Julia Castro, acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais 

Ficha Técnica: 

Ano: 2022

Diretor: Todd Field

Distribuição: Focus Features

Gênero: Drama

Países de Origem: Estados Unidos, Alemanha

Indicado a seis categorias do Oscar e fortemente aclamado pela crítica, a obra cinematográfica mostra a história de Lydia Tár, uma renomada maestrina, que após ser acusada de má conduta com seus alunos, enfrenta desafios tanto na sua vida profissional quanto pessoal (ADOROCINEMA, 2022). Com diálogos e atuações impecáveis, o filme também propõe discussões sobre a cultura do cancelamento em seu diálogo mais icônico: “O arquiteto de sua mente é a rede social”. 

A narrativa se passa em Berlim, na Alemanha e gira em torno de Lydia Tár, a primeira mulher a se tornar diretora principal de uma grande orquestra alemã. Reconhecida mundialmente por seu talento e genialidade musical, ela está no auge de sua carreira, preparando-se para realizar uma performance ao vivo da desafiadora Quinta Sinfonia de Mahler e lançar um livro. Lydia é uma pessoa extremamente rígida e perfeccionista, cuja busca incessante pela perfeição começa a revelar comportamentos abusivos e manipuladores. Ela possui um histórico de relações problemáticas e de abuso de poder, especialmente com mulheres jovens aspirantes a musicistas. Esses problemas começam a escalar quando uma antiga estudante deixa uma série de e-mails que implicam Lydia em um comportamento impróprio e autoritário. Este incidente leva a uma investigação e a um escândalo público que abala a reputação e a carreira da maestrina. Suas relações pessoais também são afetadas, incluindo o relacionamento com sua parceira e a filha adotiva.

O longa-metragem explora a natureza corrosiva do poder, mostrando como a autoridade pode ser usada de forma abusiva e as consequências dessas ações. Portanto, o filme se relaciona perfeitamente com o pensamento de Maquiavel, presente no realismo clássico das Relações Internacionais. Na obra “O Príncipe”, Maquiavel enfatiza que um líder deve estar constantemente preocupado com a aquisição e a manutenção do poder, sendo capaz de manipular as circunstâncias e as pessoas a seu favor: “Os fins justificam os meios” (MAQUIAVEL, 1996). No filme, Lydia Tár demonstra uma busca constante pelo poder e pelo controle dentro do cenário da música clássica, podendo ser vista como uma representação de um ator poderoso no cenário internacional.

Maquiavel afirma que uma das principais maneiras de conquistar e perder o poder político se dá por meio da virtú e da fortuna. A virtú expressa a capacidade do governante agir conforme o que for necessário para a manutenção do Estado, mesmo que isso prejudique a sua relação com seu povo. Já a fortuna se refere ao acaso, os eventos imprevisíveis que podem afetar o sucesso de um líder (BORGES, 2014). No caso de Lydia Tár, seu talento excepcional como compositora e suas habilidades para controlar sua equipe a ajudam a alcançar uma posição elevada na orquestra, refletindo a virtú. Mas a sua fortuna se manifesta através dos escândalos e crises pessoais, expondo suas limitações e culminando em sua subsequente queda.

Em suma, “Tár” oferece uma reflexão profunda sobre a natureza do poder e suas complexidades. Através da protagonista, podemos focar nos conceitos de liderança, manipulação e ética que são centrais na obra de Maquiavel. Dessa forma, ao analisar as ações e as consequências das escolhas de Lydia, podemos compreender melhor como o poder e a autoridade são exercidos e percebidos no cenário internacional.

REFERÊNCIAS:

BORGES, R. Luiza. Política em Maquiavel e Espinosa; 2014; Iniciação Científica; (Graduando em Direito) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Maria Julia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 

Tár. AdoroCinema. 2022. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-291967/