
Marcelo Eduardo Alves de Brito – 3°
Heitor Sena Passos – 7°
O Oriente Médio é o berço das primeiras civilizações e durante toda sua história, sucederam-se conflitos sanguinários que moldaram o rumo de diversos povos ao decorrer do tempo. Contudo, com a consolidação do capitalismo como sistema econômico hegemônico e a intensificação do processo de globalização, os conflitos na região ganharam novas dimensões.
A demanda por armamentos que atendessem as necessidades de dominância dos estados, foram suficientes para a construção de uma indústria que refletisse fidedignamente o estado natural do homem, segundo Hobbes (1651). Logo, torna-se essencial compreender como a indústria bélica, diante de todas as conflagrações presentes no Oriente Médio, faz-se importante aos estados.
Em 2023, os gastos dos países com suas forças armadas registraram um aumento em todos os continentes, atingindo a marca de 2,4 trilhões de dólares (DW, 2024). Estes dados apontam uma tendência de direcionar cada vez mais recursos para o setor de segurança que têm ganho força no âmbito estatal devido à deflagração de conflitos no sistema internacional como a guerra na Ucrânia e na Palestina.
Para um Estado, o poderio militar é um instrumento que pode ser utilizado tanto para assegurar a defesa nacional quanto para a sua projeção de poder no cenário internacional. Não obstante, o aumento nos gastos militares, também representa novas oportunidades de lucro para a indústria bélica, que em alguns casos são responsáveis por uma parcela significativa do setor produtivo de um país.
Sendo assim, a busca por lucro por parte da indústria bélica pode influenciar profundamente na política de um país, fator preocupante para a busca pela paz no sistema internacional. Nesse sentido, a dinâmica econômica interna dos EUA é demonstrativa da importância de seu complexo industrial militar, uma vez que o aumento na demanda global por armamentos têm possibilitado a expansão da produção bélica e por sua vez movimentando a cadeia produtiva e a geração de emprego no país (Folha, 2024), algo que torna de interesse para este Estado se posicionar de modo a prolongar os conflitos em andamento.
Desse modo, em um mundo onde o capitalismo é o sistema econômico dominante, a guerra também opera sob a lógica do mercado e a busca incessante por lucro. Nesse âmbito, é importante destacar o papel do Oriente Médio nessa dinâmica, especialmente no que se refere aos desdobramentos recentes e seus impactos sobre a indústria bélica e ao risco de escalada de conflitos para uma possível terceira guerra mundial.
Segundo o prisma do Complexo Regional de Segurança, no contexto regional, alguns agentes estão conectados de modo que suas dinâmicas de segurança não podem ser pensadas de forma independente uma das outras (Buzan e Waever, 2003). Essa abordagem reconhece a importância de fatores como a distribuição de poder na região, a presença de potências estrangeiras e aspectos históricos e identitários em sua estrutura analítica (Ibidem), tornando esse paradigma uma ferramenta adequada para analisar uma região complexa onde as consequências da colonização, as intervenções estrangeiras, assim como questões religiosas e étnicas, influenciam profundamente na instabilidade da região.
Nesse sentido, é de nota que o Oriente Médio têm sido o palco de acontecimentos que reorganizaram a dinâmica de segurança regional como a invasão do Iraque em 2003 e a Primavera Árabe em 2011. Com a derrubada do governo de Saddam Hussein no Iraque em 2003 e a instabilidade interna da Arábia Saudita frente ao avanço da Primavera Árabe, o Irã encontrou uma oportunidade para expandir sua influência pelo Oriente Médio, principalmente realizado a partir do patrocínio de grupos xiitas como o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen.
Desse modo, o estado iraniano também firmou uma aliança com o governo xiita da Síria e por meio da influência sobre a política no Iraque (LIMA, 2022). A partir de então, a região tem sido marcada pela ascensão do Irã, que tem ameaçado a supremacia da Arábia Saudita sobre o Golfo e a de Israel sobre o Levante.
O antagonismo entre estes países e o Irã, além de ter resultado em conflitos e em operações militares por toda a região, também significa um risco de uma possível escalada para uma terceira guerra mundial. Isto se deve às alianças de Israel e Arábia Saudita com os EUA, ao mesmo passo em que o Irã é um aliado estratégico para a Rússia, portanto, o início de uma guerra provocaria a entrada destas potências e de seus aliados no conflito. Sendo assim, a instabilidade na região aumenta a procura por parte dos Estados em se preparar para a possibilidade de escalada para cenário internacional.
Não obstante, as tensões no Oriente Médio são extremamente benéficas para a indústria bélica. Nesse sentido, acontecimentos recentes como os ataques de Irã e Israel demonstraram a necessidade de sistemas de defesa sofisticados para se proteger, bem como a capacidade de realização de operações ofensivas de armamentos relativamente baratos e minimizando as perdas humanas, como os drones. Sendo assim, os conflitos no Oriente Médio alimentam a demanda global por armamentos, impulsionando a lucratividade da indústria bélica.
Sendo assim, torna-se notável a complexidade das relações conflituosas que permeiam a região do Oriente Médio, transformando a localidade em uma área de interesse para a indústria bélica, na qual se utiliza de uma estrutura econômica para fornecer formas de reafirmar o poder dos Estados no cenário internacional. Portanto, é evidente a relevância desta indústria para os Estados e os desafios que ela traz para a resolução dos conflitos ao redor do globo, logo, a necessidade de uma abordagem multilateral e cooperativa para mitigar os conflitos e promover a paz é mais premente do que nunca, visando não apenas a segurança dos Estados, mas também a estabilidade global e o bem-estar das populações afetadas.
Referências;
BUZAN, B; WAEVER, O. Regions and Powers – The Structure of International Security. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
DW. Gastos militares globais atingem novo recorde em 2023. DW, 22 abr 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/gastos-militares-globais-atingem-novo-recorde-em-2023/a-68886898. Acesso em 30 abr 2024.
FOLHA. Guerra impulsiona economia dos EUA e temor de recessão é afastado. FOLHA, 3 jan 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/01/com-empurrao-da-industria-belica-temor-de-recessao-e-afastado-nos-eua.shtml Acesso em: 3 mai 2024
HOBBES, Thomas. Leviatã. ., [S. l.], p. 1-496, 1 jan. 1651. Disponível em: https://sempreuninassau.sharepoint.com/:b:/r/sites/team_4.6.698803/Material%20de%20Aula/UNIDADE%20II%20-%20REALISMO%20CL%C3%81SSICO/Thomas%20Hobbes-Leviathan%20(1660).pdf?csf=1&web=1. Acesso em: 21 fev. 2023.
LIMA, José Antonio Geraldes Graziani Vieira. Arábia Saudita, Irã e as transformações do Complexo Regional de Segurança do Oriente Médio (2003-2020). 2022. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.
