
Julia Castro, acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais
Ficha Técnica:
Ano: 1997
Direção: Andrew Niccol
Distribuição: Columbia Pictures
Gênero: Ficção Científica, Drama
País de Origem: Estados Unidos
Considerado pela NASA como a ficção científica mais precisa do cinema, o filme “Gattaca” mostra uma sociedade futura, onde os seres humanos são moldados pela manipulação genética para garantir que possuam as melhores características hereditárias de seus pais. A narrativa aborda como seria um mundo definindo pela genética e suas consequências para a sociedade.
A trama gira em torno de Vincent Freeman, um rapaz que foi concebido naturalmente cujo perfil genético indica alta probabilidade de doenças cardíacas e uma expectativa de vida estimada em 32 anos. Seus pais, arrependidos da decisão, decidiram gerar artificialmente um segundo filho, Anton Jr, que é geneticamente superior. Vincent sonha em ser astronauta, mas é impedido de ingressar no programa de treinamento devido à sua condição de “inválido”. Enquanto cresciam, os irmãos mantinham uma relação de competição, na qual Anton sempre ganhava e Vincent sempre perdia, mas um dia o inesperado aconteceu e Vincent ganhou uma dessas competições, salvando Anton. Após isso, ele fugiu de casa para tentar realizar o seu sonho.
Anos depois, Vincent trabalha limpando escritórios, incluindo o de Gattaca, a mais prestigiada agência de vôos espaciais da época. Ele planeja se passar por “válido” comprando os genes de um ex-atleta de natação, Jerome Eugene Morrow, que ficou paralisado após ser atropelado por um carro. Com o perfil genético de Jerome, ele facilmente obtém acesso ao programa espacial e rapidamente é designado como navegador para uma próxima missão a lua de Saturno, Titã. Porém, uma semana antes da viagem, o diretor da missão é assassinado e evidências do DNA “Inválido” de Vincent são encontradas no prédio. Durante a investigação, ele tenta escapar das autoridades enquanto busca um relacionamento com sua colega de trabalho, Irene Cassini.
O longa-metragem explora como tecnologias reprodutivas podem facilitar a eugenia na sociedade, onde somente os classificados como “saudáveis” teriam o direito de viver. Dessa forma, podemos relacioná-lo com o conceito de “Biopoder”, presente na teoria pós-moderna das Relações Internacionais. O biopoder, por meio das técnicas da biopolítica, possui o poder de regulamentação da vida, que tem como objetivo essencial a busca por aumentá-la, por “prolongar sua duração”, “multiplicar suas possibilidades”, “desviar seus acidentes” ou “compensar suas deficiências” (CUNHA, 2014). No filme, cada pessoa ao nascer, é submetida a um exame genético que pré-determina o que essa pessoa vai ser para o resto da vida. Dependendo do resultado, a criança pode ter um futuro brilhante ou ter uma vida miserável, tudo determinado pelos seus genes (CÂMARA, 2012).
Segundo o pensamento foucaultiano, a biopolítica não se dirige ao corpo dos indivíduos, mas à vida dos homens, sendo “uma tomada de poder sobre o homem enquanto ser vivo, uma espécie de estatização do biológico ou, pelo menos, certa inclinação que conduz ao que se poderia chamar de estatização do biológico” (FOUCAULT, 1999). Na trama, temos uma hierarquia social baseada no genoma dos indivíduos, onde os “válidos” possuem cargos de poder, enquanto que os “inválidos” são reduzidos ao trabalho braçal. O desejo pela ascensão social fez com que o protagonista burlasse o sistema para conseguir realizar seu sonho.
Dessa forma, apesar de ser ficção, a obra apresenta um tema muito polêmico e relevante, que nos faz refletir sobre o avanço da ciência na área de genética: o determinismo genético e até que ponto ele é capaz de definir nossas vidas. Ao mesmo tempo, é uma história de superação, sobre como não devemos abaixar a cabeça perante as pressões sociais e ir atrás dos nossos objetivos. Em uma sociedade cada vez mais coletivista, “Gattaca” está mais atual que nunca.
REFERÊNCIAS:
CÂMARA, Brunno. Dica de filme: GATTACA – Experiência Genética. Biomedicina Padrão. 2012. Disponível em: https://www.biomedicinapadrao.com.br/2012/11/dica-de-filme-gattaca-experiencia.html
CUNHA, Letícia Alves. Biopoder e Engenharia Genética: Reflexões sobre o pós-humano em GATTACA. Revista Florestan, Ano 1, n.1, p. 84-93, 2014.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975- 1976). SãoPaulo: Martins Fontes, 1999.
