
Thais Borges – 7° semestre
Em um contexto em que o campo das Relações Internacionais se dividia entre pensamentos realistas e idealistas, surgia na Inglaterra, uma perspectiva que assumia a posição de uma terceira via, composta por preceitos de ambos os lados. O termo “Escola Inglesa” surge em meados dos anos de 1970, e denomina os intelectuais que ainda no final dos anos de 1950 constituíram o Comitê Britânico da Política Internacional, criado para investigar os temas ligados à teoria internacional (OLIVEIRA, 2002 apud WIGHT, 2002 p. 8), no desenvolver dos debates, a questão do ordenamento do sistema internacional ganhou destaque, culminando assim no estabelecimento da vertente.
A principal premissa da Escola Inglesa é a ideia de que a soberania dos Estados formam uma sociedade, mas uma sociedade anárquica, esta entretanto não representa o cenário negativo da visão realista, dentro da qual a anarquia remete ao caos, e tal contexto colocaria os Estados a rivalizarem entre si a fim de assegurar sua própria existência. Sob o ponto de vista da Escola Inglesa, a sociedade anárquica não precisa resultar em um estado de caos e rivalidade, mas se trata de um quadro que oferece uma série de alternativas para que os Estados soberanos possam cooperar entre si. A partir disto, se trata de uma vertente que tem como objeto de estudo a sociedade internacional, suas relações e estudos sobre o seu ordenamento (LINKLATER, 2013).
Dentre os principais teóricos se destacam Andrew Linklater com sua teoria cosmopolita, e Hedley Bull e seus estudos sobre a ordem no sistema internacional. Vale aqui destacar aquele que foi professor de Bull e um dos primeiros a contribuir com a perspectiva da Escola Inglesa: Martin Wight (1913-1972). Tido com um dos teóricos mais influentes do século 20 para as Relações Internacionais, Wight desenvolveu estudos sobre o poder da política, desenvolvimento das teorias internacionais do ocidente, além de ter sido precursor da concepção de “sociedade internacional” (HALL, 2006).
Seu assunto central se voltou para o estudo do comportamento internacional dos estados e suas relações entre si, buscando com isso fenômenos de cooperação e conflitos na política internacional. Wight entendia a Teoria das Relações Internacionais como um estudo de filosofia política ou de especulação política. Tendo como objetivo em seu trabalho de aproximar-se da filosofia, o autor passou a pesquisar, organizar e categorizar todo material que remetia ao assunto da Política Internacional, colocando as questões morais na estruturação de seus trabalhos (OLIVEIRA, 2002 apud WIGHT, 2002 p. 13).
Dentre suas obras, “A Política do Poder” (2005) se destaca como uma das principais, nela o autor busca não servir como um guia para os acontecimentos breves da política internacional, mas dar ênfase nos pontos fundamentais e duradouros desta política. Assim a maior parte da obra se volta para a análise desses pontos, sua definição e classificação, estando presentes discussões sobre as potências, revoluções, anarquia internacional, a guerra e o equilíbrio de poder.
Oliveira (2005), responsável pelo prefácio de “A Política de Poder” (2005), afirmou que a partir da obra é possível identificar os seis traços duradouros do sistema internacional moderno, sendo estes: 1. a multiplicidade de Estados Soberanos; 2. o mútuo reconhecimento das soberanias; 3. a distribuição assimétrica de poder; 4. os mecanismo regulares de comunicação, permitindo a diplomacia; 5. um conjunto de normas jurídicas que regulam a vida internacional; 6. a defesa dos interesses em comuns entre os Estados.
Vale ressaltar que muitos dos trabalhos publicados de Martin Wight são obras póstumas, rascunhos e textos ainda em conclusão que foram editados e desenvolvidos por estudiosos, inclusive por seu aluno Hedley Bull, que teve grande influência do professor nos seus trabalhos de continuidade das pesquisas sobre o sistema internacional que Wight tanto prezava. Assim, o livro “International Relations and Political Philosophy” (2022), reúne uma série de textos desenvolvidos pelo autor, tais como discussões sobre a inexistência de uma teoria de Relações Internacionais; os valores das Relações Internacionais do ocidente; causas da guerra e indagações sobre a Política Internacional na modernidade.
Uma questão importante para Wight, é que ele não foi um pesquisador que buscou em seus trabalhos desenvolver um método de análise que pudesse resolver e ler como uma fórmula todos os desafios que a política internacional acarreta, pelo contrário, ele acreditava na constante movimentação do cenário, por isso nenhuma teoria poderia preencher tal posição. Também é refletido em suas obras, que se voltam para análise e categorização daquilo que seria duradouro e filosófico na sociedade internacional. Assim, seus estudos e seus postulados são de grande importância para o campo das Relações Internacionais, o entendimento de sua estrutura, história e foi um guia para desenvolvimento de análises dos desafios do sistema.
REFERÊNCIAS
HALL, Ian. The international thought of Martin Wight. Springer, 2006.
LINKLATER, Andrew. The English School. In: BURCHILL, Scott (org). Theories of international relations. Bloomsbury Publishing, 2013.
OLIVEIRA, Henrique Altemani. Prefácio. In: WIGHT, Martin. A política do poder. Ímprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.
WIGHT, Martin. A política do poder. Ímprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.
WIGHT, Martin. International Relations and Political Philosophy. Oxford University Press, 2022.
