
Marcelo Eduardo Alves de Brito – 3°
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Nas últimas décadas da história sul-americana, a cooperação entre os estados que sofrem com as sequelas da colonização e vivenciam a colonialidade ainda em suas realidades cotidianas, tornou-se uma questão de debate no Hemisfério Sul, como consequência, emergiu uma organização que objetiva ampliar os debates acerca de políticas sociais, saúde educação, infraestrutura e economia, contribuindo para a integração regional e cooperação entre os países sul-americanos em suas necessidades.
Sobre a influência do pensamento de Abade de Saint Pierre (2003), a UNASUL surge como uma oportunidade de organização cooperativa a favor do desenvolvimento dos países sul-americanos, em especial no âmbito econômico. Tendo em vista os desafios compartilhados entre esses estados, devido a uma estrutura internacional pautada na exploração dos recursos extraídos das terras sul-americanas e na manutenção da própria DIT (Divisão Internacional do Trabalho).
Formada em 2008, a Unasul contava com a participação dos 12 estados da América do Sul e tinha como objetivo promover a integração das duas uniões aduaneiras da América do Sul, o Mercosul e a Comunidade Andina. A proposta da Unasul, além do âmbito econômico, também enfatiza setores de interesse para os países sul-americanos como o social, cultural, científico-tecnológico e político.
O ano de 2017 para a Unasul foi marcado pelo início de uma crise que eventualmente culminou no desmonte da organização. Segundo Jaeger (2019), esta crise estava ligada às movimentações políticas regionais como a ascensão de governos conservadores alinhados aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos em conjunção à crise econômica que assolava a região e que enfraqueceu a capacidade de liderança regional do Brasil.
Sendo assim, há de se destacar que o paradigma construtivista oferece uma abordagem teórica interessante para a compreensão das dinâmicas envolvidas na Unasul. Primeiramente, é de nota que para os construtivistas, a identidade e os interesses dos Estados são moldados a partir da forma como estes interagem dentro do sistema internacional (WENDT, 1999). Nesse sentido, é possível cultivar relações de cooperação e busca por estabilidade dependendo da forma como os Estados percebem a si e a outros Estados (IBIDEM).
Para Wendt (1992), não apenas o comportamento, mas também as identidades e os interesses dos agentes são condicionados por estruturas sociais como a cultura e as instituições, portanto, a política do poder é uma construção social, produzida por um contexto um histórico de interações e que pode ser transformada com o passar do tempo. Ademais, dinâmicas internas de um país também são essenciais para definir como este se irá relacionar com outros países no sistema internacional.
O retorno de Lula à presidência trouxe a retomada da integração regional como uma prioridade de seu governo e com isso a reconstrução da Unasul (FERNANDES, I. F.; FERNANDES, G, 2024). Para os países da América do Sul, no campo da economia, a integração regional oferece uma oportunidade para a realização de projetos de desenvolvimento econômico e de enfrentamento de problemáticas em comum, como os altos índices de pobreza e a desigualdade social, com parceiros que, além da proximidade geográfica, reconhecem e compartilham a condição de periferia da economia internacional e a necessidade de superar as relações de trocas desiguais com o centro.
Além disso, o contexto atual de competição entre Estados Unidos e China impõe uma nova dinâmica a ser levada em consideração na América do Sul, uma vez que a potência asiática apresenta-se tanto como o maior parceiro comercial dos países sul-americanos ao mesmo passo em que produtos industrializados chineses competem com os produtos da América do Sul (IBIDEM). Nesse sentido, movimentações conduzidas por agentes do mercado no âmbito interno dos países podem influenciar nas políticas de integração regional.
Sendo assim, a UNASUL é o reflexo do sentimento cooperativo que existe na região da América do Sul, exercendo um papel fundamental na solução das problemáticas que envolvem o âmbito socioeconômico das nações sul-americanas, como o enfrentamento ao controle externo exercido pelas nações desenvolvidas, a desigualdade social que assola a população vigente, os altos índices de pobreza da região e o comprometimento a construção de vínculos comerciais com parceiros regionais, objetivando aumentar a arrecadação de seus produtos.
Contudo, dentre os desafios futuros que a UNASUL deve enfrentar, a China emerge como uma ameaça aos seus interesses, não apenas como uma nova nação hegemônica que deverá exercer seu poder e controle no cenário internacional, como também um novo adversário comercial a ser enfrentado, com isso a UNASUL alinha suas perspectivas e enfrenta os desafios em busca de um desenvolvimento econômico sul-americano.
Referências:
PIERRE, Abade de Saint. PROJETO PARA TORNAR PERPÉTUA A PAZ NA EUROPA. [S.l.]:Universidade de Brasília, 2003. Disponível em: https://sempreuninassau.sharepoint.com/:b:/r/sites/team_4.6.698803/Material%20de%20Aula/UNIDADE%20III%20%20-IDEALISMO%20CLASSICO/Abade%20Projeto_para_tornar_perpetua_a_paz_na_Europa.pdf?csf=1&web=1. Acesso em: 20 maio 2024.
JAEGER, B. C. Crise e colapso da UNASUL: o desmantelamento da integração sul-americana em tempos de ofensiva conservadora. Conjuntura Austral, [S. l.], v. 10, n. 49, p. 5–12, 2019. DOI: 10.22456/2178-8839.88358. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/ConjunturaAustral/article/view/88358. Acesso em: 31 maio. 2024.
FERNANDES, I. F.; FERNANDES, G. Retomada, protagonismo e equilíbrio: a política externa no novo governo Lula. CEBRI-Revista: Brazilian Journal of International Affairs, [S. l.], n. 9, p. 123–143, 2024. Disponível em: https://cebri-revista.emnuvens.com.br/revista/article/view/189. Acesso em: 31 maio. 2024.
WENDT, Alexander. Anarchy is What States Make of it:The Social Construction of Power Politics. International Organization, v.46, n.2, 1992
WENDT, Alexander. Social Theory of International Politics. Cambridge; Cambridge University Press, 1999.
