
Tayse Santana, acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da Unama
Ficha Técnica:
Ano: 1968
Direção: Rogério Sganzerla
Gênero: Policial, Suspense
País de Origem: Brasil
Considerado uma obra marcante do “Cinema Marginal” brasileiro, muito conhecido por sua estética ousada e narrativas experimentais, “O bandido da luz vermelha” aborda em sua narrativa a questão do subdesenvolvimento do país e o terceiro mundismo, utilizando do cinema para construir uma forte crítica social. Contrariando o “cinema novo” que estava perdendo sua força com a chegada da ditadura militar, o longa foi lançado na época da ditadura militar pouco antes de se estabelecer o AI-5 (CAMPOS, 2017).
A trama é narrada por locutores que imitam os programas de rádio da época e é ambientada na “Boca do Lixo”, contando a história de um assaltante conhecido como “O bandido da luz vermelha”. Um criminoso que assustou as ruas de São Paulo nos anos de 1960, utilizando técnicas excêntricas para roubar casas de luxo, sempre acompanhado de uma lanterna vermelha, e tendo conversas longas com suas vítimas (CAMPOS, 2017). O mesmo roubava os ricos e gastava com extravagâncias, sendo até comparado com “Robin Hood”, até que seus crimes e roubos passam a chamar a atenção da mídia e das autoridades locais. Com personagens bem caricatos, o filme traz uma narrativa que faz críticas diretas à política e à sociedade, através de letreiros, locuções de rádio e jornais.
O filme, inicia com uma crítica ao “terceiro mundismo” através de um letreiro referindo-se aos personagens como “Os personagens não pertencem ao mundo, mas ao terceiro mundo” como uma forma de ironizar essa relação entre países do “Centro e Periferia” e a hostilidade dos países de primeiro mundo para com os países de terceiro mundo. Dessa maneira o longa, estabelece um grande debate político, extremamente instigante para sua época, criticando o subdesenvolvimentismo brasileiro, abordando a desigualdade social, marginalização e resistência de maneira que se relaciona com a Teoria pós-colonial das Relações Internacionais.
A Teoria Pós-Colonial surgiu na segunda metade do século XX como uma crítica ao colonialismo e ao imperialismo, e suas relações de poder, com estudos que refletiam a perspectiva de países não ocidentais e não hegemônicos dos povos que foram excluídos ao passar do tempo pelas principais potências (CAVALLARI; BALLESTRIN, 2014). Focando nas consequências culturais, sociais, políticas e econômicas do colonialismo, bem como nas formas de resistência e subversão desenvolvidas pelas comunidades colonizadas, nos levando a repensar diversos conceitos acerca do desenvolvimento socioeconômico nas áreas consideradas “periféricas” e “semiperiféricas”.
O Pós-Colonialismo foi um forte movimento na África e na América Latina, examinando as estruturas de poder que foram estabelecidas durante os períodos coloniais como o termo “Centro-Periferia”, onde os estados chamados de periféricos, só são considerados assim por conta da colonização, e da dependência econômica causada pelo imperialismo e sua exploração de recursos e escravização. E como essas estruturas continuam a influenciar as sociedades contemporâneas. Isso inclui questões como a marginalização de culturas, racismo sistêmico, a exploração econômica e a imposição de valores culturais e ideológicos (CASTRO, 2012).
Na América Latina, um autor de grande destaque foi Aníbal Quijano, o mesmo busca uma interpretação epistemológica da dominação do norte global sobre o sul global, e desenvolve o conceito de colonialidade, debatendo como o colonialismo desenvolveu uma relação de dominação direta sob os povos dominados (QUIJANO, 2005).
Ao desenvolver o conceito de “colonialidade do poder”, Quijano argumenta que as estruturas de poder colonial perpetuaram mesmo após a independência política das nações latino-americanas, e foram transformadas e incorporadas nas estruturas sociais, políticas e econômicas das sociedades pós-coloniais. Sendo a colonialidade referente à persistência dessas formas de dominação colonial, que permanece vivo e potente mesmo após a independência dos países colonizado que continuam a operar através de sistemas de classificação racial, exploração econômica e subordinação cultural (MAIA; DE MELO, 2020).
Em resumo, “O Bandido da Luz Vermelha” aborda fortemente temas que refletem a luta contra um sistema opressivo, e o constante descaso enfrentado pelo povo da “boca do lixo” ou até mesmo a própria sociedade brasileira que são constantemente marginalizados, assim, a trama pode ser vista como uma expressão cultural que debate muito os temas centrais da teoria pós-colonial das Relações Internacionais, sendo demasiadamente atual e importante para época em que foi lançado.
REFERÊNCIAS
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. Brasília: FUNAG, 2012.
CAVALLARI, Bruna; BALLESTRIN, Luciana Maria de Aragão. Pós-Colonialismo e Relações Internacionais: Diálogos, Críticas e Contribuições. ENPOS, 2014. Disponível em: https://cti.ufpel.edu.br/siepe/arquivos/2014/CH_02606.pdf
MAIA, Bruna Soraia Ribeiro; DE MELO Vico Dênis Sousa. A colonialidade do poder e suas subjetividades. Revista de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UFJF Teoria e Cultura, v. 15 n. 2, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/article/view/30132
CAMPOS, Fernando. Crítica | O Bandido da Luz Vermelha. Plano Crítico, 2017. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-o-bandido-da-luz-vermelha/
