
Lucas Cardoso acadêmico do 3° Semestre de Relações Internacionais da UNAMA.
No mundo contemporâneo, as relações internacionais têm sido cada vez mais influenciadas por elementos culturais e sociais. Um exemplo fascinante dessa interseção é o Eurovision Song Contest, um evento anual que une países europeus em uma competição musical emocionante. Além de celebrar a diversidade musical e cultural, o Eurovision também serve como um microcosmo das dinâmicas geopolíticas e diplomáticas entre as nações participantes. Inicialmente, exploraremos como o estudo do Eurovision pode oferecer insights valiosos sobre as relações internacionais, revelando nuances políticas, sociais e culturais que transcendem as fronteiras nacionais.
O construtivismo destaca a importância das ideias, identidades e normas na formação das políticas e das relações entre os Estados. Ele argumenta que as interações entre os atores internacionais são moldadas por percepções compartilhadas, normas e discursos, e não apenas por interesses materiais ou poder. Isso significa que as crenças e valores dos Estados, bem como as normas e instituições internacionais, desempenham um papel fundamental na maneira como eles interagem e cooperam no cenário global.
O evento teve sua origem na fundação da União Europeia de Radiodifusão (UER) em 1950. A UER foi criada como uma organização que reunia os pioneiros da radiodifusão da Europa Ocidental. Seu principal objetivo era promover a união e fortalecer os laços entre os diferentes países europeus após o término da Segunda Guerra Mundial, buscando estabelecer uma plataforma comum para a comunicação e a troca cultural entre as nações de acordo com o site EBU.
Em 1955, os organismos de radiodifusão membros da UER tiveram ideia de lançar um evento para pôr em destaque a UER e promover a rede de televisão Eurovision. Após a conversa dos diretores de televisão da Itália e Suíça para a criação de um programa televisivo dedicado à canção, com base no modelo do festival italiano de Sanremo. O projeto ganhou força até ser finalmente adotado em outubro do mesmo ano por todos os membros da UER. A Eurovision foi transmitida ao vivo e em simultâneo por todos os organismos de radiodifusão participantes. No final da transmissão o País que obtivesse mais pontos seria o vencedor. A primeira edição aconteceu em maio de 1956 De acordo com o Eurovision. Participando países da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) mais a Suíça.
As regras da primeira edição eram bem diferentes das seguintes edições a partir de 1957 cada candidato só podia interpretar uma música, um ano mais tarde o país vencedor foi incumbido de organizar a próxima edição. Ao longo dos anos, novos países se juntaram à participação, por vezes apresentando artistas que futuramente seriam conhecidos como os Suecos ABBA vencedores em 1977 e a quebequense Céline Dion representando a Suíça em 1988.
Outro elemento chave para entender os desdobramentos políticos da competição é o sistema de votação onde países votam em outros por proximidade cultural como Grécia e Chipre o “voto vizinho” que é utilizado entre os ex-membros da URSS e Iugoslávia.
O evento já foi palco de disputas políticas intensas como a recusa da participação de Marrocos em 1981 e do Líbano em 2005 pela presença de Israel e a advertência aos representantes da Islândia por usarem faixas pró-Palestina em 2019 e um dos mais recentes casos foi a exclusão da Rússia da competição pela UER após a invasão à Ucrânia e diversos protestos pedindo a expulsão de Israel após a invasão na Faixa de Gaza e com diversas alegações que Israel usa a competição como propaganda do governo de forma explícita algo que foi barrado também Belarus com letras pró governo Lukashenko em 2021
Segundo Dean Vuletic (2018) destaca que o Eurovision, além das tensões geopolíticas, reflete outras questões importantes. Desde a revogação da regra de canções na língua nacional em 1999, a diversidade linguística diminuiu. O tema é polêmico, pois alguns países acreditam que a regra beneficiava o Reino Unido e a Irlanda. De 2000 a 2021, apenas dois vencedores cantaram em idiomas nacionais, enquanto a maioria usou inglês ou uma mistura de inglês com outra língua. Entre 1978 e 1999, houve 13 vencedores que cantaram no idioma oficial de seus países.
A edição desse ano que é a 68ª aconteceu na cidade de Malmö na Suécia com a participação de 37 países 2 fora do continente como Israel (desde 1973) e a Austrália (desde 2015) tem três dias de apresentação com intervalo de um dia cada 2 semifinais 31 países passam pelas semifinais a primeira com 15 e a segunda com 16, o país sede mais a Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido se classificam automaticamente por serem os maiores contribuintes do Evento.
No construtivismo, teóricos como Alexander Wendt e Nicholas Onuf enfatizam que as ideias, identidades e normas são fundamentais na formação das relações internacionais. O Eurovision ilustra isso, já que as performances e músicas frequentemente refletem as identidades culturais dos países participantes, enquanto o processo de votação expressa normas e relações sociais influenciadas por fatores históricos, políticos e culturais. O Eurovision, portanto, fornece perspectivas sobre como as interações entre os países são influenciadas por esses elementos-chave do construtivismo nas relações internacionais.
Alguns representantes de países na competição Eurovision enviam mensagens em suas músicas. O campeão suíço Nemo discute quebrar “códigos” sociais por ser não-binário e se descobrir.
vice-campeão croata aborda o êxodo rural e a fuga de cérebros em seu país, o representante lituano Silvester canta em seu idioma nativo sobre autoconhecimento emocional e com uma proposta de dar uma visibilidade maior sobre a cultura lituana.
A cantora sérvia simboliza o ressurgimento do país após a Primeira Guerra Mundial com a música “Ramonda” que é uma flor nativa de seu país natal que cresce nas montanhas.
O Eurovision Song Contest é um reflexo das relações internacionais, influenciado por elementos culturais, sociais e políticos. A competição, analisada sob a perspectiva do construtivismo, mostra como identidades e normas culturais moldam as interações entre os Estados. Além de celebrar a diversidade, o Eurovision também evidencia tensões e alianças geopolíticas, servindo como uma plataforma para a expressão das identidades nacionais e para a promoção da compreensão entre as nações.
Referências:
https://www.ebu.ch/about/history Acesso em 9 de maio de 2024
https://eurovision.tv/history/origins-of-eurovision Acesso em 10 maio de 2024
Eurovision e a política internacional. Babel, 6 maio 2019. Disponível em: https://babel.webhostusp.sti.usp.br/. Acesso em: 10 maio 2024.
VULETIC, Dean. *Postwar Europe and the Eurovision Song Contest*. London: Bloomsbury Academic, 2018.
WENDT, Alexander. *Social Theory of International Politics*. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
Onuf, N. G. *World of our making: rules and rule in social theory and international relations*. 1st ed. New York: Routledge, 2013.
