
Julia Castro, acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais
Ficha Técnica:
Ano: 2022
Diretor: Ti West
Distribuição: A24
Gênero: Terror Psicológico
País de Origem: Estados Unidos
Spin-off de “X – A Marca da Morte”, também dirigido por Ti West, “Pearl” gira em torno de uma jovem camponesa, apaixonada pela dança e pelo cinema. Sonhando uma vida glamourosa mas tendo seus desejos negados, ela começa a enlouquecer e a ter impulsos assassinos (AdoroCinema, 2022). A trama é uma prequel e explora a juventude da personagem-título, a qual aparece já como uma idosa assassina-em-série na sequência “X”.
A história se passa em 1918, no Texas, durante a pandemia de gripe espanhola e o final da Primeira Guerra Mundial. Pearl é uma jovem que vive com seus pais imigrantes alemães em sua fazenda, na ausência de seu marido, Howard, que serve no exército. Seu pai é enfermo e paralisado, enquanto sua mãe, Ruth, é severa e controladora. Pearl sonha em escapar dessa vida para se tornar uma estrela de cinema, sendo motivada pelos filmes que vê no cinema local, porém sua realidade é dominada pelas duras condições da fazenda e pela obrigação de cuidar de seu pai, sob a vigilância rígida de sua mãe. Enquanto cuida da fazenda, Pearl começa a desenvolver impulsos violentos, que são exacerbados quando ela conhece um projecionista de cinema.
Pearl descobre um concurso de talentos que oferece uma oportunidade de se tornar uma dançarina de coro e vê isso como sua chance de escapar. No entanto, as tensões em casa aumentam quando Ruth descobre os planos de Pearl e tenta impedi-la. A luta entre mãe e filha se intensifica, culminando em um confronto violento. À medida que Pearl se entrega cada vez mais a seus impulsos, ela comete uma série de atos violentos, incluindo o assassinato de pessoas que ela acredita estarem em seu caminho e machucando-a. Sua busca incessante por liberdade a leva a uma espiral de loucura e destruição.
“Pearl” explora temas de repressão, desejo e a busca desesperada por uma vida diferente, mostrando como essas forças podem levar a atos de extrema violência. A partir dessas temáticas, podemos relacionar o filme com as Relações Internacionais a partir da Escola de Frankfurt. Na obra “Eros e a Civilização”, de Herbert Marcuse, o autor explora como a sociedade reprime os desejos e instintos humanos para manter a ordem social, levando a um profundo conflito interno e ao colapso emocional (MARCUSE, 1982). Pearl é uma jovem reprimida por sua família e pelo contexto social em que vive, tendo suas aspirações artísticas e desejos pessoais constantemente sufocados. A sua luta para se libertar dessas restrições remete às críticas de Marcuse à repressão social.
Marcuse argumenta que a repressão da libido é um elemento central na organização e manutenção da sociedade civilizada: “A repressão da libido não apenas limita o prazer individual, mas também reforça as estruturas de poder e controle social. A renúncia ao prazer sexual é compensada por formas substitutivas de gratificação que servem para manter a conformidade com a ordem estabelecida” (MARCUSE, 1981). No filme, a protagonista tem que reprimir seus desejos libidinais em prol das responsabilidades impostas por sua família, resultando em uma destruição da sua energia interna. Sua eventual explosão de violência foi resultado de uma libido não expressa de maneira saudável, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Em suma, a obra cinematográfica mostra como normas e práticas disciplinam os indivíduos, garantindo a conformidade com a ordem estabelecida. Apesar de “Pearl” se passar na década de 1910, uma época muito mais conservadora, os pontos abordados na narrativa mostram como o pensamento de Marcuse sobre repressão e liberdade também pode ser aplicado para entender as dinâmicas de poder e controle nas Relações Internacionais nos dias atuais.
REFERÊNCIAS:
PEARL. 2022. AdoroCinema. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-302679/
MARCUSE, Herbert. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Tradução por Álvaro Cabral. 8. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 232 p. (Série Filosofia). Tradução de: Eros and civilization a philosophical inquiry into Freud.
