Gabriele Nascimento (acadêmica do 1º semestre de RI da UNAMA)

Keity Oliveira e Lara Lima (acadêmicas do 7º semestre de RI da UNAMA)

A Amazônia é a maior floresta do mundo, e desempenha um papel crucial na manutenção do equilíbrio ambiental global (Smith, 2023). No entanto, vem enfrentando atividades ilegais exploratórias constantemente como o desmatamento e queimadas. Para lidar com esses desafios, os pesquisadores têm buscado diversas soluções, entre elas o uso da inteligência artificial (IA), que tem se mostrado muito eficaz na fiscalização e combate ao desmatamento.

A inteligência é capaz de analisar grandes volumes de dados de satélites e outras fontes, criando mapas detalhados da situação da floresta e monitorando áreas que podem ser desmatadas no futuro. Além disso, pode rastrear garimpos e madeireiras ilegais, além de outras atividades suspeitas. No entanto, apesar dos benefícios, o uso da Inteligência Artificial assim como pode gerar oportunidades, também pode apresentar ameaças as quais serão discorridas ao longo do texto.

A Amazônia sofre, historicamente, com a exploração de suas riquezas naturais, por parte de grileiros, garimpeiros, madeireiros, com o agronegócio e agropecuária, que se utilizam do fogo para provocar queimadas e converter, a floresta degradada, em áreas de cultivo ou pastagem. No entanto, a luta ambiental vem ganhando força e buscando por novas formas de combate, a exemplo: as Inteligências Artificiais (IA), as quais têm potências para contribuir positivamente e negativamente com a causa.

Em primeira análise, segundo dados produzidos por pesquisadores e coordenadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental na Amazônia) entre 1985 e 2023, a Amazônia e o Cerrado tiveram cerca de 171 milhões de hectares queimados, no qual a Amazônia detém 42% do território queimado, cerca de 7,1 milhões de hectares anuais (IPAM, 2024). Nesse sentido, essas áreas são degradadas tendo como precursor a ótica mercadológica da agropecuária e do agronegócio, os quais visam o lucro acima da proteção ambiental e das comunidades que vivem naquela região.

Nessa perspectiva, segundo o pesquisador Felipe Martenexan, em entrevista para o IPAM Amazônia:

“Queimadas frequentes em biomas florestais como a Amazônia levantam sérias preocupações ecológicas e ambientais, degradando a vegetação nativa, comprometendo a biodiversidade e a recuperação dos ecossistemas […] Práticas agrícolas inadequadas, desmatamento e mudanças climáticas são fatores que contribuem para esse ciclo de degradação.” (IPAM, 2024).

É nesse contexto que se situa a utilização da Inteligência Artificial, a qual pode contribuir, positivamente, detectando fontes de queimadas, desmatamento, ação de garimpeiros, invasão de terras demarcadas como território de povos tradicionais, etc. Consequentemente, dar maior possibilidade de combate e erradicação de atividades ilegais na Amazônia e em outros biomas.

Uma iniciativa que se destaca é a PrevisIA, criada e lançada em conjunto pela Microsoft, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Fundo Vale. O sistema PrevisIA, utiliza a inteligência artificial para detectar territórios que apresentam riscos de desmatamento na Amazônia, ou seja, a ferramenta tem como objetivo prevenir o desflorestamento da Amazônia, o qual contribui decisivamente para alterações climáticas e mudanças na temperatura da região. Conforme dados do sistema, o Estado do Pará é líder em 2024, no ranking dos estados da Amazônia legal que demonstram riscos desmatamento, apresentando cerca de 3.438,86 km² de área de risco (PrevisIA, 2024).

Por meio de imagens de satélites e topografias, a plataforma faz a análise e identificação de diferentes tipos de territórios ameaçados, incluindo Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação e as informações são repassadas para os organismos públicos que atuam dentro desse cenário para a criação de ações preventivas. Sendo assim, por meio do uso de Tecnologia da Informação, de forma democratizada, a plataforma permitiu o engajamento de diversos usuários, tendo seu acesso aberto ao público e permitindo o controle do desmatamento.

Além disso, a iniciativa SERVIR-Amazônia, iniciada em 2005, é uma parceria entre a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos Estados Unidos, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Aliança Internacional da Biodiversidade e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que objetivaram unir órgãos responsáveis e a população de informações e ferramentas que ajudem a manter a conservação da floresta em pé (Servir-Amazônia, [s.d]).

A iniciativa conjunta foi criada com o intuito de promover o uso de informações fornecidas por satélites de observação da Terra e de tecnologias geoespaciais no desenvolvimento de soluções acessíveis. Através da investigação contínua, é obtido informações que colaboram para a elaboração de políticas e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e a proteção às comunidades tradicionais.

No ano passado, foram lançados mais quatro novos projetos que contam com uma base de dados internacional, estudos científicos e modelos matemáticos que fundamentam o processo decisório em torno da conservação da região, auxiliando no monitoramento das dinâmicas na mudança do uso de solo, dimensão do estoque de carbono das florestas, além da frequência e impacto das chuvas no território amazônico.

Um último projeto que merece destaque é o “Digitais da Floresta”, iniciativa anunciada no ano passado pelo Google com a The Nature Conservancy (TNC) no Brasil, que combina tecnologia à bioquímica com o intuito de rastrear a origem da madeira comercializada a partir da Amazônia, sendo possível identificar através da plataforma de inteligência, se um produto é feito de madeira ilegal (Esquer, 2023).

Nos dias atuais, a ilegalidade chega a quase 40% da exploração madeireira na Amazônia, conforme dados da Rede Simex (Prizibisczki, 2022) e a partir do projeto, será possível fazer essa identificação com base na composição química e isotópica das árvores nativas. A ideia é que a plataforma de inteligência seja disponibilizada via web e aplicativo no final do projeto, para que qualquer pessoa ou entidade possa acessar e monitorar zonas de desmatamento. Conforme o Google, os dados serão apresentados de forma simplificada, para que seja facilmente utilizados por consumidores, empresas, organizações ambientais, além das autoridades para coibir crimes ambientais, entre outros (Esquer, 2023).

Apesar de ainda não haver uma data oficial para o lançamento da plataforma, a assessoria da TNC Brasil afirmou que os pesquisadores estão trabalhando para que esse ano já se tenha a primeira versão da ferramenta para ser divulgada ao público.

Outrossim, o uso de inteligência artificial também pode apresentar potenciais ameaças, uma vez que usada indevidamente, pode atingir questões de privacidade das comunidades locais. A inteligência artificial tem capacidade de analisar uma grande quantidade de dados simultaneamente, ela é usada para formular escolhas e para customizar o uso em determinado aparelho. No entanto, o uso de algoritmos pode influenciar massas a consumo exagerado, o que é prejudicial ao meio ambiente quando se leva em consideração o descarte exagerado de lixo.

Além disso, por mais que o uso de inteligência artificial esteja modificando o mercado de trabalho reduzindo, por vezes, o custo da produção, isso não é benéfico para a população visto que pode reduzir os cargos de trabalho.

Ademais, a tecnologia da IA pode ser utilizada como uma ameaça com o uso das fake news (notícias falsas) e os deepfakes, formas de manipulação que alteram de forma convincente notícias e é feita por meio da Inteligência Artificial, produzindo resultados impressionantes que conseguem desafiar a manutenção da verdade. A tecnologia da IA permite edições quase perfeitas que muitas vezes dificultam a diferenciação do verdadeiro e do falso, proporcionando a confiança em informações equivocadas que podem ser utilizar de diferentes meios com o propósito de se atingir objetivos específicos como políticos, comerciais ou individuais que podem ser reverberados tanto no campo nacional, quanto internacional de um determinado Estado.

Portanto, a integração de tecnologias e técnicas de inovação relacionadas ao uso de Inteligência Artificial estão cada vez mais permitindo um novo olhar para as problemáticas ambientais como o desmatamento e as mudanças climáticas, no qual se inclui também o uso de satélites, dados geoespaciais e sistemas de sensoriamento, já utilizados no Brasil pelo Imazon e pelo Inpe. O uso das tecnologias está diretamente associável ao fato de possuir caminhos que podem ser utilizados como oportunidades ou ameaças, nas quais se destacam os fatores apresentados ao longo do texto.

Sendo assim, ao se optar pelo uso ou não uso das tecnologias, é imprescindível que tais tecnologias sejam usadas de forma consciente e legal, comprometidas com a preservação da fauna e flora amazônica, e que considerem as vivências das comunidades tradicionais que a habitam. Dessa forma, a ciência aliada a tecnologia, poderá representar um novo meio de superação da exploração estrutural do neoliberalismo na Amazônia.

Diante do tema exposto, se recomenda o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), centro de Pesquisa em Engenharia, criado em 2015, na Universidade de São Paulo (USP) com financiamento da Fapesp e da Shell. As pesquisas do RCGI são focadas em inovações que possibilitem ao Brasil atingir os compromissos assumidos no Acordo de Paris, no âmbito das NDCs – Nationally Determined Contributions. O centro conta com um total de 400 pesquisadores e está na vanguarda dos esforços contra as mudanças climáticas, utilizando-se da pesquisa e ciência para isso. Para mais informações, acesse:

Site: < https://sites.usp.br/rcgi/ >

Instagram: < https://www.instagram.com/rcgipage/ >

Facebook: < https://www.facebook.com/GasInnovation/?fref=ts >

X: < https://twitter.com/rcgipage >

É indicado também o trabalho do Instituto Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), nascido em 1995, uma ONG brasileira que contribui com ações para a conservação do meio ambiente, melhorando e mantendo a qualidade de vida de trabalhadores rurais, populações tradicionais, indígenas, quilombolas, agricultores familiares, entre outros. A Imaflora está associada a diversas pesquisas e projetos relacionados ao uso de tecnologias na Amazônia e trabalha para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Para mais informações, acesse:

Site: < https://www.imaflora.org/ >

Instagram: < https://www.instagram.com/imaflorabrasil/ >

Facebook: < https://www.facebook.com/imaflora >

X: < https://twitter.com/imaflora/ >

Por fim, se ressalta os estudos feitos pelo Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS), criado pelo Instituto Sustentável Mamirauá, que tem como principais objetivos, a contribuição para o desenvolvimento regional, melhoria da qualidade de vida das pessoas, possibilitando o emprego de tecnologias sustentáveis na conservação dos recursos naturais, além do fornecimento de subsídios à implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento humano. Para mais informações, acesse:

Site com os estudos publicados pelo GPIDATS: < https://www.mamiraua.org.br/gp-inovacao >

Site do Instituto Mamirauá: < https://www.mamiraua.org.br/ >

Instagram do Instituto Mamirauá: < https://www.instagram.com/institutomamiraua/ >

REFERÊNCIAS

ALTINO, Lucas. Entenda como a inteligência artificial ajuda na proteção do meio ambiente. O Globo. Publicado em: 22 de abril de 2024. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/um-so-planeta/noticia/2024/04/22/ativismo-verde-com-cerebro-digital-ambientalistas-recorrem-a-ia-para-monitorar-desmatamento-rastrear-madeira-ilegal-e-identificar-baleias.ghtml >. Acesso em: 22 de junho de 2024.

ESQUER, Michael. Inteligência artificial e bioquímica a serviço da Amazônia. (o)eco. Publicado em: 05 de abril de 2023. Disponível em: < https://oeco.org.br/noticias/inteligencia-artificial-e-bioquimica-a-servico-da-amazonia/ > Acesso em: 22 de junho de 2024.

GALVÃO, Maria Bethânia; OLIVEIRA, Keity Silva de. A ciência e tecnologia como aliadas para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. 2021. Internacional da Amazônia. Disponível em: https://internacionaldaamazonia.com/2021/12/14/a-ciencia-e-tecnologia-como-aliadas-para-o-desenvolvimento-sustentavel-na-amazonia/. Acesso em: 21 jun. 2024

GUARALDO, Lucas. Fogo queimou quase 200 milhões de hectares do Brasil nos últimos 39 anos. 2024. IPAM Amazônia. Disponível em: https://ipam.org.br/fogo-queimou-quase-200-milhoes-de-hectares-do-brasil-nos-ultimos-39-anos/. Acesso em: 21 jun. 2024.

PrevisIA. Área sob risco de desmatamento na Amazônia. Disponível em: < https://previsia.org.br/ >. Acesso em: 21 jun. 2024.

PRIZIBISCZKI, Cristiane. Ilegalidade chega a quase 40% da exploração de madeira na Amazônia, mostra estudo. (o)eco. Publicado em: 30 de setembro de 2022. Disponível em: < https://oeco.org.br/noticias/ilegalidade-chega-a-quase-40-da-exploracao-de-madeira-na-amazonia-mostra-estudo/ > Acesso em: 22 de junho de 2024.

SERVIR-AMAZÔNIA. O programa SERVIR-Amazônia. [s.d]. Disponível em: < https://servir.alliancebioversityciat.org/sobre-o-servir-amazonia/?lang=pt-br > Acesso em: 22 de junho de 2024.

SMITH, Elliott. A inteligência artificial pode ser a chave para a preservação da Floresta Amazônica. News Microsoft. Publicado em: 06 de setembro de 2023. Disponível em: < https://news.microsoft.com/source/latam/features/ia-pt-br/amazonia-ia-floresta-desmatamento/?lang=pt-br >. Acesso em: 22 de junho de 2024.