
Larah Vitoria Rodrigues Rabelo – Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da Unama.
O termo mãe natureza é por inúmeras vezes citado como sinônimo de meio ambiente, representando uma simbiose feminina nas relações da natureza. Pode-se dizer que há uma coligação de fertilidade com o espirito maternal que fora criado, sustentando-se entre os contos tradicionais e populares, como a conhecida ‘mãe d’agua’.
Adentrando nos estudos de gênero, as teorias feministas das Relações Internacionais debruçam para a compreensão das relações assimétricas tanto no campo teórico, que é majoritariamente masculino, quanto para a realidade patriarcal de inúmeras – senão todas – parcelas territoriais.
Segundo Monte (2013) ao refletir sobre as abordagens feministas para as relações internacionais ressalta a relevância a produção de duas categorias do campo: a de posição de gênero e a de poder de gênero, cunhadas pela cientista politica e doutora em relações internacionais nos estudos de gênero, V. Spike Peterson, juntamente com a Anne S. Runyan, professora de relações internacionais na Universidade de Cincinnati.
Em relação a primeira categoria, a posição de gênero, reflete de como há uma hierarquização quando se trata do perfil masculino que contribui para a marginalização feminina em diferentes níveis sociais e econômicos, referindo-se ao posicionamento da mulher e sua análise perante as relações internacionais.
A segunda categoria, poder de gênero, observa a construção da identidade feminina engendrada no sistema social de símbolos de feminilidade, ou seja, “o controle social que garante essa internalização é feito pela família, pelas leis, pelo mercado, pela coerção física e, também, pela organização do sistema internacional” (Monte, 2013, p.70). Pode-se inferir que esta categoria é atribuída por séculos de sexismo e patriarcado no qual influencia, por exemplo, na posição diminuto das mulheres em espaços econômicos.
É nesse sentido, apresentamos o discurso da mulher e da humanização do meio ambiente (mãe natureza), que deveras é bem vivo e minimamente conservado. Duas forças que se entrelaçam quando o assunto é gênero, economia e sustentabilidade no local e no mundo.
Neste viés, o potencial econômico da Amazônia é enrustido com inúmeras capilaridades econômicas, uma delas sendo a bioeconomia. Ao se tratar da vertente da bioeconomia, uma produção tecnológica baseada na matriz da natureza, na qual implica uma construção não somente socioambiental, mas na amplitude da socio-biodiversidade. Inclui-se dessa forma, especificamente no Estado do Pará, um almejo de uma formulação econômica da Amazônia mais inclusiva e justa na sua produção com base nos recursos naturais, todavia questiona-se quais as ambições do plano de bioeconomia e quais suas limitações de inclusão (Pará, 2022).
Essas limitações são circunstanciadas pelos frutos históricos da relação biológica homem e mulher, que como dito anteriormente, Peterson e Runyan evidenciam nos seus estudos tal vínculo histórico do que se subtende-se como posição feminina e posição masculina, permeado em desfavor da mulher em situações como na porção econômica amazônica. Mulheres Quilombolas, Indígenas, Ribeirinhas, das Comunidades tradicionais, entre outras, tem sido em grande parte excluídas como um ator ativo na bioeconomia. (DOURADO SILVA; ALMEIDA SILVA, 2013)
Ao tratar das lentes internacionalistas sobre a temática, a economia baseada no desenvolvimento socioeconômico é processual e gradativa, diferentemente de um crescimento econômico, que impulsiona o mercado e a receita de um país sem fomentar a qualidade de vida do consumidor e nem trazer um impacto positivo para o meio ambiente (Dias; Carvalho, 2017).
Pode-se dizer ainda, que apesar dos esforços para uma economia diversificada e inclusiva, a invisibilidade das mulher nesses aspectos reflete “que as mulheres tem atuado de forma expressiva enquanto associadas nas colônias de pescadores, nas cooperativas de produção rural, no extrativismo” entretanto, sem reconhecimento de protagonismo na região e com poucas oportunidades emancipatórias de know-how que habilitaria um refinamento do trabalho com os recursos naturais que beneficiaria tanto no manejo mais sustentável e com mais possibilidades de se sustentar no mercado industrial competitivo. (Oliveira, 2013).
Contudo, a criação do PlanBio, formulado pelo governo do Estado do Pará pretende afetar positivamente a economia sustentável da Amazônia no âmbito da bioeconomia. Ele é um plano estadual com ações distribuídas pelos três eixos temáticos: Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação; Patrimônio Cultural e Patrimônio Genético; e Cadeias Produtivas e Negócios Sustentáveis. Suas ações contribuem para enfrentar os principais desafios de implementação de uma bioeconomia inclusiva, para impulsionar o desenvolvimento aliado à conservação ambiental e inclusão social.
Dentro do contexto da economia solidária, o PlanBio, estabelece uma única meta com foco específico em mulheres, no eixo 3 de cadeias produtivas e negócios sustentáveis, que visa capacitar mulheres para conquistarem independência financeira, com foco especial indígenas, quilombolas e extrativistas em parceria com a ONU Mulheres (Pará, 2022, p.108). Nas oito citações sobre mulheres no Plano estão vinculadas ao papel de vulnerabilidade de jovens e mulheres, observando frágil enfoque na questão de gênero.
A extensa população dessas comunidades na Amazônia e o difícil acesso às localidades e alto custo de logística com exaustivas viagens, necessitará de esforços colaborativos entre Estado, mercado e sociedade, bem como, organizações nacionais e internacionais para captar a verdadeira profundidade de suas invisibilidades. É necessário um olhar sensível sob a temática que reata a economia amazônica com o papel da mulher (Dourado Silva; Almeida Silva, 2013). Á luz das analogias com a mãe natureza que é tida como um papel protetor, o papel feminino no meio ambiente é essencial para a lente dessas perspectivas terem seu protagonismo e ser alicerce de uma construção econômica mais sustentável e inclusiva.
Referencias
DIAS, Rodnei Fagundes; CARVALHO, CAA de. Bioeconomia no Brasil e no mundo: panorama atual e perspectivas. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 1, p. 410-430, 2017. Disponível em: https://rvq.sbq.org.br
DOURADODA SILVA, Suzanna; ALMEIDA SILVA, Adnilsonde. O Protagonismo Invisibilizado da Mulher na Florestada AmazôniaAcreana. Revista Latino Americana de Geografia e Gênero, v. 11, n.1, p. 20 34, 2020. ISSN 21772886. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rlagg/article/view/14831
MONTE, Izadora Xavier do. O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais. Revista Estudos Feministas, v. 21, p. 59-80, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/r3pc8yVXBf6FqHPBBcH9Xxy/?format=html&lang=pt
OLIVEIRA, Maria das Neves Candido. A Representatividade Feminina no Associativismo produtivo na Amazônia. Seminário Internacional Fazendo Gênero, v. 10, 2013. Disponível em: http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1373321244_ARQUIVO_FG10MariaOliveira.pdf
PARÁ, Governo do Estado do. Plano Estadual de Bioeconomia do Pará 2024-2027: PlanBio Pará. Belém: Secretaria de Meio Ambiente – SEMAS, 2022. Disponível em: https://www.semas.pa.gov.br/wp-content/uploads/2022/04/PLANO-ESTADUAL-DE-BIOECONOMIA-DO-PARÁ.pdf
PEREIRA, Alessandra dos Santos; SILVA, Lolete Ribeiro da. História de Vida e Feminismos na Amazônia: um estudo de caso. Educar em Revista, v. 39, p. e87346, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/8fbGHzkxJSFFvz48Vn8fKhv/#
