Por Ana Clara Duarte, acadêmica do 2º semestre de Relações Internacionais da Unama.

A Revolução Industrial marcou uma transformação significativa na produção industrial e no consumo de recursos naturais. De acordo com Eric J. Hobsbawm, este período representou uma mudança radical nos modos de produção, levando ao aumento exponencial da extração de matérias-primas e à intensificação da exploração dos recursos naturais disponíveis. O conceito de desenvolvimento sustentável, que começou a ganhar força após a Segunda Guerra Mundial, visa integrar as dimensões econômica, social e ambiental de maneira equilibrada. Este novo paradigma de desenvolvimento foi formalizado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992, também conhecida como Rio-92 ou Cúpula da Terra (ONU, 1992).

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada em 2015, representa um compromisso global entre 193 países para alcançar metas específicas com a finalidade de promover um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável. Em “Organização das Nações Unidas (ONU) (2015)Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” afirma-se que esses objetivos visam não apenas eliminar a pobreza, mas também promover a igualdade, combater a injustiça social e enfrentar os desafios das mudanças climáticas.  

Segundo Keohane e Joseph Nye, a interdependência complexa é uma característica das relações internacionais contemporâneas, na qual os estados e outros atores são interdependentes em múltiplas áreas. Os ODS refletem essa interdependência, abordando questões que requerem soluções coletivas, como a saúde global, o desenvolvimento sustentável e a mitigação das mudanças climáticas. Keohane acredita que a cooperação internacional pode gerar benefícios mútuos. Os ODS são projetados para beneficiar todos os países, promovendo um desenvolvimento sustentável que pode melhorar a qualidade de vida globalmente, reduzir a pobreza e proteger o meio ambiente.

Esses objetivos não somente beneficiam países individualmente, mas também fortalecem a segurança e a estabilidade internacional ao abordar causas fundamentais de conflito e instabilidade. Assim, os ODS são parte de uma agenda para o desenvolvimento, mas também um marco para promover a cooperação global em prol de um futuro sustentável e equitativo para todos os habitantes do planeta, alinhando-se com a visão de Keohane sobre a importância da interdependência e da cooperação internacional na política mundial contemporânea.

Entretanto, faltando apenasseis anos para o prazo estabelecido, o atual progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) está consideravelmente aquém do necessário. O Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2024, lançado em 28 de junho, adverte que, sem investimentos substanciais e ações em larga escala, a realização dos ODS  permanecerá incerta. O relatório revela que apenas 17% das metas dos ODS estão atualmente em trajetória adequada para serem alcançadas, enquanto quase metade demonstra progresso mínimo ou moderado, e mais de um terço está estagnado ou retrocedendo. Os impactos contínuos da pandemia de COVID-19, o aumento de conflitos, as tensões geopolíticas e os desafios climáticos crescentes têm exacerbado significativamente essa falta de progresso. 

A iminente Cúpula do Futuro, agendada para os dias 22 e 23 de setembro de 2024,  na sede da ONU em Nova Iorque, emergirá como um evento crucial para realinhar o mundo na trajetória adequada para alcançar os ODS. As deliberações na Cúpula abordarão temas críticos, como a crise da dívida que continua a impedir o avanço de muitos países em desenvolvimento, além da necessidade urgente de reforma na arquitetura financeira internacional. Conforme destacado pelo Sr. Li, “O tempo para meras palavras já passou – as declarações políticas devem se traduzir urgentemente em ações concretas. É imperativo agir agora e de forma decisiva”. (Nações Unidas Brasil. 2024). 

Referências:

ONU alerta: o mundo não está cumprindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nações Unidas, 2024

https://brasil.un.org/pt-br/272903-onu-alerta-o-mundo-n%C3%A3o-est%C3%A1-cumprindo-os-objetivos-de-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel Acesso em 09 de julho de 2024. 

Ações do MEC cobrem todas as dez metas globais do ODS 4. Governo Federal, 2024.

https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2024/junho/acoes-do-mec-cobrem-todas-as-dez-metas-globais-do-ods-4 Acesso em 09 de julho de 2024.

 ODS: Brasil enfrenta grave retrocesso nas metas para o desenvolvimento sustentável, aponta Relatório Luz. Act!onaid, 2023.

https://actionaid.org.br/na_midia/ods-brasil-enfrenta-grave-retrocesso-nas-metas-para-o-desenvolvimento-sustentavel-aponta-relatorio-luz/ Acesso em 08 de julho de 2024.

Comissão Nacional para os ODS discute prioridades para implementação da Agenda 2030 no Brasil. PNUD – United Nations Development Programme, 2024

https://www.undp.org/pt/brazil/news/comissao-nacional-para-os-ods-discute-prioridades-para-implementacao-da-agenda-2030-no-brasil Acesso em 09 de julho de 2024.

Keohane, R. O., & Nye, J. S. Power and Interdependence: World Politics in Transition. Little, Brown and Company, 1997.