russo (RFI), sendo assim, chega-se a concretizar, sob as palavras do analista da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa (FOI), Robert Dalsjö, “a última peça do quebra-cabeça do mapa da Otan no norte da Europa”, que objetiva deter e enfraquecer a Rússia, pois, prevê que a despeito das forças armadas do Kremlin estarem concentradas na Ucrânia, seus objetivos reais ultrapassam este solo (BBC News, 2024).
Eventualmente, em relação à OTAN, aliado ao preceito de defesa coletiva, artigo 5° do Tratado de Washington (da OTAN), o direito à defesa e a garantia da segurança apresentam-se sob o estufamento e execução ativa de sua composição militar. Assim, a entrada da Suécia na OTAN significa tonificar a organização utilizando o apoio à Ucrânia na guerra como um instrumento disseminador de políticas e de propaganda, e, concomitantemente, capitaliza-se na disputa de capacidade militar contra a Rússia.
Referências:
BARACUHY, B. Vencer ao perder: a natureza da diplomacia brasileira na crise da Liga das Nações (1926). Brasília: Funag, 2005, p. 44.
BEALE, Jonathan. O megaexercício militar da Otan na fronteira com a Rússia — com reforço de países nórdicos. BBC News, 12 de mar. de 2024. Disponível em: Otan: o megaexercício militar na fronteira com a Rússia — e com reforço de países nórdicos – BBC News Brasil. Acesso em: 24 de março de 2024.
Com aprovação da Hungria, Suécia adere à Otan e encerra política de não alinhamento militar.Rádio França Internacional (RFI), 26 de fev. de 2024. Disponível em:https://www.rfi.fr/br/europa/20240226-com-aprova%C3%A7%C3%A3o-da-hungria-su%C3%A9cia-adere-%C3%A0-otan-e-encerra-pol%C3%ADtica-de-n%C3%A3o-alinhamento-militar. Acesso em: 24 de março de 2024.
Com a Ucrânia, gasto militar da Europa chega ao nível da Guerra Fria. Rádio França Internacional, 24 de abr. de 2023. Disponível em: Com Ucrânia, gasto militar da Europa chega ao nível da Guerra Fria | Mundo | G1 (globo.com). Acesso em: 24 de março de 2024.
DOS SANTOS, Arthur De Freitas. Abordagem teórica. PUC-Rio, 2010. Disponível em: Maxwell (puc-rio.br). Acesso em: 25 de março de 2024.
Entenda como a entrada da Suécia na Otan é um revés para a Rússia. Correio Braziliense, 27 de fev. de 2024. Disponível em: Entenda como entrada da Suécia na Otan é um revés para a Rússia (correiobraziliense.com.br). Acesso em: 22 de março de 2024.
Europa teve maior nível de gastos militares em 2022 desde o fim da Guerra Fria. O Globo, AFP, Bloomberg – Estocolmo, 24 de abr. de 2023. Disponível em: Com Ucrânia, gasto militar da Europa chega ao nível da Guerra Fria | Mundo | G1 (globo.com). Acesso em: 24 de março de 2024.
LOCATELLI, Esther De Lima. ‘PROVÍNCIA REBELDE’: perspectivas de conflito entre China e EUA acerca de Taiwan. TCC – Relações Internacionais, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, p. 83. 2023.
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MONIN, Serguei. Suécia entra oficialmente na Otan: Rússia vê expansão da aliança como ameaça. Brasil de Fato, São Petersburgo (Rússia), 08 de mar. de 2024. Disponível em: Suécia entra oficialmente na Otan: Rússia vê expansão | Internacional (brasildefato.com.br). Acesso em: 23 de março. de 2024.
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WEZEMAN, Pieter D. et al. Trends in International Arms Transfers, 2023. SIPRI. Estocolmo, mar. de 2024. Disponível em: https://www.sipri.org/publications/2024/sipri-fact-sheets/trends-international-arms-transfers-2023. Acesso em: 24 de março de 2024.
