
Ana Gabriela de Souza e Silva
3° semestre
Desde o início da história, guerras vêm sendo travadas, seja para conquistar territórios ou para demonstrar poder. Santo Agostinho falava de guerras justas e injustas, sendo a primeira, guerras defensivas que visavam a paz, justiça e a ordem e a segunda, chamada de guerras de conquista, que eram guiadas pela ambição, atrocidades e profanação de templos. (OLIVEIRA, 2013).
Luís XIV (1636 – 1715), o Rei Sol como gostava de ser conhecido na época do Absolutismo e de seu reinado na França, contou em “Memórias”, que consistia em inscritos que narrou para deixar a seu filho Luís, o Grande Delfim (1661 – 1711), que se fosse necessário guerrear que seja em uma guerra justa, porém, que prefira conseguir o que quer por meios diplomáticos (OLIVEIRA, 2013). Entretanto ele próprio com seu gosto pela glória e poder, esqueceu os meios diplomáticos, vendo a guerra como um meio de manter-se no topo (ibid.).
Nesse sentido, em Relações Internacionais há dois pensadores clássicos que podem nos guiar para compreender tais atitudes de Luís XIV, são eles Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes no qual falam sobre governantes e Estado, em como manter-se no poder e em como este ente tem “vontade própria” (CHEVALLIER, 1999). Para Maquiavel, aquele que detivesse a arte da guerra, seja os que nasceram simples ou príncipes, se a possuírem “perfeitamente, eis o meio de elevar-se ao poder.” (MAQUIAVEL, 1513, apud CHEVALLIER, 1999, p. 26).
Além disso, Maquiavel acreditava que era importante o governante ter em si o que ele chamou de virtú e fortuna, isto é, o vigor e potencial pessoal, aliado a um conjunto de situações que são favoráveis a ele, permitindo que triunfe, isso se souber aproveitar o que lhe foi dado (CHEVALLIER, 1999).
Hobbes via a sociedade com olhos temerosos, acreditava que o homem em seu estado natural promove a anarquia, ou seja, uma sociedade sem regras ou ordem, sem um comando central que coordene tudo, todavia, para não cair nesse abismo, os homens precisam de um ser forte o suficiente para conter sua natureza má (CHEVALLIER, 1999). Segundo ele, o Estado pode conter o homem e suas más tendências, comparando-o ao monstro mitológico, Leviatã (ibid.). Assim, o homem abdicaria de sua liberdade e obedeceria ao comando do Estado, sendo este representado pela figura do rei (CHEVALLIER, 1999).
Nessa lógica, O absolutismo foi um sistema político que predominou principalmente na Europa do século XVI ao XIX, sendo mais forte na França, caracterizando-se pelo poder absoluto do rei, onde nem a igreja ou a nobreza tinham força para dar ordens (ROMÃO, 2018), já que, pelas crenças da época, o poder do monarca vinha de Deus, sendo ele um representante da vontade divina.
Durante a menoridade de Luís XIV, quem governava era o primeiro ministro, o cardeal Mazarino. Nessa época, houve a Fronda, uma guerra civil (1648 – 1653), onde uma parte da nobreza, incluindo primos de Luís XIV e a burguesia, insuflaram no povo um descontentamento com a coroa. Quando Mazarino morreu, Luís XIV assumiu o poder e conseguiu acalmar os ânimos dos súditos, porém, nunca perdoou a alta nobreza e seus primos em particular, por terem participado da Fronda, o que contribuiu para que o absolutismo fosse mais forte na França (OLIVEIRA, 2013).
Possuindo um forte exército, Luís XIV começa a Guerra de Devolução (1667 – 1668) e posteriormente, a Guerra da Holanda (1672 – 1678) e a tomada de Estrasburgo (1681), para diminuir o poder dos Habsburgos da Áustria. Sempre tomando cuidado em informar a seu povo o que fazia, comunicou que essas batalhas eram para a defesa das “fronteiras do reino contra futuros ataques dos inimigos” (OLIVEIRA, 2013).
No auge do absolutismo francês, Luís XIV havia conquistado muito, seu prestígio, glória e poder aumentaram consideravelmente, ao contrário de seu grande inimigo e primo-cunhado, Imperador Leopoldo I, o Habsburgo da Áustria (OLIVEIRA, 2013). Mas apesar de ter conseguido muito, também perdeu muito, durante a Guerra da Liga de Augsburgo, seu povo passava por uma grande miséria. Luís XIV apenas conseguiu sair da guerra mediante um acordo muito desfavorável, onde teve que desistir de grande parte dos territórios conquistados durante a guerra (ibid.).
Mesmo passando por essa situação crítica, o rei, para melhorar sua imagem perante os franceses, continuava fazendo grandes festas e todos eram convidados, para ele, essas festas e momentos de descontração, tinham grande importância política (OLIVEIRA, 2013). Dessa forma os súditos se sentiriam mais próximos dele, levando-os a amá-lo e a aceitarem bem suas vontades e desígnios, e também é uma forma de mostrar aos outros países a força e a prosperidade do reino e daquele que o comanda (ibid.).
Apesar de seu fim não ter sido tão majestoso como gostaria, Luís XIV tinha força política e foi muito importante para o crescimento da França na época. Em síntese, conseguiu manter-se bem no poder, com o povo do seu lado, mesmo em momentos de miséria, no qual ele soube fazer algo que Maquiavel julgava ser uma das tarefas mais difíceis que foi se manter no poder e com a aprovação do povo, dominou a arte da guerra acompanhado de fortuna e virtú.
Por fim, como explica Hobbes, se o Leviatã não cuida de seu povo, o contrato é desfeito e ele perde sua força e poder perante os súditos, voltando para o estado de natureza (CHEVALLIER, 1999). Analogamente, Luís XIV foi então o Leviatã de Hobbes, visto que não havia poder acima dele, sabia que parte dos deveres de um rei era cuidar de seu povo, houveram momentos em que ele os distraía com festas, porém, sabia que se tivesse grande desaprovação sua glória e honra seriam afetadas, bem como de sua família (OLIVEIRA, 2013).
Referências:
CHEVALLIER, Jean-Jacques. As Grandes Obras Políticas: de Maquiavel a Nossos Dias. 8° edição, Rio de Janeiro: Agir. 1999.
OLIVEIRA, Maria Isabel Barbosa de Morais. As Guerras em Prol da Glória de Luís XIV. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufcat.edu.br/Opsis/article/view/19980/15183 Acessado em: 02/07/24.
ROMÃO, Rui Bertrand. Absolutismo. 2018. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&opi=89978449&url=https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/118246/2/306625.pdf&ved=2ahUKEwiSgZa1uJOHAxUFppUCHQyVBVU4ChAWegQIDRAB&usg=AOvVaw0b4kxacJ5bbUKHiYJrkOgH Acessado em: 03/07/24.
