
Davi Soares Silva Souza – Acadêmico do 3° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Dentro do cenário mundial, podemos observar que as relações entre os Estados são fruto de decisões diplomáticas que acabam levando em consideração as repercussões de suas escolhas perante outros atores e agentes, como organizações internacionais, blocos econômicos e multinacionais. Essas repercussões quando julgadas podem influenciar ou não suas estratégias geopolíticas, exigindo uma análise cuidadosa antes de qualquer ação precipitada.
Nesse contexto, as organizações internacionais desempenham um papel crucial ao oferecer um espaço onde os Estados podem discutir e apresentar suas ações de interesse. Através da cooperação, os Estados podem implementar suas iniciativas sem prejudicar outros atores. A ONU, em particular, se posiciona como um lugar onde os países podem expressar apoio ou objeção a decisões específicas, com seus membros tendo a capacidade de bloquear movimentos considerados prejudiciais.
O Conselho de Segurança, uma das divisões mais importantes da ONU, desempenha um papel fundamental ao reunir seus membros para definir os rumos de guerras ou conflitos. Seus membros podem apresentar propostas de resolução, que são discutidas e votadas, visando alcançar um consenso e implementar ações concretas para a resolução de crises internacionais.
No entanto, ao observarmos o conflito entre Israel e Palestina, podemos identificar lacunas em suas estruturas legais que frequentemente prejudicam a política de cooperação. Membros permanentes do Conselho de Segurança, como os Estados Unidos, aliado de Israel, possuem maior poder decisório em comparação aos outros membros. O uso frequente do poder de veto por parte dos Estados Unidos, mais de 80 vezes até agora, tem blindado Israel contra decisões contrárias às suas políticas na guerra, exacerbando as tensões no conflito. (BBC, 2023)
Essa Falha estrutural permite que Israel adote uma abordagem unilateral em suas decisões geopolíticas. Como aliado dos Estados Unidos, Israel pode tomar ações estratégicas sem se preocupar com críticas externas ou consequências significativas. A aliança com os EUA não apenas fortalece a segurança de Israel contra ameaças regionais, mas também lhe confere uma proteção política e diplomática substancial no cenário internacional.
Um exemplo claro foi a continuidade da ofensiva militar em Rafah no dia 27 de maio, deixando pelo menos 40 mortos, mesmo após a Corte Internacional de Justiça ter ordenado, um dia antes, o fim dessa operação. Embora tais decisões sejam obrigatórias, necessitam da aprovação do Conselho de Segurança da ONU para serem efetivadas, onde os Estados Unidos possuem poder que pela 3 vez já foi usado contra um cessar-fogo do conflito, favorecendo que israel de continuidade a sua ofensiva, destacando novamente capacidade de influência desproporcional dos membros permanentes. (PODER360, 2024) (CARTACAPITAL, 2024)
Através desse conflito e dessa aliança podemos observar uma clara tentativa de garantir a hegemonia na região por parte de Israel e dos Estados Unidos. Ao manterem essa aliança, ambos se destacam entre outras potências e possíveis ameaças. Segundo John Mearsheimer em sua obra “The Tragedy of Great Power Politics” (2001), a hegemonia regional é de suma importância para os estados em um sistema internacional anárquico, onde constantes ameaças à soberania são enfrentadas. Isso pode levar à adoção de políticas agressivas e expansionistas, refletindo os princípios do realismo ofensivo e, eventualmente, tornando a guerra inexorável.
Ao observarmos o processo de aliança internacional, podemos notar uma certa ambiguidade em relação às vantagens na dinâmica mundial, especialmente no caso de Israel, que ao se aliar aos Estados Unidos, obteve uma vantagem significativa em comparação aos outros países da região. Seguindo os pressupostos básicos da teoria realista, vale destacar o conceito de “bandwagoning” de Kenneth Waltz em “Theory of International Politics” (1979) no qual um estado mais fraco se alia a um mais forte visando vantagens estratégicas.
Israel, como um estado relativamente mais fraco em termos de recursos comparativos e tamanho territorial em relação aos EUA, optou por se aliar a esta potência global dominante, para garantir sua segurança e obter suporte militar, político e econômico significativo. Assim, é por meio dessa aliança estratégica que Israel consegue praticar seu unilateralismo, e consequentemente sua ofensiva em Rafah.
Por outro lado, os Estados Unidos aumentam sua influência no Oriente Médio ao fortalecer sua aliança com Israel. Esta parceria oferece aos EUA um ponto geopoliticamente estratégico, permitindo-lhes buscar recursos energéticos, combater o terrorismo e reduzir o fluxo de refugiados. Além disso, Israel é considerado o “maior porta-aviões” dos EUA na região, devido à sua localização crítica para a segurança nacional americana. A ONU se torna um meio poderoso para a manutenção dessas estratégias, pois, com o apoio de Israel e seu poder de veto, os EUA conseguem garantir seus interesses de forma legal dentro das brechas do Conselho de Segurança. (BBC, 2023)
É crucial então discutir como a política dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU está impactando um conflito que dura há anos, com ataques intensamente contestados muito antes do incidente em Rafah, onde essas investidas têm ocorrido com frequência. Outrossim, vale salientar o papel dessa aliança de Israel com os Estados Unidos que oferece uma proteção significativa para continuidade das ofensivas, desde que essa política dos EUA e seus outros membros permanentes se sobressair sobre qualquer decisão mantenha essas lacunas.
REFERENCIAS:
Corte Internacional de Justiça Ordena que Israel Interrompa Operações em Rafah. CARTACAPITAL, 2024, 24 de maio. Disponível em:
Israel ataca Rafah 1 dia após tribunal da ONU condenar ação na região. PODER 360, 2024, 25 de maio. Disponível em:
Por que os EUA apoiam Israel?. BBC NEWS BRASIL, 2023, 11 de outubro. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgl3jnpz7dyo
EUA vetam pela terceira vez resolução no Conselho de Segurança para cessar-fogo em Gaza. BRASIL DE FATO, 2024, 20 de fevereiro. Disponível em:
MEARSHEIMER, J. John. A Tragédia da Política das Grandes Potências. Editora: Gradiva, 2007
WALTZ, Kenneth Neal. Theory of international politics. Boston: McGraw, 1979.
