Larah Vitória Rodrigues Rabelo – acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama

Belém, a cidade metropolitana rodeada pela Amazônia, no dia 26 de março se torna o epicentro de notícias e reverberações para além das margens nacionais. A capital Paraense recebe o Presidente da França, Emannuel Macron, em sua primeira visita ao Brasil, e é recepcionado calorosamente pelo Presidente da Republica Brasileira, Luis Inácio Lula da Silva, assim como também outras personas políticas e veículos de comunicação, sendo catalogado como um evento particular, entretanto, a particularidade do evento não se retém como fim, mas sim, como meio de expandir e intensificar diversas trocas diplomáticas com retornos para cada país respectivamente.

A diplomacia presidencial é uma estratégia nas relações internacionais de maior peso político, uma vez que é a representação de poder em seu mais alto nível democrático e diplomático (DANESE, 2017). Assim, sua visita começa pelo norte do país, adentrando não somente a Capital Belenense, mais em suas capilaridades territoriais mais marginalizadas, a ilha do Combu. Tal Ilha, é fortemente representada por diversas comunidades ribeirinhas e povos originários que resistem contra todos os inimigos da marginalização: a baixa infraestrutura, a taxa de escolaridade ínfima e sobretudo, pondera-se a falta de visibilidade (DE SOUZA, 2015). Assim, receber o Presidente Macron foi um impacto relevante para a comunidade.

Aníbal Quijano, teórico colonial que compreende e também contribuí aos estudos pós-coloniais, fala de como na América Latina houve uma inferiorização da população originária, justamente pela concepção de raça, que em seus escritos em “Don Quijote y los molinos de viento em América Latina”, de 2006, permeia como esse conceito de raça é apenas de produção humana, e imposto por séculos, até eventualmente se tornar verdade. Associando ao Brasil, país da América Latina, ao receber o mais alto nível de representação na Ilha do Combu que foi realizado um evento de pequeno porte somente com os representantes indígenas nacionais, e em destaque Raoni Metuktire líder indígena da etnia Kayapó e “expoente mundial da causa indígena” (PLANALTO, 2024) no qual foi condecorado pelo Macron, representa não só um marco importante para o representante indígena como também para uma nova relação norte-sul global.

Sob a ótica de retornos, anteriormente dita, a Maria Luísa Escorel, secretária da Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores diz em entrevistas sobre como a relação de “intercâmbio e do interesse profundo em diversas áreas” dos dois países em questão é esmiuçada (AGENCIA BRASIL, 2024). Cumprindo a agenda bilateral estabelecida, o Presidente Frances acorda 1 bilhão de euros – cerca de 5 bilhões de reais – em um plano de ação que reverbera em iniciativas de bioeconomia sustentável que são propostas tanto para a Amazônia Legal brasileira quanto para a região amazônica na Guiana Francesa.

Pontua-se, enfim, sobre o território da Guiana Francesa, situada na costa nordeste da América do Sul, sendo um território ultramarino da França. Este território pede adesão a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), na qual exerce o fim de atingir a sustentabilidade na Amazônia em multidimensões (gestão do conhecimento, empoderamento feminino, fortalecimento de direitos dos povos indígenas). Todavia, sua aderência perece sendo negada, continuando os membros atuais (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), dentre tais contextualizações, as intenções francesas com o Brasil podem ser vistas como um matrimonio de interesse mais que dual, e sim, ‘pessoal’.

Logo após sua visita a Belém, o Presidente Frances segue em mais 3 dias de viagem para Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, seguindo a agenda estabelecida e encerrada no dia 28 de marco de 2024. Tendo em vista tais ponderações, uma ótica critica é essencial para a sociedade civil questionar-se de intenções e interesses na tão quista Amazônia, fruto de grande biodiversidade e questão fulcral quando a temática é ambiental.

Referencias

AGÊNCIA BRASIL. Lula e Macron visitam floresta e conversam com indígenas em Belém. Disponível em:https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-03/lula-e-macron-visitam-floresta-e-conversam-com-indigenas-em-belem . Acesso em: 04 de Março de 2024.

DANESE, Sergio. Diplomacia Presidencial: História e Critica. Fundação alexandre gusmão: brasília, 2017.

DE SOUSA COSTA, Eliseu et al. Ilha do Combu: realidades e desafios. Saúde e meio ambiente: revista interdisciplinar, v. 4, n. 2, p. 32-48, 2015.

ESTADÃO. Macron diz que Amazônia é cobiçada, promete apoio a indígenas e investimento de R$ 5 bilhões. Disponível em: https://www.estadao.com.br/internacional/macron-diz-que-amazonia-e-cobicada-promete-apoio-a-indigenas-e-investimento-de-r-5-bilhoes/ . Acesso em: 03 de março de 2024.

G1 Globo. Presidente Macron concede ao cacique Raoni a maior honraria da França durante visita a Belém. Disponível em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2024/03/25/presidente-macron-concede-ao-cacique-raoni-a-maior-honraria-da-franca-durante-visita-a-belem.ghtml . Acesso em: 05 de março de 2024.

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Quem Somos: Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. Disponível em: https://otca.org/pt/quem-somos/#:~:text=A%20Organização%20do%20Tratado%20de,bloco%20socioambiental%20da%20América%20Latina . Acesso em: 04 de março de 2024.

PLANALTO, Governo Federal do Brasil. Presidente Lula recebe o Presidente da França Emmanuel Macron na cidade de Belém (PA). Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2024/03/presidente-lula-recebe-o-presidente-da-franca-emmanuel-macron-na-cidade-de-belem-pa . Acesso em: 04 de março de 2024

QUIJANO, Aníbal. Los Molinos de viento em América Latina. CLACSO: Costa Rica, 2006